𝒜s Cerejas, chaejun.

VI - Frio quente.

Ficamos nos encarando por um tempo. Parecia que ele queria me dizer algo, mas ousava em hesitar.

Era verão. Mas parecia inverno. Meu coração acelerou quando ele chegou mais pra perto.
Por que eu estava sentido isso? O que era comigo?

— Tá fazendo o quê aqui sozinha? — Yeonjun interrogava, se sentando ao meu lado.

— Não, eu...só — fiz uma pausa pra pensar — quis um tempo sozinha. Não sou muito chegada à atividades em grupo como esse.

Ele ficou um tempo sem falar nada, como se fosse para digerir o que eu tinha acabado de dizer. Eu tinha falado algo errado?

— Qual é...você é muito fechada as vezes...

Eu não sabia como responder, apenas assenti com a cabeça enquanto encarava o chão. Como eu poderia contar aos outros que me sentia assim simplesmente pelo fato de não estar acostumada a ter tantos amigos? E por ter morado em um lugar tão distante da cidade?

— Você pensa muito, sobre o que você pensa? — Me assustei assim que ouvi a pergunta repentina do loirinho.

— Hm? Oi? — eu não sabia qual era a minha reação na hora, mas só sei que eu tava bem assustada. Eu tava brisada.

— Olha aí, tá vendo...— Yeonjun falava entre risadas, me senti uma palhaça.

— Por quê você quer saber? — eu perguntei num tom meio que baixo demais, mas acredito que ele ouviu, já que riu depois.

— Quanta frieza para uma menina de aparência tão doce, Kim Chaewon...

— O quê? Como você sabe o meu nome completo?

Eu acho que eu tava com a bochecha meio rosa, não sei, só sei que eu tava muito confusa.

Ele sorriu e ficou me encarando assim que me ouviu. Levantei. Me dirigi até Winter.

Eu não queria permitir me apaixonar, ou sei lá o que fosse. Yeonjun fazia meu coração sentir algo diferente, não era como qualquer outro garoto. Era diferente.

Odeio ter que admitir que senti um pouco de raiva assim que avisei ele ao lado de Karina hoje mais tarde.

★ ★ ★

O verão passou tão rapidamente, já era outono.
A cidade estava toda alaranjada. Folhas cobriam o chão, caíam por toda a parte.

Eu estava com o pessoal em uma cafeteria que se encontrava perto da escola. Estávamos descansando e conversando para descontrair. Apesar de estar meio distanciada devido aos meus devaneios, confesso que já me sinto bem mais próxima deles do que antes. Já se passou um tempo desde que nos conhecemos, mas parece que foi tudo ontem.

Meu coração estava dividido em dois. Não sabia o que eu realmente sentia por Yeonjun — o qual estava bem mais próximo de Karina recentemente, mesmo antes dizendo que a "odiava" — mas eu também não sentia nenhum sentimento de aversão por Karina.

Pelo contrário, eu idolatrava ela. Ainda. Ficava maravilhada pela sua personalidade, seu perfume e, principalmente, por suas cerejas.

Eu me perguntava — da mesma forma que eu perguntava para madrinha — se algum dia eu poderia ser assim, como ela, sabe?

"Sei não docinho, você é tão fechadinha...mas olhe, seja você mesma, que vão gostar de você, ela brilha do jeito dela, e você do seu. Que nem aquelas estrelinhas no céu." Madrinha me falava, enquanto conversávamos no quintal do sítio.

Para mim, se eu fosse como uma estrela, então Karina era como o Sol. Brilhava mais intensamente.

Yeonjun era a sua lua.

Eu era a estrela que os observava. A anos-luz de distância.

Eu não deveria estar pensando assim. Madrinha só queria me confortar. Mas era inevitável. Era inevitável não comparar Karina comigo. Me lembrei quando Yeonjun disse que não via ela com meus olhos.

Pelo visto, agora via.

Ele olhava para ela com tanta ternura que eu me sentia uma idiota por já ter ousado pensar que ele sentia algo a mais por mim simplesmente pela forma como sorria ao falar comigo.
Talvez ele só sorrisse por causa do jeito idiota como eu agia. E as coisas bestas que eu falava.

Quando o pessoal decidiu ir embora, decidi que eu iria para a loja de conveniência. Tinha que esfriar a cabeça.

Literalmente.

Já tava meio frio. Ou eu era muito frienta. Talvez minha pele fosse mais sensível à temperaturas mais baixas. De qualquer forma, eu não tinha levado casaco, nem luva, nem cachecol, então me esquentei com minhas mãos e me cobri com meu braço.

Assim que eu saí do local, tremi quando avistei de longe uma silhueta de frente pra mim.
Hesitei em voltar pro local, só não fiz porque reconheci a voz que ecoava chamando meu nome. Cheguei mais perto.

— Já tá tarde.

Era uma voz masculina. Eu conhecia.
Era Yeonjun.

Finalmente consegui ver seu rosto depois dele se aproximar totalmente de mim.

★ ★ ★