capítulo 4

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Já era tarde quando Adélia entra em meu quarto, segurando algumas roupas em sua mão determinada.

- Anda, veste esse vestido - ela ordena, estendendo-me a peça de roupa.

- Onde você conseguiu esse vestido? - questiono, desconfiada.

- Dei um jeito, anda, veste!

Relutante, cedo às suas instruções e deslizo o vestido vermelho sobre meu corpo. Ele se ajusta perfeitamente, realçando minhas curvas e transmitindo uma elegância que me faz sentir desconfortável.

- Eu não vou usar isso - protesto, olhando para Adélia com incredulidade.

- Vai sim! - ela insiste, levantando-se da cama e avançando em minha direção, uma máscara em sua mão estendida.

Resignada, permito que ela coloque a máscara em mim. Ela cobre metade do meu rosto, deixando meus lábios vermelhos e meu queixo à mostra. A máscara, também vermelha, parece uma extensão do vestido, conferindo-me uma aura misteriosa.

Admirando-me no espelho, percebo que a máscara adiciona um ar de mistério aos meus olhos azuis. Soltando meu cabelo, viro-me para Adélia.

- Você está muito linda - ela elogia, sorrindo. Em seguida, pega um capuz que estava na cama e me entrega - Vista isso até sairmos do castelo. Quando chegarmos lá, você pode tirar.
Faço o que Adélia pediu e visto o capuz, ocultando minha identidade enquanto saímos sorrateiramente do castelo, evitando sermos detectadas.

Ao chegarmos ao local da festa, percebi que se tratava, na verdade, de um animado bar, onde os frequentadores se entregavam a jogos, bebidas e até mesmo a paqueras mais atrevidas.

Adélia e eu nos acomodamos em uma mesa e pedimos nossas bebidas, tentando nos integrar ao ambiente festivo. Enquanto observava o movimento ao redor, meus olhos foram atraídos por uma cena ousada: uma mulher vestida de vermelho, sentada no colo de um homem, enquanto este manuseava suas cartas com uma mão e explorava suas coxas com a outra.

Desviando o olhar constrangida, tentei me concentrar na conversa com Adélia.

- Aqui está cheio de homens bonitos - ela comenta, fixando o olhar em um homem sentado em uma mesa do outro lado do salão.

- Eu nem sei porque concordei em vir - murmuro, sentindo-me deslocada naquela atmosfera.

- Para se divertir - ela responde, com um sorriso travesso.

Decido seguir seu conselho e tomo um gole do champanhe que o garçom havia trazido, tentando relaxar um pouco.

- Eu não sou boa em me divertir, mas você é, então pare de ficar encarando ele - indico discretamente o homem que ela estava observando - e vá falar com ele.

Adélia sorri, mas depois seu olhar se volta para mim com preocupação.

- mas e você?

- Eu vou voltar para o castelo - falo, puxando meu capuz e cobrindo meu rosto novamente.

A porta principal se abre, e uma rajada de ar frio penetra no ambiente, anunciando a chegada de mais clientes.

Um homem adentra, seguido por outro de porte forte, com os cabelos curtos.

Meus olhos se arregalam de espanto ao reconhecer o homem à frente. Era Hércules, meu irmão. O que ele estaria fazendo ali?

Olho para Adélia em busca de orientação, enquanto ela se adianta para chamar uma das mulheres que trabalham no bar.

- Minha amiga precisa de um lugar seguro - ela explica rapidamente à mulher.

A mulher sorri compreensiva.

- No andar de cima, há quartos desocupados no momento. Abra a sétima porta à direita. Ela encontrará abrigo ali.

Volto meu olhar para Adélia, grata pela sua rápida intervenção.

- Eu irei buscá-la assim que for seguro - ela me assegura.

Dirijo-me apressadamente até a escada, sentindo meu coração acelerar.

- No que eu me meti? - murmuro para mim mesma, enquanto enfio a mão dentro da capa, mantendo a adaga ao alcance, e subo os degraus até o segundo andar.

Contei mentalmente até alcançar a sétima porta à direita. A maçaneta girou suavemente sob meus dedos, indicando que estava destrancada. A hesitação me invadiu enquanto começava a abrir a porta. O que eu estava fazendo? Qualquer pessoa ou coisa poderia estar à espera atrás daquela porta. A imagem da mulher do bar veio à mente, e eu me perguntei se poderia confiar completamente nela.

O som de uma risada masculina ecoou pelo corredor quando a porta ao meu lado se abriu. O coração disparou em meu peito, e, em pânico, entrei rapidamente no quarto à minha frente, fechando a porta atrás de mim com um baque abafado.

O quarto estava na penumbra, iluminado apenas pelo tênue brilho de algumas velas. Instintivamente, percebi a presença de uma cama ao meu lado, mas não me dei ao luxo de virar para confirmar.

Antes que pudesse reunir meus pensamentos, um braço forte envolveu minha cintura, puxando-me para trás contra um corpo sólido e masculino. Uma onda de choque percorreu meu corpo, paralisando-me momentaneamente.

Eu deveria ter desembainhado minha adaga, mas em vez disso, permaneci parada, permitindo que aquele braço me envolvesse, com a mão pousada firmemente em meu quadril.

- Achei que não viria mais - sussurrou uma voz grave em meu ouvido.

Ele afastou o braço, permitindo que eu me virasse para encará-lo, mantendo o capuz da capa no lugar para esconder meu rosto. Ergui o olhar, e meus olhos encontraram os dele. O homem tinha a pele clara, os cabelos negros que batiam em seu ombro, e seu semblante era incrivelmente atraente.

- Me fez ficar esperando muito - disse ele, lançando-me um sorriso sugestivo - como você vai me recompensar pelo tempo perdido, queridinha?

Abri a boca, mas a fechei assim que me dei conta. Ele achava que eu fosse outra pessoa

Aquela mulher.

Ele achava que eu era aquela mulher que estava no andar de baixo?

Examinei o homem com o olhar. Ele estava com uma túnica e uma calça preta.

O que devo fazer? Virar e sair correndo?

Só que meu irmão ainda devia estar lá embaixo

Meu instinto me avisou que ela sabia que o quarto estava ocupado. A mulher me mandou entrar aqui de propósito.

- Hoje você está estranhamente quieta - observou ele

Se eu falasse algo, ele saberia que eu não era quem ele pensava que eu era

- Nós não precisamos conversar - ele pegou a bainha da túnica e antes que eu pudesse tomar fôlego outra vez, ele puxou por cima da cabeça e jogou para o lado.

Arregalei os olhos. Eu não sabia o que fazer

O homem deu um passo na minha direção e os meus músculos tencionaram para fugir dali, mas eu me mantive imóvel por pura força de vontade. Eu sabia que deveria ter me afastado. Deveria ter falado alguma coisa e revelado que eu não era aquele pensava que era. Deveria ter saído dali imediatamente. A maneira com que ele vinha na minha direção, com as longas pernas diminuindo a distância entre nós, me alertava sobre a sua intenção.

Fiquei esperando, com o coração batendo tão rápido que parecia que eu ia desmaiar, pequenos tremores atingiram minhas mãos e pernas.

Os sentidos em alerta, observei quando o homem parou na minha frente e a mão segurando a parte de trás do meu capuz. Por um momento pensei que ele fosse puxá-lo acabando com a farsa, mas não foi o que ele fez. O capuz escorregou apenas alguns centímetros para trás.

- Não sei que tipo de jogo você está fazendo hoje à noite.-sua voz grave estava rouca-mas estou disposto a descobrir.

Aliança Divina -  Loki Laufeyson Onde histórias criam vida. Descubra agora