Capítulo 21

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Depois daquele sábado de festa e um domingo na casa do Senhor – com Filippo ainda distante, convenhamos – a segunda-feira chegou. Isa e a família já haviam ido embora naquele fim de semana também, nos deixando com o coração apertado de saudade. Esperava que ela voltasse logo, porém, já perto de ter o bebê ela não viria tão cedo, a menos que algo urgente acontecesse.

Mas o que poderia acontecer na monótona vila de Aurélia?

Naquela manhã, me dirigi junto com o Alfredo (meu coelhinho que estava tão pesado para caminhar que teve que ser levado nos braços) até a casa da Jane, disposta a seguir os conselhos de Isa. Afinal, um dia fomos amigas de escola e seria muita falta de educação minha não a visitar, mesmo que nossa amizade tenha acabado de forma inesperada.

Cheguei a pequena casa de faixada branca e azul, rodeada de cercas de madeira, com um belo jardim dentro delas. Não é novidade que a tia da Jane, dona Viviane, cuida das beldades que eram as flores com muito empenho. Bati na porta branca de madeira da pequena residência e rapidamente fui atendida. A senhora Alba, avó da Jane, veio me receber sorridente como sempre. Sua pele desgastada pelo tempo, assim como a cor dos seus cabelos, não conseguiram apagar a simpatia e alegria da senhorinha.

— Emma, minha querida! — falou e me puxou para dentro, com suas mãos já não tão firmes. — Que alegria receber sua visita, filha. Faz tempo que não vem aqui!

— Minha vida andou um pouco agitada por esses tempos, peço desculpas. — A doce senhorinha abanou as mãos, como se meu ato não a tivesse chateado de fato. — Onde está a Jane e dona Viviane? — indaguei sentando no sofá, indicado por ela.

— Ah, minha filha. — Ela suspirou sentando em sua poltrona, parceira de longas datas. — Viviane aparece já, está nos fundos lavando umas roupas. A Jane está no quarto, como sempre — disse virando o rosto em direção ao corredor, com um olhar cansado.

Dona Alba já estava tão avançada em idade, não deveria estar tendo preocupações com a neta assim. O que será que há com a Jane? Terei que descobrir.

— Ela nunca sai de lá? — Procurei saber com ar desinteressado. Bom, ao menos tentei demonstrar isso.

— Apenas para as refeições diárias, que mal são consumidas. Minha menina está tão magrinha. Mal come e às vezes escuto seus gemidos à noite, enquanto dorme. Mas, ela não nos conta o motivo de estar nesse estado tão apático — Alba proferiu pensativa. No entanto, logo pareceu despertar para minha presença em sua frente e abriu um sorriso. — E você? Como está seu pai?

Despertei das minhas divagações sobre a Jane ao ouvir a pergunta da senhorinha. Porém, minha mente trabalhava mais que pneu de caminhão para entender sobre a jovem doente no quarto, fazendo eu responder qualquer coisa.

Continuamos conversando por mais um tempo, até que dona Viviane chegou. Ao me ver a mulher me deu um abraço apertado e partiu para a cozinha, indo buscar um bolo de cenoura que havia feito aquela manhã, com um café que havia acabado de ser passado. Não recusei. Viviane era conhecida na vila por ter "mãos de fada" na cozinha. Ela também sempre procurava me impressionar e me abordar para conversar quando me via. Embora gostasse dela, tanta atenção por vezes me sufocava.

Enquanto comíamos, não conseguia parar de pensar num jeito de saber mais sobre o que aconteceu com a Jane.

— Senhora Alba, a Jane já terminou a faculdade de música? — indaguei, buscando informações da vida antiga da garota.

— Sim! — Ela tomou alguns goles do seu café calmamente. Eu agitava as pernas enquanto esperava. — Jane se formou com honras, já estava trabalhando dando aulas em uma escola de música cristã. Seus tios nunca reclamaram nada dela pra mim. Apenas quando... — ela parou de falar e minha curiosidade explodiu. — Quando a viram reclusa demais, até pra ela que já costumava ser introvertida. Então logo adoeceu e voltou para a vila.

Até Te Encontrar (Uma releitura de Emma)Onde histórias criam vida. Descubra agora