Capítulo 13: Adeus.

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Já estava tarde, ambos já haviam jantado, mas para o descontentamento de Crowley, Aziraphale parecia inquieto, um pouco aborrecido e não estava conversando com ele, como se estivesse com medo ou inseguro.

- Tá tudo bem anjo? - Perguntou meio apreensivo.

- Tá sim Crowley, tudo normal. - Falou o loiro de forma meio rápida, fazendo o ruivo pensar que ele mentia.

- Você sabe que pode falar a verdade pra mim.

- Eu tô.

- Não tá não, você mente muito mal.

- Tá bom Crowley, eu conto, mas pode ser amanhã? Eu ainda não consigo falar nada agora.

- Leve o tempo que precisar, mas saiba que eu sempre estarei aqui ao seu lado para tudo o que precisar.

O loiro sentiu seus olhos encherem de lágrimas. Ele queria que Crowley ficasse bem, mas se ele continuasse com Crowley e seu pai descobrisse o ruivo entraria numa fria - Pra não falar coisa pior. Ele o amava mais que tudo e tinha medo de perde-lo, mas o medo de que algo acontecesse com ele era maior. Quando o mais alto notou que o loiro estava quase chorando ele o abraçou. Eles estavam no sofá um do lado do outro com Aziraphale chorando no ombro de Crowley.

- Fica calmo, anjo. Seja lá o que for passaremos por isso. Nada é maior que o nosso amor.

"Deus te ouça" Pensou o loiro acreditando que teria como passar por cima de tudo aquilo sem machucar ninguém.

Para o loiro, a noite foi horrível, acordava sempre suando frio, assustado, e logo procurava Crowley na cama, o abraçava e tentava dormir. Não sabia como se afastar de Crowley, ele era simplesmente a coisa mais maravilhosa que aconteceu na vida dele. Não podia arriscar machucar ele. Era uma situação difícil, no mínimo.

Pensou que para Crowley se afastar dele, ele só precisaria falar que não queria mais nada, porém era doloroso por um fim assim em tudo. Uma das vezes que acabou acordando, levantou e foi até cozinha. Estava decidido que iria escrever uma carta para Crowley, uma que ele leria somente quando já tivesse ido embora. Uma carta que traria a tona o que Aziraphale sentia e faria ele entender toda a situação e como tudo aquilo doía nele também.

Quando terminou, já estava amanhecendo. Selou a carta e a escondeu. Entregaria a ele só no momento correto. Já aproveitou e preparou um café da manhã pros dois. Talvez o último.

- Bom dia, meu anjo. - Disse o ruivo enquanto abraçava o anjo por trás e depositava um beijinho em sua bochecha.

- Queri-Crowley, por favor se afaste. - Disse segurando as lágrimas para não caírem.

- Hm? Tá tudo bem? - Perguntou se afastando um pouco.

- Depois eu falo, agora tome seu café! - Ele tentava adiar a conversa a todo custo.

- Tudo bem. - Falou meio apreensivo.

Tomaram rápido o café, Aziraphale continuava apreensivo. Eles não conversaram muito. Crowley não fazia ideia do que viria a seguir, e Aziraphale já estava sentindo seu estômago revirar por ter que por um fim em tudo.

- Crowley, eu não quero mais. - Disse o loiro com uma voz trêmula.

- Como é anjo? Não quer mais o que?

- Não quero mais que fiquemos juntos... - Virou o rosto pro outro lado, queria parecer convincente, e não que estava chorando.

- Oi? Eu fiz alguma coisa? Por favor anjo, se eu fiz algo que você não gostou me avise para que eu mude... Eu posso melhorar...

- Eu cansei de você Crowley! - Falou dessa vez com um tom de voz mais alto olhando nos olhos do amado, ainda com os seus meio marejados.

- Mas... até ontem a gente tava tão bem... Me diga o que aconteceu, por favor...

- Eu já arrumei as suas coisas pra você ir embora. - Lá no meio tinha escondido sua carta. Não sabia pra onde o ruivo iria, se preocupava com isso.

- Por favor anjo... Você prometeu que não me abandonaria mais... - Ele já chorava nesse momento. Chorava incessantemente. Aquilo doeu em Aziraphale, ele lembrava bem o que tinha prometido e não era de seu perfil quebrar promessas, principalmente feitas a alguém tão importante.

- É uma pena Crowley, aquelas palavras foram ditas no meio da emoção, não foi racional. - Tentava não chorar também.

- Anjo, eu te amo. - Segurou nas mãos do loiro - Eu te amo mais do que tudo. Por favor...

