O Acidente

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Durante o ano letivo é normal que os adolescentes planejem mil e uma coisas para fazer nas férias, a maioria delas junto com os amigos. Seja fazer uma noite do filme na casa do amigos com a maior televisão ou viajar com os mais afortunados que não se importam em gastar rios de dinheiro em bebidas com alto teor alcóolico.

No caso de Mariana, depois de muita insistência, a viajem para o litoral brasileiro foi concretizada, no entanto sem a parte dos amigos "afortunados". Os dez dias que a garota passou com os amigos de infância foram completamente caóticos, o grupo trocava refeições por petiscos na praia e o dia pela noite. Claramente as consequências não foram tão agradáveis: uma virose lascada e o resto do mês completamente lisos de dinheiro. Sem contar no inferno pessoal de Mariana, que mal conseguia deitar na cama por conta da queimadura de sol que ela jurava que ia se tornar um lindo bronzeado dourado antes das aulas voltarem.

Ela ainda se lembrava de olhar no espelho no oitavo dia de praia e se assustar com a vermelhidão em seus ombros e bochechas. Sua mãe, Marcia, recomendou que ela virasse a louca do hidratante Nivea e se ensebasse completamente todos os dias, o que fez com que sua amiga se recusasse a dividir um edredom com ela.

Tirando isso, ela podia dizer que foram dias muitos felizes, em que ela se sentiu livre e completamente renovada.

Mas agora, de volta em casa tudo pareceu passar rápido demais. Um dia ela estava tomando um caldo no mar e enchendo seu biquini de areia e no outro estava sozinha em casa porque seus pais decidiram viajar de ultima hora para um "momento de casal". Desde que ela não ganhasse um irmão Mariana não poderia se importar menos.

Sua ideia era chamar os amigos para sua casa todos os dias e fingir que era um adulta responsável que morava sozinha e não uma adolescente de 18 anos que dormia com um canivete aberto em cima de sua mesa no quarto.

No entanto, a virose que ela já havia superado pegou pesado no resto do grupo. Luís continuava dizendo que a culpa era dela por oferecer "queijinho de praia" e Ana Clara só faltava usar fraldas.

"Já era meu sonho de princesa" Foi o que Mariana disse depois de uma semana trancada dentro de casa, cansada até do próprio rosto (que agora estava voltando a uma cor normal de pele bronzeada).

Seu dia se resumia em: assistir algum filme ruim, ficar irritada porque ele era ruim, comer alguma gororoba feita por ela (que gostava de comer mas odiava cozinhar), ler algum "livro de garota" que na verdade era uma série de histórias sobre crime e mulheres loucas e escutar Baco Exu do Blues na caixinha de som.

Naquela quarta-feira além de sua rotina habitual de desempregada, ela resolveu que iria ficar completamente obcecada por sua aparência. Ela fez as unhas, as sobrancelhas, hidratou os cabelos ondulados cumpridos e ficou se olhando no espelho até ficar com medo do próprio reflexo. No início da noite ela resolveu se dedicar e fazer um jantar digno de que taurina, mas a consequência foi uma pia cheia de louças.

É claro que a pizza de champignon estava divina, mas será que realmente valeu a bagunça? Ela já estava cansada depois de arrumar aquela cabeleira toda e agora ainda ia ter que lavar a louça.

- Que porra, vai se foder!- Mariana praguejou.

Ela já estava terminando e isso que importava. Depois de enxaguar o ultimo talher ela poderia simplesmente escovar os dentes e dormir no ar-condicionado geladinho. Sem nenhuma preocupação nem ninguém pra encher o saco dela. Era a quarta-feira de spa e descanso mental.

BOOM!

-CARALHO!- Mariana falou junto com uma voz masculina vindo de fora de sua casa.

Seu primeiro instinto foi parar o que estava fazendo e congelar no meio da cozinha meio iluminada. Seu coração batia rápido e ela já imaginou o pior.

Os dois lados da rua (Conto lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora