Prólogo 0: Eu deveria ter ficado em casa

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Não sei quanto tempo estava naquela praça com minha prima e os amigos dela, mas de uma coisa eu tinha certeza, Estava muito chato.

Eu tinha concordado em me enturmar e jogar vôlei com minha prima e seus amigos para deixá-la feliz, mas o resultado disso foi que fiquei com vergonha e nem joguei com eles, fiquei sentada me sentindo um encômodo no meio deles.

Meus instintos diziam que eu não era bem vinda ali, e provavelmente estavam certos. pq se eles quisessem mesmo ter algum interesse em ser meus amigos teriam falado cmg ou então insistido para eu jogar junto com eles, mas não, trocamos apenas algumas palavras e foi isso.

No momento, eu estava sentada numa árvore cantando a música Válvula de Escape de Anny Koch Silenciosamente para ninguém me ouvir.
Não tinha levado meu celular, muito menos meu fone de ouvido, então eu tinha que me entreter do tédio cantando as músicas que me viam à mente.

Não muito longe da árvore estava Isis e seus amigos conversando animadamente, mais um sinal que eu não deveria estar ali, pois provavelmente se eu entrasse na conversa acabaria atrapalhando ou então não entendendo nada.

- Garota em que sono você tá?
É que eu vim te visitar só pra te atrapalhar. - Estava apenas esperando eu finalizar a música para cair fora daquele parque escuro, tinha ficado de noite a algum tempo e eu não fazia ideia de que horas eram, Painho deve tá preocupado. - Zum zum não adianta se mexer
Essa válvula de escape não funciona pra você.

Nessa hora minha garganta estava implorando por água, estava a minutos cantando a mesma música só para não escutar as vozes na minha cabeça, e pelo tédio também.

- Então para de brincar de se esconder. Já conheço a sua casa, eu posso ouvir seus passos
Coração descompassado, eu posso te ver tremer. - Eu arfava enquanto cantava os últimos trechos da música, Estava exigindo muito de meus pulmões para cantar a mesma música pela quadrilesima vez.

- Para de brincar de se esconder. Não importa onde você se esconda, Eu consigo ver você, eu consigo ver você. - finalmente eu estava livre daquela melodia rasga garganta. Me levantei do galho baixo da árvore e caminhei em direção a Isis, sentindo meus pés afundando nas areias da praça.

- Isis, eu já vou ok. - parei atrás de Isis e ela me olhou por cima do ombro, seus olhos castanhos pousando em meus olhos verdes.

- Tá bom, diga pra minha mãe que já chego.

- Certo. - foi tudo o que eu disse antes de me afastar dela e pegar o caminho da praça até minha casa.

Conheço essa praça como a palma da minha mão, frequento ela desde pequena com meus pais. Não era nem um pouco longe da minha casa, nós só tínhamos que subir a rua para chegar à praça. Quando eu vinha aqui com minha mãe eu pegava uma flor branca que crescia aqui e dava pra ela, ela ficava sempre tão feliz com esse meu pequeno gesto mas as flores que pegava nunca durava mais do que umas horas em casa.

Atualmente eu morava com meu pai na casa do meu avô depois do divórcio deles, é uma casa animada na maior parte do tempo, pois não morava só eu e ele em casa, morávamos juntos eu, meu pai, meu avô, minhas tias, meu tio e minha prima. É sim era uma casa grande o bastante para viver 3 famílias nela, apesar de que eu e meu pai moramos num pequeno apartamento dentro da casa, mas eu não me importo com isso, já estou acostumada e perfeitamente satisfeita com meu barraquinho.

O problema era que quando comecei a morar com meu pai eu virei um bicho do mato que não saia de casa pra nada, só pra escola. Que dizer, era um problema prós outros já pra mim era normal, eu tinha orgulho de ser um bicho do mato, isso também não seria um problema pra eles se pelo menos eu saísse nos finais de semana, mas nem isso eu fazia. Nós finais de semana meu pai ia pra casa da minha madrasta e eu ficava em casa assistindo minhas coisas, e pra mim não tinha coisa melhor do que isso.

