𝒜s Cerejas, chaejun.

VIII - Semente.

Sinceramente, devo admitir que um pingo de esperança crescia em mim em relação ao meu relacionamento com o loirinho.

Claro, em relação à amizade.

Porque, afinal, ele ainda tinha Karina em sua mente. Ele ainda olhava para ela diferentemente. Ainda a tratava especialmente.

Quem sabe ele até tinha emprestado o casaco pra ela também.

Eu tinha quase certeza disso.

Como o ódio havia virado amor?
Não era ele quem sentia uma certa antipatia por ela? Não era ele quem não desejava nem mesmo estar no mesmo cômodo que ela? Não era ele quem havia chamado a mesma de Vulgar?

Não era ela quem revirava os olhos quando ele chegava? Não era ela quem argumentava com qualquer coisa que ele pronunciasse?

Não era ela quem falava mal dele para mim?

A confusão tomava de conta de mim; assim como meus pensamentos. Eu só queria ser capaz de entender tudo o que estava acontecendo. Entender meus sentimentos, entender tudo.

Neste exato momento, eu viajava em meus devaneios, deitada na minha cama. Numa noite vaga. Fria. Silenciosa. Misteriosa. Sem respostas.

O que acontece é que já havia se passado uma semana desde que Yeonjun e eu começamos a nos aproximar. E posso dizer que éramos bons amigos.

Mesmo que as vezes ele me olhasse de um jeito diferente do comum.
Mesmo que ele dirigisse este mesmo olhar à Karina.
Mesmo que meu coração palpitasse quando ele chamava o meu nome.

Seu pedido de amizade foi como uma semente. Que me deu esperanças para acreditar que talvez nossa relação fosse florecer e se tornar uma árvore linda.

Uma árvore de cerejeira.

Já eram quase 01:30 da manhã quando eu fui olhar o horário. Eu claramente estava sem sono.
Fechar os olhos e dormir agora era a melhor alternativa.

★ ★ ★

— O quê? Como assim eu?

Proferi a pergunta desgrudando os olhos do meu livro. Já era a hora da saída, e o loirinho estava me chamando para dar uma volta hoje à tarde.

— Você, ué.

Confesso que senti uma certa euforia ao ouvir o pedido. Mas ao mesmo tempo, uma grande incerteza.
Eu deveria aceitar? Por quê eu? Alguém além de nós iria? Karina? Seus amigos? Winter?

Espera... Winter! Isso! Exatamente!
Ela é a única pessoa — com exceção de madrinha, que iria fazer perguntas demais — que na qual eu podia contar. Ela sempre me dava os melhores conselhos. Como se fosse uma irmã.

— Vou ver...se...tenho outros planos. Mais tarde eu te falo! — Inventei a maior das desculpas e saí correndo. Ele deu de ombros.

Não demorou muito para eu encontrá-la. Ela estava saindo da escola quando eu a avistei. E, para a minha felicidade, ela estava com Yunjin.

Ótimo, sermão em dobro.

— Winter! Yunjin!

Eu não era acostumada a gritar, mas desta vez tive que fazer isto. Eu as chamava enquanto gesticulava com as mãos, correndo. Elas se viraram.

— Chaewon? — A mais alta interrogava, com uma feição de preocupação. — O que aconteceu?

— Geralmente você não é assim. — Acrescentou Winter, que deu uma leve risada em seguida.

Eu até entendo elas estranharem o meu comportamento, já que na maioria das vezes eu sou bem fechada. Mas...desta vez, eu precisava tanto de um conselho que não pude me conter.

— É que...dessa vez...o Yeonju-

— Não sabe o que responder pra ele? Te emprestou algo? Não sabe o que sente por ele? Tá confusa? Acabou falando besteira pra ele de novo?

Minhas bochechas ganharam um tom avermelhado. Yunjin havia me interrompido, mas era porquê já esperava o que eu fosse dizer.

Era como se ela tivesse lido os meus pensamentos — ou apenas usado a lógica, já que eu meio que só falava sobre este assunto para as meninas recentemente — e já soubesse o que dizer.
Fiquei tão envergonhada.

— Eu só... — Quis me enfiar em um buraco, nessa altura as meninas já poderiam estar suspeitando de eu ser uma obcecada.

Obcecada por respostas.

Eu era tão curiosa assim por simplesmente querer saber o porquê de cada coisa que acontecia entre nós?
Ou eu era tão idiota assim por sempre comparar nossas interações com as dele e Karina?

Pude ver a Kim rindo baixinho de mim antes de vir falar comigo.

— Chaewon, aposto que já sabemos o que veio nos dizer, e nós já temos a resposta. — Ela afirmava com tanta certeza que eu até estava começando a pensar mesmo que elas eram duas loucas que liam meus pensamentos.

— Não?

— Sim.

Não quis argumentar. No fundo, eu iria aceitar sair com o mesmo de qualquer forma. Eu só queria ter certeza.

Mas bastou uns instantes para eu perceber que eu só encontraria a minha certeza de forma definitiva em outra pessoa.

Não em Winter. Não em Yunjin. Não em madrinha. Não em Yeonjun.

Em Karina.

Já era mais do que hora de perder o meu medo e finalmente perguntar à ela sobre tudo isso.
E antes que eu fosse pedir às meninas para que me encorajassem — já que, no fundo eu sei que sou muito covarde pra fazer isso — ouvi as mesmas chamando por meu nome.

— Não é a Karina e o Yeonjun ali não?

Ambas apontaram discretamente enquanto falavam.

Eles estavam juntos.
Brigando?

★ ★ ★