Capítulo 6: Até.

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Aziraphale estava muito feliz e sorridente, mas ao adentrar seu quarto e ver seu pai em sua cama revirando seu diário ele quase paralisou, começou a suar frio.

- MOLEQUE, QUE PORRA É ESSA??? - Disse levantando da cama e indo agarrar o braço do filho.

- Calma pai, não tem nada demais e-

- COMO É QUE É? VOCÊ ME ENGANANDO FALANDO QUE VAI ESTUDAR PRA FICAR BEIJANDO OUTRO HOMEM NÃO É NADA DEMAIS? PORRA AZIRAPHALE, EU NÃO TE EDUQUEI PRA ISSO!! ONDE JÁ SE VIU DOIS HOMEMS JUNTOS?? ISSO É ERRADO!! - Aziraphale estava quase chorando, não imaginava que seu pai pudesse ser tão rude quanto estava sendo.

- Pai! Não é errado gostar de outra pessoa! Não é porque ele é homem que eu não possa beijar ele!!! Você está sendo muito ignorante!

- ALÉM DE TUDO VAI FICAR ME RESPONDENDO? FOI ESSE SEU NAMORADINHO QUE IMPLANTOU ESSAS IDEOLOGIAS NA SUA CABEÇA?? AGORA VOCE VAI VER MOLEQUE. - Falou enquanto ia tirando a cinta da calça.

- Não pai! Por favor me desculpa, eu paro de falar com ele mas por favor não me bate!!!

- NÃO TEM ESSA! EU VOU TE BATER E VOCÊ VAI PARAR DE FALAR COM ELE! E TEM MAIS! O PRÓXIMO ANO A GENTE VAI SE MUDAR PRA BEM LONGE DELE TÁ? VOCÊ SÓ VAI AMANHÃ NA ESCOLA, FALTAM POUCOS DIAS PRA ACABAR O ANO E O RESTO VOCÊ VAI FALTAR! SE EU TE VER PERTO DELE DE NOVO VOCÊ TÁ FUDIDO!

Aziraphale apanhou muito aquela noite. Levou cerca de doze cintadas na costa, que com certeza no outro dia estariam marcadas de roxo. Seu pai havia sido cruel. Por um milagre ele esqueceu o diário lá, o que possibilitou o loiro de esconde-lo em sua mochila. Foi dormir chorando - coisa que não fazia desde quando conheceu Crowley.

O novo dia amanheceu, Aziraphale acordou e pra surpresa de ninguém suas costas estavam marcadas com as cintadas. Se arrumou pra escola, colocou o diário na bolsa e foi caminhando. Não queria encontrar Crowley no ônibus, sabia que ia chorar se o visse. Precisava falar com ele, mas simplesmente não queria. Ele só queria voltar no passado e fazer seu pai esquecer tudo.

Ao chegar na escola encontrou Crowley que logo caminhou até ele.

- E ai, anjo? Tudo bem? Você parece meio triste, não te vi no ponto de ônibus.

- Oi Crowley. Tá tudo bem sim, não se preocupe.

Esse dia o loiro estava evitando o de cabelos vermelhos. Sentou em uma carteira distante da dele e mal focava na aula, ao invés disso ficou escrevendo em seu diário a aula toda, ora pensando, ora quase chorando. Logo o recreio chegou e ele foi falar com o ruivo.

- Crowley preciso ir com você ao banheiro.

- Eita, tá assim já cedo anjo? - Disse provocando e rindo um pouco.

- Não é o que você pensa, na verdade, é bem sério.

Crowley ficou quieto e apenas o seguiu até o banheiro, onde se trancaram em uma cabine.

- Calma ai anjo, a gente tá no banheiro da escola! - Falou tampando os olhos quando viu Aziraphale começar a tirar a blusa.

- Pode olhar, Crowley, não é nada demais...

Ao abrir os olhos Crowley quase desmaiou. Viu as costas de seu anjo toda marcada pela agressão de seu pai. Aziraphale o contou o que aconteceu e agora o ruivo chorava agachado ao chão.

- V-você vai pra que cidade? - Perguntou em meio as lágrimas.

- Eu não sei, mas acho que ele vai me fazer faltar até o fim das aulas... - Os olhos do loiro se enchiam de água.

