Prólogo 4: Amnésia Desnorteante

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Abri meu olhos cansados e vi as prateleiras da biblioteca agora iluminada. Meus olhos no momento não pareciam olhos normais, agora parecia que tinha duas pedras gigantes no lugar dos olhos. Meus olhos insistiam em se fechar e eu piscava loucamente para mantê-los abertos, um bocejo silencioso sai de minha boca.

Fazia algumas horas que a cerimônia de abertura tinha acabado com aquele magnífico incêndio que Grimm havia causado, fazendo com que o salão virasse o próprio salão de Hades. O diretor me levou novamente até a mesma biblioteca que ele me achou e começou a ver vários mapas e livros da geografia de Twisted Wonderland.

Eu estava tão cansada que deitei minha cabeça em cima dos braços e dormi ali mesmo por alguns minutos. Levantei minha cabeça e na mesa que nós estávamos, ao lado do diretor, tinha uma pilha de livros um em cima do outro que corria o risco de cair em cima de nossas cabeças por conta do desequilíbrio.

O diretor colocou o livro que estava lendo no topo da pilha e pegou outro ao lado dele, pela sua expressão ele não tinha conseguido achar nada.

Comecei a repensar sobre as dúvidas que martelavam em minha mente. Eu não sou desse mundo, fato. E o Espelho das Trevas me convocou por eu ser digno de estudar aqui, fato. Foi ele que supostamente mandou a carruagem pra me buscar, fato de novo. Mas aí ele fala que houve um engano e eu não tinha magia para estudar numa escolha para magos? Isso é estranho.

Não é ele que escolhe os alunos? Ele é um espelho mágico, não tem como ele ter cometido um erro ao convocar uma sem magia de outro mundo ainda por cima pra cá... ou teria?

Ele me trouxe pra esse mundo, como ele simplesmente não consegue me levar de volta? Se não foi ele, uma outra pessoa deve ter me trazido pra cá... Mas quem?

Decidi deixar esse pensamento de lado por enquanto e focar em outra dúvida minha. Foi aí que lembrei que percebi algo estranho durante a cerimônia.

Enquanto eu estava ao lado do diretor durante o incêndio, percebi que até aquele momento só tinha visto garotos, vi os estudantes abrindo as janelas para deixar a fumaça sair e não vi uma única garota abrindo as janelas, nem na multidão eu vi.

Foi aí que a seguinte pergunta me veio à cabeça, aqui é uma escola para garotos? Tudo bem que todos os alunos estavam de capuz e eu mal conseguia ver os rostos deles, mas se isso for realmente uma escola para garotos? Isso significaria que o espelho cometeu dois erros, o primeiro foi trazer uma humana comum pra uma escola de magos onde claramente ela iria ser humilhada na frente de todo mundo por não ter magia, e o segundo erro foi trazer uma garota de 16 anos pra uma escola para homens com os hormônios a flor da pele sem nem pensar nas mil e uma coisas que aconteceriam com ela? Suspeito.

Vou nem relembrar o terceiro erro que todos nós já sabemos qual é (Tirar a menina da casa dela pra trazê-la para esse mundo perigoso para uma simples humana)

Como eu não tenho como confirmar essa teoria, resolvi perguntar ao diretor que até agora estava folheando os livros.

Maitê: Diretor Crowley, desculpa pergunta, mas aqui é uma escola para garotos? - Crowley desvia seus olhos dourados do livro e olha para mim fixamente.

Crowley: Sim, Night Raven College é uma escola para garotos. - Então eu estava certa, mas antes que pudesse agradecê-lo por responder minha pergunta, ele termina a frase dizendo. - Por que pergunta, rapaz?

Rapaz?... Ah, agora tudo faz sentido. Por isso ele não me perguntou nada. Pra quem não entendeu é o seguinte, o diretor acha que eu sou um garoto. E sinceramente, não é a primeira vez que isso acontece.

Desde que o fundamental começou, as crianças sempre me perguntavam se eu era menino ou menina, pq se deixassem elas tentarem adivinhar sozinhas, nós teríamos uma nova teoria da ciência.

Por que me confundiam? Eu não usava brinco, maquiagem ou ia arrumada pra aula que nem as outras garotas. Até professores não sabiam se eu era menino ou menina, o meu nome não é um nome muito comum, portanto não sabem se é nome masculino ou feminino.

