IX - Cerejas na escuridão.

33 4 8
                                    



Não me aproximei. Ficamos observando os dois de longe. Eu me perguntava o que acontecia; o motivo daquilo ter começado; ou se eles realmente estavam brigando, talvez estivessem só argumentando em algo ou conversando. Sei lá.

Seja lá o que era, eles não pareciam tão felizes. Ao menos não tão felizes como eram antes.

— Eles não 'tavam tendo um rolo? — A Yunjin interrogou, me distanciando dos meus devaneios. Winter riu e concordou. Abaixei a cabeça.

— É cômico — comentou Winter, dando uma risada baixinha — Antes eles se odiavam, queriam sair na porrada sempre que se viam. Só não saiam porque "tinham modos".

Senti ambas olharem pra mim com uma feição de tristeza e depois se entreolharem. Não sei o que pensavam. Mas com certeza hesitavam em me dizer algo.

Conseguimos ver de longe Karina e Yeonjun se "despedindo"? Não entendi, mas só sei que eles se afastaram. Ambos pareciam aflitos, eu mantive uma expressão neutra. As meninas me olharam.

★★★

No dia seguinte, eu já havia esquecido que tinha que falar com Karina. Talvez por causa do ocorrido anteriormente. Só lembrei quando entrei no banheiro feminino por ter ouvido um som de choro do lado de fora. Era ela.

Hesitei em me aproximar. Hesitei em perguntar qualquer coisa. Mas eu queria, eu queria saber, queria entender o que havia acontecido. Minha curiosidade tava me matando.

Para minha sorte, eu não precisei, ela mesma levantou a cabeça e olhou para mim. Ela tinha o olhar de súplica. Mas ao mesmo tempo, sorria.

A confusão tomou conta de mim.

— Chaewon... — ela falou entre as lágrimas, exibindo um sorriso com os lábios fechados. — Querida...

Não disse nada. Não soube o que dizer. Sempre que eu estava perto de Karina as palavras desapareciam da minha cabeça. Saiam correndo.
Fiz um sinal com a cabeça, como que pedindo para ela continuar falando.

— Quer um conselho?

Ela enxugava as lágrimas enquanto proferia a pergunta. Com elegância. Me pergunto até hoje como ela conseguia sempre exibir tanto charme em qualquer coisa que fazia.

— Hm? — ela estava em um banquinho que tinha dentro do local. Sentei-me ao seu lado. Por algum motivo, não conseguia sentir raiva de Karina, nem um pouco.

— Querida... — ela olhou para mim, colocando a mão em meu ombro. —...você...

Ela não conseguiu terminar de falar. Estava soluçando. Baixou a cabeça.

— Karina...por quê você...— perguntei enfim. — O quê aconteceu?

— Chaewon, já sentiu que amou a pessoa errada? — perguntou, finalmente olhando para mim.

Fiquei chocada. Não entendi muito bem.

— Claro.

— Yeonjun é uma delas?

Gelei. Senti um baita frio na barriga. Parece que ela tinha lido a minha mente. Ou talvez estava apenas falando dela mesma.

Não, claro que não.

Não soube o que dizer. Nem ao menos o que fazer. Encarei o chão.

— Entendi — ela disse. Provavelmente minha reação já havia revelado tudo. Quis me enfiar num buraco.

— Você também? — falei tão baixo que parecia um sussurro. Ela assentiu com a cabeça.

— Não amei ninguém aqui — admitiu. — E nem sei se alguém fez o mesmo. Mas...eu entendo, sou nova aqui, não deu tempo de construir uma relação verdadeira com alguém.

Fiquei em choque, novamente. Ficou um pouco mais difícil de respirar. Eu tava meio ansiosa.
Não tem nem motivo.

— Como assim? — perguntei enfim. — Mas e você  e o...

— Não — ela falou antes de eu terminar, estava rindo. — O "usei" para conseguir mais popularidade. Sempre soube que não iríamos dar certo.

Levei minhas mãos à boca.

— Agora é claro que me sinto muito mal por isso — ela falava olhando para qualquer outro canto no lugar. — Ontem decidi contar tudo para o mesmo. E ele também me contou o que queria.

Após proferir, ela olhou para mim e sorriu. Não entendi o que quis dizer. Estava tão confusa.

— O quê aconteceu?

— Ele também não me amou — falou sorrindo. — Assim como eu.

Continuei quieta. Surpresa.

— Ele me disse que já tinha outra pessoa em mente — olhou para mim novamente. — E completou dizendo que acha que essa pessoa não sente o mesmo.

Meu coração palpitou. Ou errou uma batida. Seja lá o que fosse. Mas foi tudo por um instante; eu não poderia me iludir.

Ela ficou me encarando, sorrindo.
O sinal tocou.

— Obrigada, Chaewon — ela falou, enquanto se levantava. Parecia grata. — Ah, e diga sim.

Ela piscou para mim. E saiu, subitamente.

Fiquei parada olhando pro nada até entender o que ela quis dizer. Quando entendi, fiquei surpresa. Ela 'tava falando de quem eu tava pensando? Fiquei vermelha. Ela sabia? Como?

— Chaewon — eu tinha acabado de sair do banheiro, quando ouvi meu nome. Era Yeonjun. — Por quê ainda não 'tá na sala?


★★★

𝒜s Cerejas, chaejun.Onde histórias criam vida. Descubra agora