Capítulo 25

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"Quando te vi senti algo estranho por dentro
Uma mescla de medo com loucura
E seus olhos, juro que se os perdo
Terei perdido a maior fortuna"
(Para aprender a quererte - Morat)

🐇🐇🐇

Era uma sexta-feira, o dia seguinte da minha conversa com o Martin e do dia que não fui mais a mesma. Um diálogo tão simples abriu minha mente de uma maneira inexplicável. Deus enviou o Martinho no momento certo, bem como fez com Lutero para tirar as vendas dos olhos do povo acerca da suficiência das Escrituras.

Naquele dia eu me debulhei em oração aos pés do Senhor e fui dormir com o coração em paz. A paz que excede todo o entendimento. A paz que não é uma mera emoção, mas fruto da confiança em Cristo Jesus.

Meu coração estava tranquilo, mas meu corpo não teve a mesma sorte. Acordei naquela manhã de sexta-feira passando extremamente mal. A ânsia de vômito me acometia num mal-estar que não ia embora. Passei metade do dia na cama, com febre e dor de cabeça, além de toda vermelha por alguma irritação que não sabia a fonte. Dona Taty e papai iam a todo momento me observar, creio que constatando que ainda estava viva.

— Filhinha, como se sente? — disse seu Jorge entrando pela décima vez no meu quarto, dentro de pouco mais de uma hora, trazendo mais um remédio que tomei de prontidão.

Já deve ter uma farmácia em minha barriga.

— Ainda na mesma, papai — respondi forçadamente, sentindo uma moleza descomunal, enquanto me agarrava mais ao casaco-moletom de Filippo.

Ele esqueceu comigo desde o dia do acampamento com os jovens e eu não tive coragem de devolver.

— Como ficou mal assim, filha? — Ele balançou a cabeça em reprovação. Papai não aguentava ver ninguém doente. — Era de se esperar, você não está se alimentando direito por esses dias. Vou pedir à senhora Taty para fazer um mingau, logo você está novinha em folha — ele proferiu e sentou a beirada da minha cama, tocando em meu braço para chamar minha atenção.

— Não fala em mingau que me dá ânsia, papai — emiti fraca, puxando o moletom até o nariz.

— De quem é esse casaco, querida? — ele indagou com a face confusa.

— Do Filippo, pai.

Hum! — Arqueou uma sobrancelha de maneira estranha. — Acho que você deveria ligar pra ele.

— Ele não quer saber de mim. Então, não tem porquê eu fazer isso — declarei e senti uma pontada no coração.

— Ora, que conversa é essa, Emma? O Filippo não para de me ligar perguntando do seu estado. Só não entendi ainda o porquê ele não vem aqui — seu Jorge exprimiu pensativo e eu arregalei os olhos tanto quanto pude.

Como assim ele não para de ligar perguntando sobre mim?

— Ele... Ele está em contato com o senhor? — perguntei ainda chocada.

— Sim! E já tem umas semanas que ele me pergunta de você. — Me fitou como se fosse óbvio. Mas para mim não era nada evidente essa preocupação. — Olha, eu não sei o que houve entre vocês, porém vai se resolver. Vocês não conseguem ficar separados, filhinha.

— Papai, eu sempre acredito no senhor, mas dessa vez está difícil. O Filippo está muito distante e agora nós brigamos por qualquer coisa — expliquei lembrando dos últimos acontecimentos.

— Isso é normal, desde que reconheçam seus erros e se arrependam. Olha, eu e sua mãe brigávamos muito também. Com o tempo fomos amadurecendo e descobrindo que um dos segredos do casamento é aprender a aceitar as diferenças. Tem horas que precisaremos deixar a nossa teimosia e vontade de estar sempre com a razão, tudo isso em prol da harmonia. São dois pecadores com criações e cabeças opostas, querida. Nunca será perfeito, mas tem que haver respeito. — Ele deu duas batidinhas leves em minha mão, repousada sobre a roupa do meu amigo.

Até Te Encontrar (Uma releitura de Emma)Onde histórias criam vida. Descubra agora