Killian
Ele sabia, de fato sabia, que não deveria ter aceitado a proposta da princesa. Que não deveria ter entrado na possibilidade que ela lhe sugeria. Aquilo era nítido para qualquer pessoa perspicaz ou que conhecesse os limites. Para a sorte do príncipe, ele era os dois.
Mas, sinceramente, conhecer os limites é muito diferente de não ultrapassá-los.
Não lhe importava o que sua mãe decidiria em relação ao seu futuro, quaisquer tivessem sido as palavras que ela havia proferido em resposta à sugestão do mestre de cerimônias; ele não as acataria, porque não estava disposto a fazê-lo e pagaria o preço que fosse necessário para continuar sendo um Maligno, para se tornar príncipe-deus e então finalmente...
Finalmente...
Ele se vingaria.
Killian afastou os pensamentos da cabeça. Ele precisava focar em persuadir a mãe e todos os outros primeiro, e para seu desprazer teria de fazer aquilo juntamente com a Benigno. Ela havia partido tão rápido quanto chegara no castelo depois de sua conversa, mas o príncipe não tinha dúvidas de que sua vinda estava sendo motivo de fofocas ardentes dos criados, de sussurros espalhafatosos por entre as paredes de obsidiana do palácio.
E que logo chegaria aos ouvidos atentos da rainha. Killian sabia que não tinha muita escapatória em relação a isso; sua mãe sabia de tudo que acontecia dentro do local. Ele encarou o teto do quarto, soltando um suspiro. O príncipe pouco se importava com o que a mãe pensaria sobre, ele apenas precisava consertar o ritual pré-cerimônia, se tornar príncipe-deus da maldade (o título soava como música para seus ouvidos) e fazer o que fosse necessário.
E aquilo envolvia ter que levantar da sua cama e se arrumar, porque ele e a princesa deveriam se encontrar na biblioteca do palácio Benigno á meia-noite. Como o preguiçoso indiscutível que era, Killian não queria ter que acordar em tal horário, mas qualquer outro levantaria suspeitas indesejadas.
Se esse plano não der certo, a garota me paga. Durante a conversa dos dois mais cedo, ele tentara ser o mais gentil possível com Aurora, contudo apenas porque precisava. A proposta da princesa era o mais perto que ele conseguiria chegar de alcançar alguma coisa, então não era como se tivesse escapatória. Apesar disso, ele ainda sentia uma repulsa pela princesa... ela era tão Benigno, de todas as formas. Podia até ser inteligente, mas ainda assim.
Ele colocou uma blusa de linho branca (a primeira que achou no armário) e uma calça preta tão dolorosamente engomada pelos criados que parecia irreal. Killian se olhou no espelho; não era nada impecável, mas não era como se ele precisasse que fosse. A princesa certamente não esperaria algum traje diplomático para um encontro secreto na madrugada.
Quanto menos 'príncipe' a roupa fosse, mais discrição, e era isso que eles buscavam.
Ele não ligava muito, de qualquer forma.
O garoto não podia se arriscar a pedir um carro real para levá-lo, então precisaria caminhar. Seria uma tarefa torturante, considerando o fato que ainda estava morrendo de sono. Mas ele não podia se dar ao luxo de ter outra opção, então lá estava ele.
Killian estava relutante, porque tinha certeza de que esbarraria com algum criado quando saísse do quarto. Mesmo que fosse tarde, talvez algum guarda precisasse fazer uma vigília noturna, algo do tipo. Descer pela janela não era uma opção; o quarto ficava localizado num andar mais alto do castelo. Então ele abriu a porta bem devagar, observando se alguém se aproximava ou se ouvia algum barulho de passos. Para sua sorte, o local parecia deserto.
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Coroa de Cinzas
FantasyAurora Benigno nasceu e cresceu com uma simples verdade: os Maligno são nosso oposto. E é assim que deve ser. Como princesa de Valkyréa, ela deve trabalhar duro para ascender ao cargo de princesa-deusa, juntamente com o filho dos Maligno, em seu an...