O mal entendido

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Quando Mariana tinha onze anos de idade ela passava a tarde toda fora de casa. Poderia ser no balé, que ela ia apenas por obrigação e consideração a sua mãe, na piscina de sua melhor amiga ou brincando com as crianças vizinhas.

O grupinho da bagunça era consistido por Mariana, Joana, Italo e Gabriel. Eles viviam grudados, dividiam todos os brinquedos e acabavam com o sossego da rua. Era gritaria pra todo lado, principalmente quando a vizinha da casa da frente decidia se juntar.

Ela quase nunca saía de casa, Mariana a via muitas vezes na janela do quarto, mas a garota raramente descia para brincar. Todo mundo gostava muito dela, principalmente os meninos. Eles tinham brinquedos iguais, riam das mesmas coisas, as vezes vestiam as mesmas roupas e pregavam peças nas meninas do mesmo jeito.

Ao mesmo tempo que Mariana achava ela engraçada, ela sentia um incômodo com a presença da garota de cabelos escuros. Talvez fosse inveja da facilidade que ela tinha de fazer amizade com todo mundo ou porque a menina se vestia de um jeito esquisito e sempre tentava abraçar Mariana depois de ficar com a roupa grudada no corpo de tanto suar.

A menina, a qual ela já havia se desentendido algumas vezes, insistia em ficar grudada em Mariana sempre que as crianças estavam juntas. Enchia de apelidos e piadinhas idiotas, mas Mariana não conseguia relaxar e depois de anos soube que o nome para o que ela sentia era "ansiedade".

Teve um dia especifico que Mariana nunca iria esquecer. Ela estava assistindo televisão na sala quando alguém bateu na porta. Ela olhou pela janela da cozinha e viu sua vizinha plantada na frente de sua casa. A menina usava um short estampado super brega e uma camiseta de super herói, seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo apertado e sua bochechas vermelhas.

"Abre aí, fofolete"

Agh, aquele apelido idiota...

Mariana abriu a porta e foi encarada pela menina a sua frente, elas ficaram em silêncio até Mariana cruzar os braços e chamar a atenção da outra menina.

"Você pode brincar agora? Ninguém mais pode e minha mãe fez bolo de chocolate"

Bárbara perguntou, imitando Mariana e cruzando os braços na frente do seu corpo.

"Tá bom, mas vai ser de boneca!"

A menina de cabelos ondulados disse e juntou algumas Barbies do chão enquanto avisava sua mãe que ia sair de casa.

Ela mal teve tempo de fechar a porta antes que Bárbara a puxasse pelo braço e atravessasse a rua correndo.

Primeiro, as duas lancharam. Sentaram na mesa da cozinha e comeram metade do bolo de chocolate e beberam uma garrafa toda se suco de uva. A conversa era típica de criança, Bárbara falava coisas que faziam Mariana dar risada e as vezes fazer cara de nojo mas no geral elas se davam muito bem. Bárbara era uma matraca e despertava o lado mais extrovertido de Mariana.

Elas logo começaram a brincar de boneca. A velha história de um casal, formado pela Barbie bem cuidada de Mariana e o Max Steel esfolado de Bárbara, foi encenada por um bom tempo até Bárbara perder a paciência.

"Por que eu tenho que ser o homem? Eu não gosto disso."

"Porque o boneco é seu, ué"

"Mas eu também quero ser o boneca, Mariana, isso não é justo."

"Mas eu não quero ser o homem..."

As duas se encaram por um tempo até que Bárbara sorriu e coçou a garganta antes de falar.

"Que tal...Nós duas sermos as mulheres?''

" Então vai ser uma historinha de amigas? E nossos filhos?"

Os dois lados da rua (Conto lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora