queen of wrath - wenclair [AU]

capítulo 39

Enid

Wednesday e eu não falamos sobre nosso encontro no jardim novamente, mas pairou no fundo da minha mente por dias depois.

Não por causa do sexo, mas por causa da vulnerabilidade. A paciência. O vislumbre de como nosso relacionamento seria diferente desta vez. Pela primeira vez, realmente acreditei que a reconciliação era possível.

Talvez não agora, mas um dia. Como Wednesday disse, chegaríamos lá.

Estávamos saindo do jantar no topo do Empire State Building em nosso terceiro encontro quando meu telefone tocou.

Fiz uma pausa no meio de contar a ela sobre a oferta de Buffy Darlington para planejar seu aniversário de 65 anos. Estava se tornando uma cliente fiel, o que era uma bênção e uma maldição. Suas expectativas eram maiores do que o prédio em que estávamos atualmente.

Verifiquei meu telefone, e meu pulso saltou quando vi o nome de quem ligou.

— Desculpe, tenho que atender isso. É minha irmã.

Era meio da noite em Eldorra, e não tinha falado com Isabel desde que contei a ela sobre meu confronto com nosso pai. Aconteceu algo com ela ou Gunnar?

— É claro. — Wednesday enfiou as mãos nos bolsos e acenou com a cabeça para o outro lado da plataforma de observação. — Sem pressa. Estarei lá.

Foi difícil conciliar essa Wednesday com a CEO rude e arrogante que conheci no verão passado, mas não éramos as mesmas pessoas que éramos nove meses atrás. o antigo eu dela não teria sido tão paciente ou compreensiva. O velho eu não teria resistido tanto tempo contra sua ofensiva de charme. E nossos antigos eu não estariam aqui, tentando reconstruir a partir dos escombros de nosso relacionamento quando seria muito mais fácil abandonar o projeto e seguir em frente.

— Obrigada. — Disse, meu coração estranhamente quente.

Esperei até que estivesse fora do alcance da voz antes deatender.

— Você tem que me salvar. — Isabel disse sem preâmbulos. — Mamãe está me levando até a parede.

O alívio afrouxou o nó de ansiedade no meu peito. — São quatro horas da manhã. Realmente ligou para reclamar da mamãe?

— Não conseguia dormir, e sim, liguei. Ela tentou redecorar nossa casa, Eni. Duas vezes. E está aqui há menos de uma semana.

De acordo com Isabel, minha mãe entrou em uma briga enorme com meu pai quando descobriu que ele me deserdou.

Estava hospedada na casa da minha irmã em Eldorra, que era como eu sabia que as coisas estavam ruins. Ela odiava a coleção de animais de Isabel porque trocavam muito pelo.

— O que quer que eu faça? Estou em Nova York. — Olhei para Wednesday, seu corpo alto cortando uma figura impressionante contra as luzes da cidade. — Não deveria estar falando comigo de qualquer maneira. O pai ficará chateado.

— Por favor. Estou chateada com ele, e essa briga é entre vocês dois, não nós. — Hesitou, então acrescentou — Essa é outra razão pela qual liguei. Ele está aqui. Em Eldorra.

Meu estômago despencou.

— Está tentando fazer as pazes com a mãe e diz que precisa de um tempo longe do escritório enquanto o conselho “discute como seguir em frente”.

Tradução: estavam pensando em demiti-lo.

O valor das ações da Sinclair Jewels havia se estabilizado desde domingo, mas estava mais baixo do que deveria. A cobertura negativa da imprensa tinha feito um número na empresa.

— Você deveria visitar. — disse Isabel.

Não pude conter uma zombaria. — Vamos, isa.

— Estou falando sério. Precisamos estar juntos como uma família agora mais do que nunca. Não lute. O que ele fez foi horrível, mas ainda é nosso pai, Enid.

— Em que ponto isso não é suficiente?

Se eu estava confusa sobre meus sentimentos em relação a Wednesday, estava duas vezes mais confusa sobre meus sentimentos em relação ao meu pai.
Queria me reconciliar com ele, ou nosso relacionamento era irreparável?

Isabel ficou em silêncio. — Apenas dê uma chance. — Finalmente disse. — Por favor. Por mim, mamãe, e você. Fale agora que todos tiveram a chance de se acalmar. Mesmo que não faça as pazes, terá um encerramento. Além disso, sinto sua falta. Não te vejo desde o outono passado.

— Isso é manipulação emocional.

— Aprendi com os melhores.

— Mãe. — Dissemos em uníssono. Quando se tratava de viagens de culpa, Amélia Sinclair era uma passageira frequente com status de diamante.

— Quando vai embora? — Olhei para a cidade abaixo. Se ao menos pudesse ficar aqui para sempre, afastada das preocupações e incertezas que assolam a vida no terreno.

— Segunda-feira. Sei que é em cima da hora, mas se puder vir, eu adoraria vê-la. — A voz de Isabel suavizou. — Realmente sinto sua falta.

Meus dentes rasparam meu lábio inferior. Podia respirar agora que o Legacy Ball havia acabado, e não visitava Eldorra há mais de um ano, mas estava pronta para ver meu pai novamente tão cedo?

A indecisão torceu minhas entranhas.

— Também sinto sua falta. — Finalmente disse. — Verei o que posso fazer. Diga oi para minha mãe por mim, e durma um pouco. Eu te ligo amanhã.

Desliguei e me juntei a Wednesday na beirada do convés. — Desculpe. Coisas de família. — Suspirei e puxei minha jaqueta mais apertada ao meu redor. O vento havia parado, mas um frio permanecia. — Meus pais estão em Eldorra e isabel quer que eu a visite. Conversar com eles.

Wednesday era uma pessoa estranha para discutir isso, considerando sua história com meu pai, mas não sabia com quem mais falar. Era a única além de meu pai e eu que tinha uma compreensão completa da situação.

Mesmo Isabel e minha mãe não sabiam o papel que ela desempenhou nos problemas de Sinclair Jewels, embora estivessem cientes de todo o resto.

Sua expressão era de neutralidade estudada. — Quer ir?

— Talvez. — Outro suspiro. — Quero ver minha irmã e preciso falar com minha mãe pessoalmente, mas não sei se estou pronta para enfrentar meu pai sozinha novamente. Ele volta na segunda-feira, porém, então tenho que tomar uma decisão. Rápida.

— Deveria ir.

Minha cabeça se ergueu em surpresa.

— Se você não fizer isso, sempre se perguntará o que aconteceria. — A lua lançava luz e sombra no rosto de Wednesday, linhas nítidas e feições ousadas, mas com uma suavidade em seus olhos que me matou. — Quero que fique perto de seu pai? Não. Acho que ele não merece ter nada a ver com você, mas tenho a sensação de que precisa de mais encerramento do que o que conseguiu em Boston. Então, por esse motivo, deve ir. Veja sua irmã. Encontre alguma clareza.

— Certo. — Soltei uma respiração longa e controlada. — Acho que devo procurar voos em breve. — Era quinta-feira à noite.

Realisticamente, não voaria até sábado, o que me deixava com um dia e meio em Eldorra.

— Poderia. — Wednesday fez uma pausa. — Ou pode pegar meu jato.
Meus olhos se arregalaram. — Disse que talvez não estivesse pronta para enfrentar seu pai sozinha novamente. Se quiser, posso ir com você. — Sua voz ficou suave. — Dadas minhas... complicações com sua família, entendo se não quiser, mas a oferta está na mesa. Pode pegar meu jato de qualquer maneira. É mais fácil do que encontrar um voo com essa antecedência.

Meu coração acelerou sem minha permissão. — Se você for, significa que terá que ficar na mesma casa que meu pai. — Não havia hotéis ou pousadas perto da propriedade de minha irmã. Era muito remoto.

Uma sombra cruzou o rosto de Wednesday. — Eu sei.

— Ficaria bem com isso?

— Vou sobreviver. Não é sobre mim, mia cara.

Calor enrolado no meu estômago. — E o trabalho?

Ela me deu um sorriso torto. — Acho que posso convencer o chefe a me dar um dia de folga.

O calor se espalhou em minhas veias.

Fazer uma viagem de longa distância com Wednesday era uma má ideia... mas ir ver meu pai sem apoio era pior.

— Podemos sair amanhã?