Insuficiente

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“Eu farei qualquer coisa... por favor...”

Vermelho fresco manchado nas mãos sujas e cinzentas. Pele como alcatrão, as unhas cravadas profundamente na pele antes de aparecer na superfície, gerando um gemido abafado. 

"Oh Deus... eu não quero fazer isso... não me obrigue...!"

Anessa ouviu um homem falando, seus soluços eram dolorosos e baixos. Como se ele estivesse chorando há muito tempo. Aquelas mãos tremiam, tremendo a cada respiração irregular. Outro lamento, mas desta vez dele. Um grito doloroso e cru que soou quase desumano. Ele não queria fazer isso, ela podia sentir o arrependimento e o pânico crescendo em seu peito. Mas aquela dor no estômago... aquele resmungo. 

"Estou com tanta fome…"

As pontas dos polegares pressionaram trêmulas contra a garganta da vítima, os olhos lacrimejando e arregalados de terror.  "Me desculpe, me desculpe! E-eu não consigo parar…!”  Houve um som desagradável quando a escuridão tomou conta da visão de Anessa. Suspiros gorgolejantes e sufocantes misturados com chutes furiosos e plantas arrancadas do chão. 

Houve um ronronar de conteúdo entre estalos desleixados de carne, e uma vez que aquele som particular de estalo soou em seus ouvidos, ela percebeu que a luta cessava. 

"…Eu me sinto melhor…"

Anessa acordou do sono, uma secura trazendo grande desconforto aos seus olhos. As escleras estavam vermelhas de exaustão. Ela podia sentir as bolsas se formando sob suas pálpebras, o suor frio manchando sua pele. Relutantemente e com muito descontentamento, Anessa se senta relaxadamente. 

“Jack ...” ela falou consigo mesma, e foi a primeira vez que ela falou em alguns dias. Os olhos castanhos se estreitaram em seu despertador – 4h32. Geralmente era por volta da primavera que Anessa tirava férias remuneradas. Nessa época, ela faria uma longa viagem e conheceria o campo, visitaria o túmulo de sua mãe e depois usaria o resto da semana para pescar no lago favorito de seu pai, alguns quilômetros ao norte. 

Isso não era mais uma opção. Era quarta-feira, três dias depois, e ela nem tinha saído do quarto desde que voltou do trabalho. De vez em quando o telefone tocava, mas se fosse importante entravam em contato com o celular dela. Ela só saía para tomar banho ou alimentar os gatos e nada mais. 

Um resmungo revirou seu estômago.

Ela supôs que era hora de comer de novo – com o quão eficiente esse novo corpo era, ela raramente precisava fazê-lo. Mas quando chegou a hora, ela odiou muito. Ossos quebraram, suas articulações estalaram devido à falta de movimento. Anessa dormiu por muito tempo. Ela constantemente se preocupava que Jack aparecesse durante o sono para matá-la, mas isso nunca aconteceu. 

Neste momento, Jack estava caçando ou dormindo em algum lugar. 

Não demorou muito para Anessa se perguntar se aquelas estranhas visões durante o sono eram memórias dele. O pensamento lhe ocorreu há algum tempo. Aquele homem – aquele homem aterrorizado, perturbado e torturado. Anessa olha para suas mãos, músculos fracos, secos e cansados ​​se contraindo sob sua pele pálida. 

Se fosse Jack... isso não significaria que ele costumava ser... normal?

Se fosse esse o caso... então... Anessa a interrompeu para pensar. Não, ela tinha que guardar segredo, caso contrário ele a faria pagar. Anessa se força a realizar algumas tarefas diárias.

Carne crua (Eyeless Jack)Onde histórias criam vida. Descubra agora