queen of wrath - wenclair [AU]

capítulo 33

Enid

Na segunda-feira, peguei comida no Moondust Diner e levei para o escritório de Wednesday para o almoço. Um hambúrguer e seu shake preto e branco favorito para ela; um sanduíche de frango e um shake de morango para mim.

Era uma lembrança ao nosso primeiro encontro e um ramo de oliveira da minha parte. Wednesday era quem precisava estender o galho, mas se eu me afastasse sempre que ela se afastasse, nunca chegaríamos a lugar algum. Não queria que fôssemos um daqueles casais que fervilham em silêncio passivo-agressivo.

Além disso, tinha que haver uma boa razão pela qual Wednesday estava agindo tão estranho, e estava determinada a descobrir o que era.

— Boa tarde, Srta. Sinclair. — Stacey, a recepcionista do andar executivo do Grupo Addams, cumprimentou-me com um sorriso brilhante.

— Oi, Stacy. Trouxe um almoço para Wednesday. — Levantei os sacos de papel. — Ela está em seu escritório?

Era a primeira vez que aparecia sem avisar em seu local de trabalho. Ela poderia ter almoçado, mas conhecendo-a, não o fez. Se não comêssemos juntas, provavelmente pularia completamente as refeições da tarde.

— Sim, mas está em uma reunião. — Disse após um breve momento de hesitação. — Não tenho certeza de quando vai sair.

— Está tudo bem. Posso esperar por ela na sala de espera.

Poderia facilmente responder e-mails e verificar com os fornecedores de casamento no meu telefone enquanto esperava. O Legacy Ball era minha principal prioridade por enquanto, mas uma vez que acabasse, precisava dobrar a preparação do casamento.

— Tem certeza? — Stacey parecia duvidosa.

Quando lhe assegurei que estava tudo bem com a espera, ela cedeu. O andar estava vazio para o almoço, e meus sapatos batiam suavemente no mármore branco enquanto caminhava pelo escritório.

A sede corporativa do Grupo Addams era um estudo de modernidade elegante misturada com a elegância do Velho Mundo. Laca preta e vidro refletiam detalhes em ouro ornamentado e pinturas em moldura dourada; flores exuberantes desabrochavam ao lado de grés esculturais pintados em vários tons neutros. A sala de espera ficava no final do andar, mas só cheguei na metade quando ouvi uma voz familiar – uma que não pertencia a Wednesday.

Meu passo interrompeu alguns metros fora do escritório de Wednesday. As janelas escuras me impediram de ver o interior, mas a conversa tensa dentro sangrou pela porta.

— Não tem ideia do que fez. — O timbre áspero do meu pai deslizou pela minha espinha, deixando rastros de gelo em seu rastro.

Se o resto do andar não estivesse tão quieto, não teriasido capaz de ouvi-lo. Do jeito que estava, suas palavras saíram fracas, mas claras.

Meu coração acelerou. Tinha planejado visitá-lo mais tarde, como Isabel havia sugerido, mas nunca teria imaginado que estaria aqui. Agora mesmo, no escritório de Wednesday, sem nenhum aviso ou notícia. Meu pai raramente visitava Nova York durante a semana de trabalho e nunca aparecia sem me avisar antes ou logo depois de desembarcar.

Então, o que estava fazendo aqui em uma tarde aleatória de segunda-feira?

— Sei exatamente o que fiz. — Wednesday falou lentamente. Baixo. Escuro. Mortal. — A última vez que apareceu sem ser convidado, estava em vantagem. Usou meu irmão para chegar até mim. Eu simplesmente igualei a balança.

Seu irmão. Pugsley.

Meu estômago embrulhou. O que meu pai tinha feito?

— Não, não tem. Você não encontrou todos elas. — Apesar de sua entrega confiante, a voz do meu pai baixou no final. Era um tique nervoso que eu tinha percebido quando era adolescente.

— Se eu não tivesse, você não estaria aqui. — Wednesday disse, soando ao mesmo tempo divertida e indiferente. — Teria corrido para Romano com uma de suas cópias. No entanto, tirou um tempo de seu dia de trabalho ocupado para voar até Nova York e me ver. Não grita mais sobre a mesa, Francis. É patético. — Um pequeno farfalhar. — Sugiro que volte para Boston e lide com sua empresa em vez de se envergonhar ainda mais. Ouvi dizer que poderia usar alguma ajuda.

Seguiu-se um longo silêncio, pontuado pelas batidas rápidas do meu coração.

