Cento e vinte minutos

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                                                          Killian

Ser quase príncipe-deus era um saco.

          Todos eles estavam se esforçando tremendamente para bajulá-lo, como se, em pouco tempo, o garoto insolente tivesse chegado ao pedestal. Killian não era idiota. Todos eles o odiavam, e ele os odiava de volta. Era como funcionava, e ele não esperava que fosse mudar algum dia.

          Seus tios e tias queriam que ele morresse para tentar assumir o trono. Killian não lhes daria essa satisfação. Diferentemente do que deveria acontecer numa família qualquer, eles não se importavam com o bem-estar dele, e ele não se importava com o deles.

A boa e velha mecânica das coisas.

          Ele já havia decidido a muito tempo que, quando alcançasse o status de príncipe-deus, os enxotaria fora do palácio. Que se virassem como quisessem. Claro que eles também detinham essa mesma posição, mas ser o futuro herdeiro do trono o colocava numa vantagem.

          As coisas na família Maligno eram movidas pelo poder. Aquilo não mudaria. Diferentemente daqueles - argh - Benigno, que eram pura emoção, eles tinham lógica. Se deixar levar pelas emoções era uma evidente prova do quanto eram bobos e ingênuos.

          Sequer mereciam a posição que tinham. Eles conseguiam realmente acreditar em suas esperanças idiotas e infantis. Killian não sabia como o povo ainda os aturava, mas parecia que eles os amavam ainda mais, por sua "compaixão". Uma baita perda de tempo.

          Ele só queria que aquela merda acabasse. A bajulação acabaria, e ele seria forte o bastante para que o temessem. Killian estava cansado de deixar de tomar qualquer bebida por ter a plena consciência de que estava envenenada. As tentativas estavam ficando mais frequentes a cada dia.

          Era quase risível como eles pensavam que realmente conseguiriam matá-lo. Suas mentes acreditavam que ele era cego para tudo aquilo, uma criança sem perspicácia alguma. Mas ser um Maligno significava ter de crescer sem a ingenuidade de todos os outros. Os filtros do mundo haviam desaparecido havia muito para ele.

          Killian desejava que toda aquela estupidez do ritual acabasse rápido, e ele finalmente se veria livre deles. Ele revirou os olhos só de cogitar em como a filha dos Benigno deveria estar. Cheia de uma ansiedade e uma felicidade inútil, sorrindo por aí com suas utopias de fadinhas e o que quer que fosse.

          As multidões do ritual já deveriam estar ficando prontas para adentrar o local, apesar de ainda faltarem quase três horas. Ele que não perderia seu tempo se arrumando.

Quem seria idiota a esse ponto?

                                                           Aurora

          Aurora estava se arrumando desde as sete da manhã.

          Seu coração estava palpitando de expectativa; ela finalmente descobriria sua representação. Esse é o momento que ficará nos livros de história, pensou ela com um sorriso enquanto sua criada Melline escovava seus cabelos. Tenho que fazer valer a pena.

          Ela havia posto um vestido comprado em Ondura, que tinha um tom que achara lindo. A costureira lhe contou que se chamava 'azul serenity' e ela nunca havia visto nada igual. Tinha poucos babados, mas um pequeno tule por baixo que garantia um volume muito lindo.

          Aurora não conseguia acreditar no que via no espelho de seu quarto. Seria mesmo ela? Seus olhos azuis estavam faiscando cada vez mais com a expectativa, e havia um rubor leve perpassando-lhe a face.

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