cuatro

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Beatrice

Enquanto meus olhos analisavam os prontuários que eu teria que atender naquela manhã, minha mente ainda parecia estar na noite anterior. Com certeza eu tinha um sorriso pregado nos lábios e não notei quando Luca adentrou na sala.

– Hoje você irá fazer atendimento fora. – sua mão esticada segurava um prontuário e seus olhos mal fitavam o meu rosto.

Luca tinha mudado completamente comigo. Eu sabia que uma parte dele precisaria ser mais profissional, aliás, ele agora era o novo diretor da clínica. Porém, não era só isso. Ele tinha mudado comigo desde que René "surgiu" e isso não era nada confortável.

– Está tudo bem? – peguei o prontuário da sua mão e observei seus olhos.

– A doutora Inês cobrirá sua ausência na clínica hoje e Marisol irá com você.

– Sabe que não foi isso que eu perguntei...

– A vistoria nas baias precisaram ser notificadas com..

– Luca! – interrompi sua fala ao tocar seu braço. – Não torna isso difícil. Quero ser sua amiga e você..

– Você não tem que relatar sua vida pessoal para o diretor da empresa, Beatrice. – sua mão retirou a minha mão sobre seu corpo com um certo cuidado.

– Tudo bem. – concordei.

Peguei tudo que considerei necessário para trabalhar fora de um consultório e notei que Luca ainda não tinha se retirado da sala. Eu poderia jurar que ele queria perguntar algo pela forma que seus olhos se mantinham presos em mim. Então Marisol abriu a porta da sala, recebendo atenção minha e de Luca. Foi um alívio. Estava ficando sufocada com o silêncio e a presença do diretor.

– Tudo certo para o nosso serviço? – Marisol me olhava alegre e logo acenou para Luca. – Bom dia, diretor.

– Bom dia, Marisol. Qualquer problema me comunique. E, Beatrice... – seus olhos me fitavam enquanto seu corpo já estava entre a porta. – Quando chegar, passe na minha sala.

Luca saiu e deixou Marisol intrigada.

– Não vai me dizer que deu uma chance para o "chefinho"? – riu, baixinho.

Essa era Marisol, com uma mecha azul tímida no cabelo. Doce, mas apimentada. Tudo era possível para ela. Mesmo que fosse eu e Luca. Juntos.

– Você é impossível, mulher. – peguei meu jaleco. – Já lhe disse mais de mil vezes que eu não tenho nada com ele...

– Hmm... Isso é tudo culpa do... René? Ele é bonitão, hein?!

Todo mundo da clínica soube de René quando o mesmo apareceu por lá. Não tinha como negar, René se destacava na multidão com seu ego ultra inflamado.

– René não tem nada haver com isso. Eu acho.

Deixamos o consultório e seguimos para a caminhonete da empresa. Ajustei o cinto sobre meu corpo e coloquei o chave na ignição. Marisol olhava atenta o prontuário.

– Hoje teremos muito serviço. Nove equinos de competição...

– Então para onde iremos?

– Yeguada... SR4... – ela riu. – Pelo amor de Deus, quem nomeia um haras assim?

Naquele momento entendi o comportamento de Luca. Seu semblante rígido e seu incômodo. Era a Yeguada... Era René...

De longe foi possível identificar a Yeguada SR4 por um escultura preta enorme de dois cavalos e o escudo do haras de bronze ao lado de um grande jardim, que cercava a enorme portaria de entrada.

El Chantaje | Sergio RamosOnde histórias criam vida. Descubra agora