— É responsável pelos relatórios falsos. — Realização, fúria e uma pitada de pânico rolaram sob a acusação de meu pai, ameaçando separá-la pelas costuras.

— Não sei do que está falando. — O tom de Wednesday manteve sua indiferença. — Parece sério porém.. Mais uma razão para sair e controlar as coisas antes que a imprensa perceba. Sabe quão... perversos podem ficar uma vez que farejam sangue.

— Foda-se a imprensa! — A voz do meu pai se transformou em um grito. — Que porra você fez com a minha empresa, Addams?

— Nada que não merecesse. Hipoteticamente falando, é claro.

Os sacos de papel amassaram em meu punho. O sangue rugiu em meus ouvidos, tornando a conversa muito mais difícil de ouvir, mas me forcei a me esforçar e ouvir. Eu tinha que saber do que estavam falando. Tinha que confirmar o horrível pressentimento no meu estômago... mesmo que isso me destruísse.

— Enid nunca vai perdoá-la por isso. — O rosnado de meu pai era o de um tigre ferido. Nunca o tinha ouvido tão bravo, nem mesmo quando Isabel e eu quebramos seu vaso Ming favorito enquanto brincamos de esconde-esconde quando crianças.
Uma pausa breve e carregada.

— Está assumindo que me importo com o que ela pensa. — A voz de Wednesday estava tão fria que transformou meu sangue em gelo. — Posso lembrá-lo que fui forçada a este noivado? Nunca a escolhi de bom grado como minha noiva. Você me chantageou para isso, Francis, e agora sua influência se foi. Então não entre na porra do meu escritório e tente usar sua filha para se salvar. Não vai funcionar.

— Se você não se importa, então por que ainda não rompeu o noivado? — Meu pai provocou. — Como disse, foi forçada a isso. A primeira coisa que deveria ter feito depois de se livrar das fotos era se livrar dela.

Um estalo doloroso em meu peito abafou a resposta de Wednesday. Uma queimadura se acendeu em algum lugar ao norte do meu coração e se espalhou por trás dos meus olhos, tão intensa que temi que não deixasse nada além de cinzas para trás.

Fui forçada a este noivado...

Nunca a escolhi de bom grado...

Você me chantageou para isso...

As palavras ecoaram na minha cabeça como um pesadelo preso em um loop quebrado. De repente tudo fez sentido.

Por que Wednesday concordou em se casar comigo quando não precisava dos negócios, dinheiro ou conexões do meu pai. Por que foi tão fria comigo no início do nosso noivado.
Por que Pugsley não gostava de mim e por que minha intuição sempre questionou o raciocínio que Wednesday deu para o noivado. Ignorei a fragilidade da desculpa de acesso ao mercado porque era a única plausível na época, mas agora... A omelete que comi no café da manhã subiu a minha garganta. Minha pele ficou quente, depois fria, enquanto um exército de aranhas invisíveis rastejava sobre meus braços e peito. Deveria sair antes que me pegassem bisbilhotando, mas não conseguia respirar. Não conseguia pensar. Não podia fazer nada além de ficar ali enquanto meu mundo desmoronava ao meu redor.

Nunca a escolhi de bom grado.

Você me chantageou para isso.

A queimadura liquefez e borrou minha visão. A encontro da astronomia, a viagem a Paris e todos os pequenos momentos entre eles. Estava fingindo esse tempo todo?

Tentando tirar o máximo proveito de uma situação ruim em vez de...

Uma explosão de risadas no corredor me arrancou dos meus pensamentos em espiral. Minha cabeça se ergueu a tempo de ver dois homens de terno andando em minha direção, cheios do tipo de arrogância que só se possui se eles se sentassem na suíte C de uma empresa multibilionária.

A chegada deles quebrou o feitiço de imobilidade que me mantinha refém.

O da direita me notou primeiro, mas no momento em que seu rosto se iluminou com o reconhecimento, estava passando por ele, minha cabeça abaixada e meu olhar fixo no chão à frente.

Basta chegar à saída. Vá até a saída e desça. Isso é tudo que precisa fazer.

Mais cinco passos.

Quatro.

Três.

Dois.

Um.

Irrompi no saguão como um nadador ofegante.

Empurrei a comida para uma Stacey assustada e murmurei algo sobre uma emergência no trabalho antes de apertar o botão do elevador.

Felizmente, veio em segundos.

Entrei, o carro despencou em direção ao chão, e finalmente, finalmente deixei minhas lágrimas caírem.

***

"I just want you to want me
Want you to want me"