- Me perdoa anjo, eu não queria que isso acontecesse com você! Eu acabei me deixando levar e eu te amo tanto! Não queria que isso acontecesse, me perdoa anjo por favo-

A fala de Crowley foi cortada pelo beijo de Aziraphale. Um beijo desesperado, triste, mas ao mesmo tempo calmo.

- Não é culpa sua, eu também te amo, não quero ter que te deixar. - Disse enquanto encostava suas testas. Ambos estavam ajoelhados no chão.

Logo o sinal bateu e eles voltaram para a classe. Crowley já não mantinha foco na aula, de vez em quando chorava. Não conseguia compreender como até ontem tudo estava maravilhosamente bem e agora tudo já havia sido desmoronado. A aula acabou e eles estavam caminhando até o ponto de ônibus.

- Querido, antes eu tenho um negócio pra te entregar... - Tirou um livro de dentro da bolsa - É o meu diário, quero que fique com ele.

- Obrigado meu anjo! - Falou sorrindo em meio as lágrimas - Eu... Eu posso ler?

- Claro que pode, tudo aí é sobre você. - Disse rindo um pouco - Nós provavelmente nunca mais vamos nos ver e-

- Não diga isso! Eu não vou morrer em paz enquanto não te reencontrar, tá entendendo!

- Tudo bem, querido. Bom, agora eu tenho que ir.

- Vai no ônibus que eu volto a pé.

- Obrigado. - Eles se aproximaram e deram um último beijo. Calmo, mas já cheio de saudade. Os dois já choravam nesse momento. - Adeus Crowley! Eu te amo

- Adeus não! Por enquanto é só até logo... Eu te amo mais!

Aziraphale entrou no ônibus. Eles não se veriam por um bom tempo.

Ao chegar em casa, Crowley correu se trancar no quarto. Bell, vendo o comportamento estranho do irmão, foi atrás dele e o encontrou chorando no quarto.

- Crow, o que aconteceu?

- Bell! Eu preciso te contar! - Disse em meio aos soluços.

Ele contou toda a historia para a irmã, pediu para que ela só contasse aos pais que Aziraphale se mudaria, não queria que eles soubessem de tudo. A irmã respeitou o espaço do mais novo e o deixou sozinho no quarto. Crowley resolveu pegar o diário para ler - embora Aziraphale estivesse na casa da frente, ele já morria de saudade. Além dos resumos dos dias, o ruivo encontrou um novo texto no livro.

Querido Crowley,
Me desculpe por todo esse transtorno na sua vida, provavelmente você está magoado e aborrecido agora, e eu nunca vou me perdoar por lhe causar isso.
Espero que em um futuro próximos nos reencontremos e vivamos felizes (juntos ou separados, caso você não me amar mais).
Eu te amo mais que tudo nessa vida e desejo a você tudo de bom. Não se prenda a mim, um imbecil que não consegue nem proteger o que ama.
É com pesar no coração que me despeço agora, nunca esquecerei de você ou do que vivemos juntos.
Com amor, seu anjo.

Se antes Crowley pensou entrar em pedaços é porque não sabia como estaria agora. Seus olhos inchados, a respiração descompassada, soluçando em meio as lágrimas. Estava realmente mal e nem conseguiu dormir de noite.

Já Aziraphale, foi dormir chorando depois de mais um dia de seu pai o xingando de tudo o que é possível. Dessa vez ele não o bateu, porém agressão verbal doía tanto quanto.

Os dias passaram e o ano acabou, Aziraphale se mudou pra longe. Sem Crowley o ano passou voado e o loiro sentia que já não tinha mais razão pra viver. O ensino médio acabou e com ele se foi a esperança de reencontrar seu amado.

Crowley, assim que completou dezoito anos, ganhou uma moto e tirou carta. Agora todo final de semana ele fazia questão de viajar para alguma cidade vizinha - ainda lhe restava um pingo de esperança. Não houve um dia em que não pensou em Aziraphale, desde que ele partiu o ruivo não tirou mais o colar de miçangas brancas que ganhou de presente. Se ele não o reencontrasse desse jeito, tinha certeza que o destino os uniria de novo.

Perto de Você - Good OmensOnde histórias criam vida. Descubra agora