- Não sou seu anjo, meu nome é Aziraphale... - Soltou as mãos do ruivo - Por favor vá.

Crowley estava acabado. Aquilo doía, doía muito. Muito mais do que da última vez. Antes ele sabia que tudo o que tinha acontecido foi contra a vontade do loiro, mas agora ele simplesmente o virou as costas. Se sentia perdido, longe do que mais amava nessa vida. Uma tristeza enorme tomou conta de seu corpo, suas pernas tremeram, de seus olhos escoriam lágrimas infinitas. É como se em minuto atrás ele estivesse no céu, desfrutando de tudo que há de melhor e agora estava jogado em um posso de enxofre fervilhente queimando sua alma no lado mais obscuro do inferno.

Pegou suas coisas e partiu dali. Pegou sua moto e voltou para sua casa. Pegou os cacos restantes de seu coração e os varreu para de baixo do tapete. Não via mais sentido em nada. Sentia que a partir dali seus dias seriam esquecíveis, ele provavelmente estaria sempre embreagado, ou fumando alguma coisa que colocaria um fim mais cedo em sua vida.

Contou a toda a sua família tudo novamente, com o mesmo pesar no coração da primeira vez, só que agora muito pior. Não conseguia mais dormir, tinha pesadelos constantes com aquele fatídico dia. Passava as noites observando as estrelas e a vastidão do universo, já que agora esses eram os únicos que ainda estavam lá por ele. Sentia raiva do anjo? Com certeza. Mas a tristeza por tudo ter terminado assim era maior. As palavras ásperas ditas a ele naquele dia ainda ecoavam em sua mente, o fazendo refletir se ainda valia a pena viver. Além do mais, ele não via muito sentido naquilo, pouco tempo antes o anjo chorava em seu ombro, como se temesse algo, e agora havia o tratado daquele jeito.

Ao descarregar todas as suas coisas em casa, viu um papel estranho cair em baixo de seu guarda roupa. Não ligou, nem ao menos o tirou dali. Nesse momento só conseguia chorar.

Em outra cidade Aziraphale fazia o mesmo. Se perguntava como conseguiu ser tão rude com quem mais amava. Nunca se perdoaria por tudo aquilo, mas no fim, era o que tinha que ser feito. Logicamente não era o que o loiro queria, mas se fosse para garantir a segurança do amor de sua vida, que assim seja.

Se perguntava se o outro já havia lido sua carta. Esperava que sim, esperava até uma resposta por carta mesmo.

Os dias foram se passando. Aziraphale não via movimento na floricultura ao lado, exceto no dia em que viu o pai do amado tirando tudo de lá de dentro. Parecia que agora ela estava verdadeiramente fechada. Crowley se embreagava constantemente. Seu quarto que já fora muito organizado estava uma bagunça total. Havia mais plantas naquele quarto do que moléculas de oxigênio. Bell tentava consolar o irmão, mas no momento ele era inconsolável. Passou muitos anos assim. Foi diagnosticado com depressão, tomava remédios constantes para se tratar.

O loiro se culpava, se odiava por tudo aquilo. Afastou a pessoa que ele mais amou dele por medo. Odiava seu pai, que um tempo depois acabou agredindo sua mãe e agora estavam separados. A família "perfeita" - segundo eles mesmos - agora estava acabada. O pai distante, sem nem dar notícias, a mãe triste, o filho pior ainda. O que mais o consumia era não ter respostas, não saber se Crowley leu a carta, não saber se ele havia entendido a situação.

O ruivo desde então nunca mais foi àquela cidade. Anos depois, quando a depressão já estava quase indo embora, ele formou uma banda pouco conhecida que fazia apenas alguns shows. Era uma ótima distração para sua mente. Tentou se relacionar com outras pessoas de forma romântica, mas pra ele era impossível. Ninguém se comparava a Aziraphale. Cortou o cabelo, não era mais a mesma pessoa.

Aziraphale ainda tinha pesadelos todas as noites. Também passou a observar o céu. Ninguém sabia, mas os dois olhavam as mesmas estrelas juntos, por muitas noites.

"Eu também te amo, meu amor" Pensava o loiro todas as vezes em que se lembrava das confissões feitas naquele momento em que não pode retribuir. Ansiava por um momento ainda poder vê-lo em sua vida, nem que seja de longe ou com outra pessoa. Não esperava que Crowley o perdoasse, afinal o que ele fez algo que era imperdoável.

Perto de Você - Good OmensOnde histórias criam vida. Descubra agora