Pelo seu próprio bem

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                                             Killian

Quem diria. A princesa Benigno.

           Killian não sabia o que pensar sobre a presença dela lá, porque era claro como o dia que o palácio Maligno não era o tipo de local onde ela seria bem-vinda. Apesar de saber o quão arriscada era aquela decisão, o príncipe assentiu para os guardas, que fizeram uma reverência e se retiraram, deixando-os a sós.

           Ela observou as flores por um momento, absorta nas rosas. Ele continuou observando-a, esperando que falasse alguma coisa. Aurora Benigno certamente não havia se dado ao trabalho de ir ao seu castelo para admirar roseiras. Ele examinou inconscientemente a princesa; ela usava um vestido claro que ornava bem com ela, mas sem nenhum adereço extra. O tipo de traje que se usava quando não se tinha uma impressão para mostrar e nem um papel para interpretar - ou quando se queria esconder que tinha.

           — Vocês tem um jardim muito bonito. — Ela voltou seu olhar para ele, de uma vez por todas. Killian não havia percebido em seu rápido encontro mais cedo, porém a princesa tinha olhos azuis. Não azuis como o céu, um tom bem mais opaco. — Também temos um no nosso castelo. Mas vocês certamente possuem uma grande diversidade de plantas.

           — Não acho que tenha vindo para falar do jardim. — Killian disse, sem esperar por conversa fiada. Ela estava tentando fazer alguma introdução bonita para a conversa, mas ele estava irritado o bastante pelo que sua mãe havia feito alguns minutos antes, expulsando-o da sala. Não queria uma rodada de conversas cordiais e bem ensaiadas.

            — Não. — Ela se agachou perto de uma moita para observar uma flor rosada, ainda no processo para desabrochar-se por completo. — Não vim.

            — Então...? — Killian se sentou no banco. Não sabia ao certo se estava curioso, mas talvez houvesse algo interessante no que ela tinha a dizer. Talvez ela tivesse alguma solução para reverter o que acontecera no ritual. Se assim fosse, Killian estava MUITO interessado.

Qualquer coisa para expulsar seus tios do castelo.

            Ele precisava daquele cargo de príncipe-deus. Mas um príncipe-deus Maligno, do contrário ele não poderia fazer nada em relação aos parentes famintos por poder e por...

Não.

            Como Benigno, estaria longe demais deles e suas decisões não teriam o menor impacto. Ele não tinha certeza de qual decisão a mãe tomaria diante da sugestão do mestre de cerimônias, mas preferia nem saber.

            Killian obviamente não queria ter que colaborar com uma Benigno; aquilo ia contra muitas coisas e contra seu orgulho. Mas ele precisava, por mais que não quisesse admitir. Então, por mais que não quisesse, a ajudaria.

Mas seria pelo seu próprio bem.

            — O mestre de cerimônias não aceitou que nossas representações fossem trocadas, correto? — Killian assentiu em resposta. Não sabia como Aurora podia saber disso, mas ela apenas fez uma expressão resignada. — Sei qual será o próximo passo dele.

            — Algo como Aurora Maligno e Killian Benigno? — Perguntou ele, repetindo as únicas pistas que possuía: as palavras que ouvira. Estava jogando verde, e pela expressão da princesa ou fora muito bem-sucedido ou terrivelmente errado.

             — Algo assim. — Ela olhou diretamente nos olhos de Killian, um choque entre azul e verde. Céu e mar. Benigno e Maligno. Aquilo não deveria estar acontecendo. Ele tinha certeza que não. Se as rainhas descobrissem, não iriam estimar a ideia. Não que fosse proibido. Contudo linhas, por mais invisíveis que fossem, ainda podiam ser ultrapassadas. — Já sabe do que estou falando?

Coroa de CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora