Christmas on the beach

07 - Nevermind

- Então... Nevermind? E com a minha caligrafia? Você vai me dizer o por quê?

Yoongi e Jimin caminhavam por um lado distante da praia, longe dos olhos e ouvidos de todos, depois de escaparem de seus amigos que ainda estavam se divertindo no clube. Jin e Nam pareciam duas águias sob os outros do grupo, nunca relaxando, sempre atentos a seu redor. Taehyung e JK estavam muito ocupados em seus joguinhos de provocação regados a tequila. E Hobi estava empenhado em pegar o maior número de pessoas possíveis naquela noite, até quando eles saíram, já passavam de doze.

- Só se você me contar o por quê da letra. Você é herdeiro da indústria musical, por que ser músico teria sido um problema?

- Bom, uns anos atrás, quando eu estava no colégio, a empresa passou por uns problemas e meu pai quase foi à falência. Ele havia feito alguns investimentos que não deram muito certo e, além disso, um dos principais idols havia tirado a própria vida em seu dormitório. Isso desencadeou muitos problemas, aboji vivia estressado, à beira de um colapso nervoso. Omma proibiu a mim e a meu irmão de termos qualquer interação com tudo que envolvesse o mundo da música, ela estava apavorada e possessa com o rumo que as coisas estavam tomando.

- Foi na época que você conheceu o Hobi e o Nam? - Jimin ouvia atento à história, sua mão presa a do outro, permitindo que seus dedos brincassem de forma tranquilizante com a pele macia das costas da mão de Yoongi.

- Isso! Também foi quando começamos a usar pseudonimos para nos apresentar em rodas de rap. 

- O quê? - Os olhos de Jimin estavam esbugalhados de surpresa. - Você em rodas de rap?

- Uhum! Era o único jeito de continuar fazendo música sem que minha mãe descobrisse. Enfim, em um certo momento eu comecei a produzir música no estúdio da empresa sem que ela soubesse, além de compor algumas letras também. Quando comecei a ser reconhecido no ramo, escrevi Nevermind, eu não costumo lançar as músicas gravadas com minha voz, mas essa era pessoal demais e importante demais para que outro a cantasse ou para ficar engavetada e isso nos traz de volta a minha pergunta original: uma tattoo com a minha caligrafia?

- Uns anos atrás, você esteve em um evento de autógrafos de uma parceria com a Halsey, eu passei semanas falando sobre isso para meus amigos, porque eu adoro as músicas dela e porque eu queria tentar falar com você. Mas, umas horas antes do evento, eu torci feio o pé em um ensaio e, ao invés de ir ao evento, acabei sendo levado para o hospital. Meus amigos foram sem mim e deram um jeito de te pedir para escrever Nevermind com seu autógrafo. Eles me deram a folha e eu mandei tatuar. Não me ache um esquisito - Jimin riu de nervoso - eu só me identifico com a música, por razões um pouco distintas, mas ao mesmo tempo semelhantes.

- Não precisa falar se não quiser. - Yoongi apertou mais sua mão em volta da do outro. Eles tinham parado de andar, estavam sentados de frente pro mar, Jimin com uma das pernas jogadas sobre as de Yoongi, sua cabeça encostada no ombro do compositor.

- Está tudo bem, eu posso contar. Você lembra que antes de Jihyun nascer nós costumávamos frequentar e, até mesmo, organizar os mesmos eventos que a sua família?

- Uhum! Você sempre ficava assustado com a multidão e acabava no meu quarto, brincando com meus action figures ou lendo quadrinhos comigo. Você ainda faz o mesmo bico fofo quando está nervoso ou irritado.

- Eu não faço nada! - O bailarino protestou.

- Acabou de fazer, provando o meu ponto. - O rapper provocou, soltando ar pelo nariz ao sorrir. - Mas continue o que estava falando.

- Quando omma estava grávida do meu doesang, ela teve muitas complicações em sua saúde e as redes de tv concorrentes ficavam como abutres em cima de nós o tempo todo, eles nos perseguiam, ao ponto de quase causarem um acidente com o carro em que eu estava voltando da escola. Isso a apavorou e exigiu ao aboji que nos mudássemos imediatamente para a casa de Busan, onde eles moram até hoje. Ela fez de tudo para nos manter longe dos holofotes, o que não deu muito certo comigo, já que acabei indo estudar música e artes. O medo dela a cegava e ela foi, por muito tempo, contra isso. Mas aboji a convenceu a me deixar fazer o que eu queria, desde que eu me mantivesse longe das câmeras.

- Por isso você estava resistente sobre o especial de natal que Taehyung mencionou?

- Ele insiste que é um desperdício manter minha voz longe do público. E, ainda que eu já tenha aparecido uma ou outra vez em programas de TV, nunca foi para performance e nunca foi como o foco do programa. Eu também tenho receio, acho que o medo acabou crescendo dentro de mim, mesmo sem que eu percebesse. Além de que, tenho medo de como omma reagiria. Mas eu amo cantar, por isso, sempre que posso, vou com o Tae e o Hobi para o estúdio de Namjoon e gravo os back vocals das músicas que ele produz.

- Sabe? - Yoongi brincava com as mechas do cabelo de Jimin, enfiando seus dedos longos por entre elas, na parte de trás de sua cabeça. - Só tem um jeito de saber como ela vai reagir. Mostrando a ela.

- Eu acho que você tem razão. Mas eu não sei como, nunca parece ser um bom momento.

- Tudo bem! Não precisa se apressar, podemos pensar nisso juntos.

Juntos. Jimin se arrepiou ao ouvir a palavra. Parecia que ele estava protagonizando um dos filmes de romance clichê de natal exibidos pela emissora de sua família. Ele viajou com a família e, de repente, reencontrou um amigo de infância por quem nutria uma profunda admiração há anos. Eles haviam flertado e se beijado muito. E agora, de alguma forma, Yoongi parecia estar disposto a ficar com ele.

O vento frio da madrugada forçou os dois a voltarem para seus quartos no hotel, onde se despediram ao sair do elevador e caminharam cada um para seu quarto, que ficavam de lados opostos no mesmo corredor.