capítulo 42

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Wednesday

— Aquele é Scorpio. — Enid apontou para um ponto no céu. — Está vendo?

Segui seu olhar em direção à constelação. Parecia com qualquer outro aglomerado de estrelas.

— Mmmm. Parece ótimo.

Ela virou a cabeça e estreitou os olhos. — Você realmente vê ou está mentindo?

— Eu vejo estrelas. Muitas delas.

Enid soltou um gemido, uma risada. — Você não tem esperança.

— Eu te disse, não sou e nunca serei uma especialista em astronomia. Estou aqui apenas pela vista e pela companhia. — Beijei o topo de sua cabeça.

Deitamo-nos em uma pilha de cobertores e almofadas do lado de fora de nosso resort glamping no deserto do Atacama, no Chile, um dos principais destinos de observação de estrelas do mundo. Depois de toda a merda que aconteceu no mês passado, este era o lugar perfeito para redefinir antes do nosso casamento, que adiamos para setembro devido às reformas que demoravam mais do que o esperado.

Passamos os últimos quatro dias caminhando em vulcões, desfrutando de fontes termais e explorando dunas de areia.

Minha assistente quase desmaiou de choque quando lhe disse que tiraria dez dias de folga do trabalho, mas ela montou o itinerário perfeito para minhas primeiras férias de verdade desde que me tornei CEO. Até deixei meu telefone do trabalho em casa. Minha equipe tinha o número do resort em caso de emergência, mas sabiam que não deveriam me incomodar a menos que o prédio estivesse literalmente pegando fogo.

— Verdade. Acho que pode se limitar a ser bonito. — enid deu um tapinha no meu braço. — Todos nós temos nossos talentos...

Ela rompeu em um grito quando eu a rolei e a prendi debaixo de mim.

— Cuidado com a boca. — Rosnei, dando-lhe um beliscão brincalhão. — Ou vou puni-la bem aqui, onde qualquer um pode ver.

As estrelas refletiam em seus olhos e brilhavam com malícia. — Isso é um aviso ou uma promessa?

Meu gemido viajou entre nós, escuro e cheio de calor. — É a porra de uma provocação.

— Você é a única que começou. — Enid passou os braços em volta do meu pescoço e me beijou. — Não comece algo que não possa terminar, Addams.

— Quando não terminei? — Rocei meus lábios sobre a linha delicada de sua mandíbula. — Antes porém de chocarmos os outros convidados com um programa pornográfico... — Sua risada vibrou na minha espinha. — Eu tenho uma confissão.

Meu coração acelerou. Passei um mês me preparando para este momento, mas me senti como se estivesse oscilando à beira de um penhasco sem paraquedas.

Enid inclinou a cabeça. — Confissão como se esquecesse de marcar nossos passeios a cavalo amanhã, ou confissão como se tivesse matado alguém e precisasse da minha ajuda para enterrar o corpo?

— Por que sempre opta pelo mórbido?

— Porque sou amiga de Isabella e você é assustadora.

— Pensei que tinha dita que meu talento era ser bonita. — Provoquei.

— Bonita e assustadora. — Um sorriso travesso curvou sua boca. — Não são mutuamente exclusivos.

— Bom saber, mas não, não matei ninguém. — Disse secamente. Eu a empurrei e me sentei ereta.

A noite do deserto estava fresca e revigorante, mas o calorgrudava na minha pele como um terno apertado.

— Graças a Deus. Não sou muito boa com pás. — Enid também se sentou e me olhou com curiosidade. — Então, esta confissão. Isso é bom ou ruim? Preciso me preparar mentalmente?

— É bom. Espero. — Limpei minha garganta, meu coração agora acelerando a toda velocidade. — Você se lembra da minha viagem à Malásia algumas semanas atrás?

— A de setenta e duas horas? Sim. — Balançou a cabeça. — Não posso acreditar que voou até lá só para ficar por um dia. Deve ter sido uma reunião importante.

— Era. Fui ver minha mãe.

Meus pais haviam se mudado de Bali e agora estavam em Langkawi.
Confusão apertou uma carranca entre suas sobrancelhas.

— Por que?

Ela sabia que minha mãe e eu não tínhamos o tipo de relacionamento em que largaria tudo para vê-la. Meus pais ainda me exasperavam pra caramba, mas tinha feito as pazes com seus defeitos. Eram quem eram, e comparados a pessoas como Francis Sinclair, eles eram santos do caralho.

— Precisava pegar uma coisa. — Mordi a bala e peguei uma pequena caixa do meu bolso.

Enid olhou para ela, sua expressão atordoada. — Wednesday…

— Quando propus a você pela primeira vez, dificilmente era uma proposta. — Disse. Meu sangue tamborilou em meus ouvidos. — Nosso noivado foi uma fusão, o anel era uma assinatura. Escolhi isso... — balancei a cabeça para o diamante em seu dedo. — Especificamente porque era frio e impessoal, mas agora que estamos fazendo isso de verdade... — abri a caixa, revelando uma deslumbrante pedra vermelha incrustada em ouro. Uma de menos de três dúzias existentes. — Queria te dar algo mais significativo.

Enid soltou uma expiração aguda e audível. A emoção desenhou uma imagem vívida em suas feições, pintando-a com mil tons de choque, prazer e tudo mais.

— Os diamantes vermelhos são os diamantes coloridos mais raros que existem. Apenas cerca de trinta haviam sido extraídos. Meu avô comprou um dos primeiros diamantes vermelhos na década de 1950 e propôs a minha avó com ele. Ela passou para meu pai, que deu para minha mãe... — Engoli o nó na garganta. — Quem me deu.

O anel brilhou como uma estrela cadente contra o negro da meia-noite. Minha mãe raramente usava. Estava com muito medo de perdê-lo durante suas viagens, mas ela o manteve seguro para o dia em que eu precisasse. Foi uma das poucas coisas sentimentais que fez desde que eu nasci.

— Uma herança de família. — Enid murmurou, sua voz grossa.

— Sim. Uma que me lembra muito você. Linda, rara e difícil como o inferno de encontrar... mas valeu cada minuto que levou para chegar lá. — Meu rosto suavizou. — Passei trinta e sete anos pensando que meu par perfeito não existia. Provou que eu estava errada em menos de um. E mesmo que não tenhamos feito certo da primeira vez, espero que me dê uma chance de provar a mim mesmo uma segunda vez. — Meu pulso batia com os nervos quando a pergunta mais importante da minha vida saiu da minha boca. — Enid Sinclairs, quer se casar comigo?

Seus olhos se encheram de lágrimas não derramadas.

Uma gota solitária escapou e escorreu por sua bochecha quando assentiu.

— Sim. Sim, claro que me casarei com você.

A tensão se dissolveu em risos e soluços e alívio frio e doloroso. Tirei o anel antigo de seu dedo e o substituí pelo novo antes de beijá-la. Ferozmente, apaixonadamente e de todo o coração.

Às vezes, precisávamos de palavras para nos comunicar.

Outras vezes, não precisávamos de palavras.

***

I found a girl, beautiful and sweet
I never knew you were the someone waiting for me

queen of wrath - wenclair [AU] Onde histórias criam vida. Descubra agora