Foi por isso que Isis começou a querer que eu fosse prós cantos que ela frequentava com os amigos, para que eu saísse um pouco de casa.
Não é como se eu não tivesse amigos, eu tenho, eu fazia parte do grupo mais estranho da escola
E sentia orgulho disso. Como eu dizia a meu pai, mongolóide anda com mais mangolóides.
Mas eu não ia pra casa deles, então nós só nós víamos na escola ou então jogando em call.

Falando nisso, acho que quando chegar em casa irei jogar genshin com Jenny, minha melhor amiga. Estava em Inazuma pq comecei a jogar só a alguns meses, meu maior medo jogando aquele jogo era quando eu fosse lutar com a Raiden, Jesus só de pensar nisso me dá medo, ela era forte pra porra. Mas eu estava confiante de que ia vence-la, afinal, eu tinha o Neuvillete.

Olhei para os dois lados antes de atravessar a rua vazia, entrei na rua da minha casa e comecei a descer a calçada, essa rua sempre estava um breu. Minha rua sempre tinha um poste quebrado, então partes da rua eram escuras enquanto outras eram iluminadas pelos postes que ainda prestavam mais que provavelmente não durariam muito tempo.

Vi alguns gatos de rua que minha tia cuidava, estavam se alimentando e bebendo água. Minha tia era a louca dos gatos da minha rua, não dava comida apenas para os gatos da nossa rua, mas também de outras ruas e ela obviamente tem seus próprios Gatos, eu não me lembro de cabeça quantos são e estou com preguiça de lembrar, mas os gatos da minha tia junto com as gatas da minha outra tia, o meu único gato e três filhotes davam mais de 20 Gatos na mesma casa. Meu pai chama Isso de doença, mas eu sinceramente faria o mesmo quando tivesse minha própria casa, prefiro mil vezes gatos do que humanos.

Parei no final da calçada, olhei prós lados e estava tudo limpo, agora só tinha que atravessar a rua para ir ao portão pequeno de casa, atrevesei a rua. Mas do nada escutei um barulho tão alto que meu coração quase vê estrelas.
Olhei para a esquerda e esperava vê um carro vindo me atropelar, mas ao invés disso vi dois cavalos negros carregando uma carruagem.
Meu pai sempre disse pra eu ter cuidado com cavalos pq eles podem ser perigosos e te machucar, acho que ele estava certo.

No momento que vi aqueles cavalos raivosos entrando na rua e vindo na minha direção tentei correr para a calçada de casa, mas no momento que tirei os olhos deles senti algo se chocando contra meu corpo e eu voa pro meio da rua, devo ter batido a cabeça pq tudo que vi foi escuridão e eu não conseguia mais abrir os olhos. E agora o que eu faço? Era minha primeira vez desmanhando e eu não tinha a menor ideia do que fazer, só queria me levantar e ir pra dentro de casa, É sério que ninguém ouviu os cascos dos cavalos e o barulho do meu corpo sendo jogado pro meio da rua? As luzes de casa estavam acesas, eles ainda estavam acordados esperando a gente voltar para jantar.

Talvez se eu tivesse ficado em casa eu já teria jantado e estaria agora jogando com Jenny, ou estaria vendo tiktok agora, ou talvez conversando com minha tia, escutando as fofocas que ela me diria da última festa que foi.
Talvez estaríamos na calçada conversando enquanto ela fumava, estaríamos esperando Isis voltar pra casa, ela me perguntaria se foi bom jogar vôlei com os amigos dela, eu provavelmente diria o que aconteceu enquanto estava lá, falaria que nem joguei por pura vergonha de socializar com estranhos.
Talvez se ela estivesse na calçada quando cheguei ela correria pra avisar meu pai pra me socorrer, gritando que dois cavalos me atropelaram, ela provavelmente estaria em Pânico enquanto meu pai me pegasse e botasse dentro do carro para irmos ao hospital.

Mas talvez demore um pouco até eu ir pro hospital, pq ninguém escutou nada, e talvez até lá já seja tarde demais para ser feito alguma coisa sobre mim... Eu não deveria ter saído.

Eu deveria ter ficado em casa.

Twisted Wonderland: Apenas maldade em meu serOnde histórias criam vida. Descubra agora