Luísa acorda, mas Poliana já tinha ido pra escola. Ela se arruma e vai até a mesa do café, onde encontra Otto. Ela se senta longe do homem e se serve.
– Luísa, me desculpa por ontem. Eu estava irritado.
– Tá. – Responde seca
Depois deles terminarem o café, Luísa se levanta.
– Estou saindo.
– Onde você vai?
Luísa faz uma cara de poucos amigos para o homem.
– Desculpa, eu tô no automático. Não precisa responder se não quiser. – Tenta corrigir
– Tudo bem, eu vou pra padaria. Vou conversar com meu irmão.
– Eu posso te dar uma carona vou ir em uma empresa que é do lado.
– Acho melhor não. – Diz a mulher firme
– Ah... Luísa... vamos lá, é só uma carona.
– Eu quero ir fazer uma caminhada também... então...
– Minha presença é tão desprezível assim?
– Sinceramente? – Pergunta séria
Otto se vira novamente para seu café da manhã e Luísa sai da casa.
***
Luísa tinha ido a uma cafeteria no final da tarde com Marcelo e já eram sete da noite e eles estavam sentados em um banco em frente a uma loja de roupas.Conversa vai, conversa vem. Pelo incrível que pareça eles estavam tendo uma conversa civilizada.
Passa-se mais uma hora e Marcelo deixa Luísa na porta da casa do Otto. Se despendido com um beijo, Luísa vê Otto chegando em casa a pé com o Bob.
Ela sai do carro e entra junto com ele, sem lhe destinar nenhuma palavra.
Estando já na sala de estar, ela pergunta:
– Você deixou a Poliana sozinha?
– Eu só fui buscar uma pizza na pizzaria aqui do lado. Calma.
– Eu tô calma! Por que você sempre acha que eu tô irritada?! – Exclama e se retira
***
Passa-se uma semana e nesse meio tempo Luísa e Marcelo voltaram a ficar distantes um do outro.
Era um sábado a tarde, Otto estava trabalhando com o seu notebook na mesa de estar, Luísa no quarto e Poliana com Lorena e João na padaria.
Luísa sentia um tédio tremendo, todas as pendências do trabalho já tinham sido resolvidas e só restava o nada.
A mulher se levanta e vai até a varanda. Seus pensamentos se confundem, irmã... linda casa... não quero nem pensar...
***
– E então, minha irmã, o que achou da casa? – Questionava Alice ainda com uma prancheta em mãos
– Linda casa, mas... prefiro a nossa.
Alice solta um risinho.
– Prefere é?
– Prefiro, não quero nem pensar o que vai ser de mim quando vossa senhoria for embora.
– Lu, que drama, vamos ser vizinhas.
– Isso se aquele seu noivo não te prender aqui. Você já viu a cara de louco?
Alice ri.
– Vou nem comentar sobre.
– Melhor, vamos voltar pro casamento... Já decidiu o bolo?
***
Luísa solta um sorriso genuíno ao lembrar da irmã. Alice fazia falta, e pensar que se algumas coisas tivessem sido diferentes ela poderia ter tido um tratamento e melhorado. Não é fácil lidar com algo destrutivo que poderia ter sido evitado.
Ela sai da sacada e vê as telas que Otto havia lhe dado. Por mais que ela negasse, sempre teve vontade de voltar a pintar, por mais que não fossem obras resplandecentes e sim algo amargurado.
Luísa vai e monta o cavalete, as telas, as tintas.
Um pincel fino, tons de azul, se pintava um céu da hora da misericórdia, quente, ensolarado. Mais para frente se desenrolava nas mãos duas mulheres. Ruiva, trajava um vestido laranjado, sandálias leves, cabelo ao vento. Morena, calça jeans, camisa branca, sapatilhas apertando seus pés. Logo via-se um cômodo, não sei dizer se era uma casa, um apartamento ou até um andar de um edifício empresarial.
Luísa termina o quadro em algumas horas, ela estava ansiosa, por isso a pressa, não fica perfeito, não fica uma obra de exposição, mas os traços são simples e esbanjam suavidade, coisa que a muito tempo Luísa tinha perdido. Talvez isso seja, na realidade, uma mentira. Não existe paz, a paz é uma pausa para a turbulência, ela sempre chega. Cruel. Trágica. E sem ela? O que nos resta? Talvez acharei um lugar onde eu possa contemplar esta pausa em sua plenitude. E não, eu não acredito em vida eterna.
Luísa olha o quadro, sente um saudosismo prazeroso, como se algum dia pudesse matar essa saudade. Não é e nunca foi fácil perder pessoas. Não é necessário citar essa lista.
A arte traz uma paz para aquela que sabe que a obra só vai morrer quando o mundo acabar, eu imagino que não vai ser daqui dois dias. Não tem a angústia de saber se irá ou não ficar bem, se poderá ou não estar junto dela. A arte não fere, não machuca, não foge, não morre.
Num sorriso saudoso, Luísa se levanta e vai até a cozinha. Pega um copo d'água e toma andando até a sala onde vê Otto em uma reunião, ele estava inquieto, o clima, a expressão dos demais empresários não estava boa. Luísa sai sem fazer barulho em direção a cozinha. Ao chegar lá, deixa o copo na pia e se vira. Ao se virar vê Otto indo até o armário de remédios.
– Tá tudo bem? – Questiona a mulher lavando as mãos
– Por enquanto não. Dor de cabeça. – Diz e logo engole o remédio no seco
Luísa vendo, pega um copo d'água e dá ao homem.
– Quer morrer engasgado? – Pergunta descontraída
– Acho que não. – Responde em um tom amigável, mas tenso
– Percebi o clima. Passei por perto... o que aconteceu?
– Desconfianças, traições... por aí vai.
– Complicado.
– É.
Depois daquelas duas horas sem fim terem acabado pra Otto, ele se levanta e anda até seu quarto. No meio do caminho vê a porta de Luísa entreaberta e ela de frente a uma tela.
Mesmo depois de horas de tortura, aquilo parecida cair bem ao humor do homem. Ele se preocupava com o bem-estar da moça, talvez até de mais. Por que? Não sei.
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I need to be saved - luotto
RomanceDepois de tanto tempo em São Paulo após a morte dos pais, Poliana nunca pensaria que o seu pai biológico estaria na grande capital, ou melhor, ela nunca pensaria que o seu pai de criação não é seu pai biológico. Por sorte, ela já o conhecia, eram am...