devaneios por emmagrant
#ogadodele
Era um profundo sonho sem som. No mundo inconsciente, a única certeza que tinha era que seus braços e pernas estavam amarrados, presos à superfície metálica onde seu corpo repousava. Forçou os olhos a se abrirem, mas logo foram ofuscados pela forte luz branca que pendia diretamente sobre seu rosto. Por reflexo, virou a cabeça para um dos lados e percebeu que não estava onde seus últimos registros de memória indicavam que havia adormecido.
Viu pessoas com jalecos brancos andando de um lado para o outro, o piso era tão limpo que refletia os movimentos de todos no ambiente — nada em Nigyru podia ser tão higienizado daquela forma. Sentiu o toque na palma da mão, aquecendo seus dedos e aliviando-o da quentura da luz acima da cabeça quando a afastaram, permitindo-lhe analisar melhor o ambiente e quem estava tão próximo dele. Embora a iluminação ainda obscurecesse a visão, percebeu ser um homem, um alfa, que segurava sua mão com um gesto de acalento.
O cheiro que preenchia suas narinas era estranhamente familiar, suave e veranil, como alecrim recém-tirado da terra fofa.
A distração criada pelo odor característico fez com que mal percebesse a aproximação de uma mulher de jaleco. Quando notou sua presença, seus olhos foram imediatamente atraídos para o cartão preso ao bolso dela. O rosto no pequeno quadrado estava borrado, e mesmo forçando a visão, não conseguiu discernir o semblante dela; apenas identificou seu nome: "Rannie".
Um micro segundo bastou para acionar um gatilho imediato. Sua preocupação passou rapidamente para as mãos da mulher, que puxou com cuidado o líquido azulado da ampola pequena com o símbolo da Governança Mundial. Sua respiração ficou presa na garganta quando o jato espirrou, retirando o ar do recipiente. Seu instinto de sobrevivência gritou, e ele se debateu contra a superfície metálica, tentando se libertar com toda a força que tinha. Pensou que não seria difícil, já havia escapado de situações piores, mas mudou de ideia ao ver seu corpo agora vestido com uma roupa militar que não reconhecia, e seus músculos pareciam inexistir.
Era uma memória resgatada dos confins do seu sprawl?
A agulha espetou seu braço, e o líquido azul inundou suas veias, queimando de dentro para fora. Sentia como se precisasse rasgar a própria pele para se livrar da queimação. A dor vinha diretamente do peito, consumindo-o como um buraco negro que devora tudo ao redor. Um zunido estourou em seus ouvidos, pressionando seu crânio; queria gritar, mas nenhum som saia da sua boca, que se abriu em um grito silencioso de dor.
A única sensação de alívio foi momentânea, com o odor de caramelo preenchendo sua consciência e despertando algo que estava fortemente protegido por pétalas e fumaça de acônito. "Garoto... preciso dele... do meu ômega", ouviu no fundo de sua mente. O pavor o dominou, e ele afundou as unhas curtas contra a palma da mão, quase rasgando a carne para controlar a sensação desconhecida da sua parte lupina.
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KATANA 刀 ༌ JIKOOK (ABO)
Roman d'amour[EM ANDAMENTO] O ano de 2087 nasceu com a promessa de mudanças pela Governança Mundial para a sociedade que convive com a alta tecnologia, mas com a baixa qualidade de vida no cenário devastado pelos efeitos catastróficos da vacina que prometia a cu...