Algo perfeitamente imprevisto

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                                                         Aurora

               A situação atual da princesa era, para dizer o mínimo, terrível. A chuva sobre a qual o céu a alertara durante todo o dia havia caído com uma força raramente vista nas terras de Valkyréa. No meio daquela situação, os guardas a acharam.

               E agora ela estava ali, coberta pela água do temporal, com os cabelos e o vestido grudando em sua pele enquanto encharcava o banco de trás de um dos carros do palácio. Essa situação era o suficiente para estressar até mesmo uma Benigno.

               Seu rosto também estava molhado, mas era difícil presumir se aquilo provinha do temporal ou das suas lágrimas. Mas que maravilha, pensou Aurora. Esse dia prometia ser o melhor da minha vida, e agora acabou de se tornar o pior. 

               Havia uma aura de tristeza forte dentro dela, que fazia com que seus olhos desejassem profundamente despejar todas as lágrimas que tanto doía conter de uma vez só. Sua garganta arranhava como se houvessem gravetos de ferro afiados dentro dela, persistentes e cada vez piores. Parecia tão idiota, idiota demais chorar pelo resultado do ritual agora. Uma princesa não deveria ter um comportamento assim. Ela devia ser calma e relaxada e contida e indiferente e...

               Ela observou seus olhos vermelhos pelo pequeno espelho instalado no carro, que delatavam todo o choro acumulado esperando a oportunidade para sair. Como você é fraca, Aurora. A princesa sussurrou mentalmente para si mesma aquelas palavras muitas vezes. Não por serem reconfortantes, mas porque talvez um tapa na cara vindo da realidade fosse o que ela precisava agora.

Provavelmente não, mas muitos absurdos são feitos por impulso.

               A rainha estava sentada ao seu lado, mas não havia falado nada desde que ela a vira. Aurora não sabia se ela estava chateada ou apenas tomada pelo choque devido a todos os acontecimentos anteriores. Preferia a segunda opção, mas temia pela primeira.

               A princesa Benigno olhou para fora da janela. A chuva forte ainda caía, acumulando muitas gotas pela superfície de vidro. Assim seguiu pelo longo caminho até o castelo da família, a boca calada e os olhos concentrados na paisagem que passava fugazmente por seus sentidos.

               Ela seguiu pelo castelo depois da chegada, finalmente em seu lar, mesmo que aquilo significasse estar mais perto do tormento de tudo que acontecera antes. Ainda não lhe parecia justo que ela fosse deusa da maldade. Pela família, ela era uma BENIGNO! Aquilo não podia estar acontecendo.

               As palavras não ditas se acumularam em forma de lágrimas que transbordavam de seus olhos assim que Aurora se viu sozinha novamente, no silêncio de seu quarto. Ninguém para observá-la com pena. Ninguém para culpá-la. Apenas ela e o cômodo onde vivera uma boa parte de sua vida.

               Elas caíram, pequenas e frágeis, uma de cada vez. Não tinham uma temperatura elevada, mas pareciam quase ferventes no contraste contra sua pele hipotérmica. Aurora não se importava. Passou rapidamente o dorso da mão no rosto para apagá-las de sua face, mas outras as seguiam, cada vez mais rápidas. A princesa permitiu que seu rosto se enterrasse no travesseiro macio, que em alguns minutos estava úmido. A única testemunha de sua agonia além das paredes maciças do quarto impecável.

               A banheira de água quente era uma opção muito conhecida para se afogar lágrimas doloridas, mas a princesa geralmente não recorria a ela. Preferia banhos frios, mas considerando o panorama geral das coisas uma água escaldante era estranhamente reconfortante.

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