Mas isso nunca me incomodou, pra surpresa de todos. Eu sempre achava tão engraçado quando as pessoas me confundiam, é quando eu tinha 12 anos descobri o meu estilo, o que resultou nas pessoas me confundindo ainda mais. E sim, até os dias de hoje isso acontece, como dar pra ver. Mas nunca esperei que me confundirem com um menino me traria tantos problemas.

Maitê: Nada não, diretor. - Ele me olhou desconfiado antes de voltar a socar a cara no livro.

Agora só restava esperar o momento certo para dizer essa informação que provavelmente vai fazer com que o diretor desista do emprego.

Crowley: Realmente não tem nada. - Diz ele botando o último livro na pilha. - Não só no mapa mundi, mas o nome de onde você veio não está escrito em lugar nenhum.

Obviamente sem descobertas, vc não vai achar o nome de um país de outro mundo nos mapas do seu mundo. Mas estávamos tentando.

Crowley: você é realmente de onde diz que é? Não está mentindo pra mim, está? - Crowley me olhava de uma forma que pensei que ele fosse tirar uma faca de dentro de sua capa e aponta-lá
Para mim por fazer ele ficar procurando que nem trouxa um país que não existia.

Maitê: Tô com cara de quem tá brincando? - Sei que ele está cansado, mas eu também estou. e pra piorar minha situação estou em outro mundo sem ter como voltar pra casa e deixando toda minha família preocupada por não aparecer em casa.

Meu pai já deve ter pegado o carro e rondando as ruas da minha cidade inteira pra tentar me achar, acho que nessas horas ele deve está na vila. Minha mãe já deve ter tomado 20 calmantes e minha irmã deve estar chorando de preocupação na casa dela.

O diretor suspira e se encosta na cadeira, ele deve estar tão casando quanto eu. Ele olha pra mim e diz a única coisa óbvia nessa situação.

Crowley: Olhando pra tudo isso, você de alguma forma foi trazido pra cá de outro planeta... A possibilidade de você ser de outro mundo apareceu. - Crowley alisava a testa com a mão, como se estivesse tentando se livrar de uma grande dor de cabeça... No caso eu.

Maitê: Acho que é isso mesmo que está acontecendo, Diretor.

Crowley: O que tinha com você quando veio pra cá? Alguma identificação, como uma carteira de habilitação mágica, nome em um sapato. - Ele para de falar e olha pra mim, esperando uma resposta. Eu aceno que não com a cabeça.

Crowley: Você está de mãos vazias... - Ele olhava pra mim com pena, como quando olhamos um cachorrinho na chuva mas não podemos fazer nada pra ajudar ele.

Maitê: Sim. - Foi tudo que pude responder.

Crowley: Que problema. - Ele começou a falar consigo mesmo. - Não posso simplesmente deixar alguém que não possa usar magia ficar na escola. No entanto, como um educador, não posso simplesmente botar um adolescente sem dinheiro com nenhuma forma de comunicação pra fora. Pois sou muito generoso.

Eu já estava dando a ideia de ele me deixar em uma delegacia, pra evitar mais problemas aqui na escola. Mas acho que os policiais não iriam conseguir me ajudar de qualquer forma, acho que ninguém por aqui consegue abrir portais pra outros mundos, né?

Crowley: Hummm... Ah! Há um prédio que não está sendo utilizado em campus. - Seu tom de voz voltou a ficar animado e ele parecia mais alegre. - Já foi usado como dormitório no passado, então se você limpar, você deve conseguir pelo menos dormir lá.

Já estava imaginando na quantidade de poeira que deve ter lá, mas era melhor que dormi na rua. Acho que esse manto que estou usando consegue me proteger da poeira.

Maitê: Ok, aceito dormir lá. - Crowley olhou pra mim com olhos brilhantes e rapidamente se levantou da cadeira.

Crowley: Por hora, permitirei que fique lá! E por enquanto, vou procurar por um jeito de lhe retornar para casa. Minha generosidade é sem limites! Sou um modelo para todos os educadores. - Ele dizia se gabando e fazendo pose, eu me levanto da cadeira e fico na sua frente.

Crowley: Então vamos indo para o dormitório. Pode estar um pouco velho, mas certamente tem seu charme. - Eu acompanhava ele até as grandes portas da biblioteca e indo para o corredor escuro com as sombras da noite e o brilho fraco mais tão lindo dá lua para pudemos ver nosso caminho.

É, as vezes nós conseguimos ajudar o cachorrinho que está na chuva, mesmo que inconscientemente.

Twisted Wonderland: Apenas maldade em meu serOnde histórias criam vida. Descubra agora