Os dois lados da rua (Conto lésbico)

A confissão

Dias antes

Os garotos e Bárbara costumavam se reunir na casa de Pedro quase todos os dias durante as férias. Desde que se conheceram, no ensino fundamental, era assim.

Eles não faziam nada em específico, quando se convive sempre com as mesmas pessoas você acaba ficando confortável o suficiente para somente existir um ao lado do outro. Volta e meia eles se jogavam no sofá da sala de Pedro e ficavam conversando, falando besteira e muitas vezes agindo como se ainda tivessem treze anos de idade.

Quando queriam se divertir um pouco iam para festas de conhecidos que sempre estavam dispostos a encher a casa de gente e escutar música alta até que o sol nascesse.

Bárbara gostava disso. Da tranquilidade de poder sair com seus amigos e saber que eles iriam a defender de homens esquisitos, mas que também poderia falar merda com eles e conversar sobre meninas e como elas eram bonitas.

Era mais um dia banal como os outros das férias, e para falar a verdade Bárbara não via a hora das aulas voltarem para que ela tivesse mais o que fazer.

-...Ela terminou o namoro e precisa de um ombro amigo, e eu estarei aqui pra ajudar ela se ela precisar...-Breno disse, com malícia por "finalmente" ter uma chance com Paty, que havia dado um pé na bunda do namorado traidor.

-Cara, você não perde uma. Se liga, ela não gosta de loiros...-Gustavo disse e estufou o peito para parecer maior.- Ela gosta do moreno aqui...

Os garotos caíram na gargalhada mas Pedro percebeu que Bárbara estava calada fazia um tempo. Estavam todos no quarto dele e a garota estava na cama, com as pernas apoiadas na parede, de cabeça para baixo.

-Deixa eu ver isso aí...-O garoto tomou o celular de Bárbara rapidamente, antes que a garota pudesse segura-lo com mais firmeza.- Opaaa!!

Pedro segurou o celular na frente do seu rosto e deu risada com o que viu na tela. Os outros dois meninos se juntaram atrás dele para xeretar também, mas a dona do celular não moveu um dedo para levantar da cama. Sabia que ia ser em vão e não estava com energia o suficiente para, mais uma vez, correr pela casa atrás do seu celular como já havia acontecido.

-Puta que pariu, não vai me dizer que você tá esse tempo todo só olhando o Instagram da Mari?!- Gustavo disse e gargalhou com a mão no peito, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo, chegou até a jogar a cabeça para trás em um ato cómico.

-Obvio que ela tava, a Bá nunca vai deixar de ser apaixonadinha pela Senhorita Mal Humorada.- Breno disse e se jogou na cama junto com a amiga. A garota odiou ser o centro das atenções e cobriu o rosto com o travesseiro.

Não era a primeira vez que aquilo acontecia, ela nunca nem precisou contar para os amigos que era apaixonada por Mariana, eles sempre perceberam a maneira que ela tentava chamar a atenção da própria vizinha e eram amigos bons o suficiente para manter em segredo. Talvez porque Bárbara literalmente os ameaçou com uma faca quando eles a questionaram pela primeira vez.

Era bonitinho até, eles a incentivavam a ir atrás da menina e faziam de tudo para aumentar a expectativa da garota. Mas Mariana era, aparentemente, o ponto fraco de Bárbara, a garota era marrenta e cheia de sí mas sua vizinha a deixava envergonhada e ela se recusava a ser direta e flertar com ela.

-Por que vocês não podem simplesmente me deixar em paz? Isso é humilhante...- Bárbara disse com a voz abafada pelo travesseiro.

-Humilhante é você ficar babando na foto dela enquanto a garota tá viajando com os amigos. Olha, você tem duas opções: ou você toma uma atitude e seduz ela, ou você se força a desapaixonar porque ela pode estar em uma suruba com os amigos nesse exato momento.- Gustavo disse, gesticulando como se tivesse toda a certeza do mundo. Bárbara tirou o travesseiro do rosto e o olhou com cara feia.