VOTEM E COMENTEM, AMORES
Quando Bárbara tinha apenas oito anos de idade ela se envolveu em sua primeira encrenca na escola.
No terceiro ano do fundamental existe uma regra imposta pela escola que qualquer mal entendido entre os alunos, seja resolvido pelos professores. As crianças reclamam para o adulto, ele da uma lição de moral e tecnicamente tudo fica resolvido.
No entanto com Bárbara era diferente. Ela não entendia porque deveria falar com a professora para que ela falasse com a raiz do problema. Não era mais fácil ela mesma resolver? Sem contar que o espírito de vingança sempre esteve presente na menina. Em seus olhos escuros assim como seus cabelos e seu sorriso travesso de criança problemática.
Ela ainda se lembrava que era uma manhã de terça-feira quando tudo aconteceu. A professora, que ela nem sequer lembrava o nome, separou a sala em grupos para que os alunos recortassem figuras de revistas para fazer uma colagem em seguida. Bárbara ficou com os meninos, mas desde sempre foi assim, ela nunca soube porque tinha dificuldade para fazer amizade com garotas, mas quando era pequena já havia escutado uma conversa de suas colegas de classe a chamando de nojenta.
Foi divertido recortar as figuras, tirando a parte que a professora vigiava a garota para ter certeza que ela não ia furar alguém com a tesoura sem ponta. Seu grupo fez uma bagunça no chão da sala e enquanto recolhiam os papeis para jogar no lixo, escutou uma conversa do outro lado da sala.
"Ele é tão lindo, acho que vou morrer!" Umas voz feminina disse.
Ao reconhecer a voz, Bárbara parou o que estava fazendo e passou a prestar atenção na conversa das meninas.
"Não acredito que você achou um poster do Justin! Que sortuda..." A outra garota disse, fingindo não estar chateada.
"É um sinal do universo, a gente vai casar e ter cinco filhos. Todos loirinhos, eu amo tanto cabelo claro..." A menina com o cabelo trançado e cílios cumpridos disse.
Como se fosse reflexo, Bárbara colocou a mão em seu cabelo escuro como a noite e se sentiu diferente. Ela nunca havia prestado muita atenção em seus cabelos, na verdade eles sempre estavam um pouco bagunçados e ela nunca deixava sua mãe cortar. Mas naquele momento ela desejou ter cabelo loiro.
Não sabia dizer se tinha sido só isso, mas alguma coisa fez com que ela se revoltasse e seu sangue borbulhasse. Mal pode pensar quando as palavras saíram da sua boca.
"Eu acho o Justin Bieber muito feio, ele parece uma garotinha esquisita." Ela gritou e a sala ficou em silêncio.
"Você é uma garotinha esquisita!" A outra menina respondeu.
"Não sou, eu não sou esquisita! Bobona." Bárbara gritou de novo e sentiu seu peito subir e descer rápido. Era como se ela estivesse sem ar e tentava segurar o choro para não passar vergonha na sala de aula. Seus punhos estavam cerrados e ela foi em direção e mesa da menina.
"Vai me bater, Bárbara?" A menina provocou.
"Garotas venham até minha mesa, vamos ter uma conversa séria sobre respeito." A professora frouxa disse.
"Respeito o caralho!" A garota de oito anos disse e todos da sala começaram a dar risada do palavrão.
"Sai daqui!" A menina disse e tentou empurrar Bárbara. Uma mão estava na barriga da morena e a outra segurando o poster do cantor pop.
E foi aí que Bárbara resolveu acabar com a discussão. Ela não queria respeito, ela queria se vingar.
Em um segundo o poster estava na mão da dona e no outro em pedacinhos aos pé de Bárbara. As garotas gritavam e a menina começou a chorar. Bárbara foi para a coordenação e recebeu uma bronca e tanto dos pais. Foi obrigada a pedir desculpas, falsas, e abraçar a garota na frente de todo mundo.
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Os dois lados da rua (Conto lésbico)
RomanceDepois de uma semana sem a companhia de ninguém em sua casa, Mariana Souza ainda dormia com um canivete aberto na mesa de sua cabeceira, mesmo que não ficasse mais em alerta a cada som produzido na rua em que morava. Porém, ela não pode evitar quase...