Fraqueza

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O tique-taque do relógio bateu no final do corredor. Como sempre, era sempre pontual. Nunca hesitando, nunca atrasado entre seus pequenos tapinhas gentis, e por isso era estranhamente reconfortante. Jack nunca se sentiu intimidado por uma situação. Nunca senti necessidade de se acalmar antes da tempestade. A tempestade que ele esperava era grande, com nuvens que se estendiam por quilômetros e uma escuridão que nem mesmo sua própria sombra - sua própria psique - poderia comparar.

Anessa voltou ao trabalho no dia seguinte e Jack sentiu um grande ressentimento pela forma como a infraestrutura humana era mantida. Ela foi atacada ontem. Seu carro estava esfarrapado e seu corpo coberto de arranhões. O que o departamento de polícia fez? Dê a ela uma nova arma e veículo antes de mandá-la de volta. O mínimo que poderiam ter feito era dar-lhe um dia de folga.

Suave - ele se sentiu macio novamente. Ela não ficou ferida. Mesmo um membro quebrado não significava nada para ela agora. Sim, ela ainda não estava acostumada a sentir tanta dor regularmente, mas estava além de seus companheiros. Mais ainda, Jack sentiu vontade de mantê-la por perto. Do lado dele. Porque ele sabia muito bem que nenhuma quantidade de munição, janelas de carro ou reforços poderiam protegê-la daquela tempestade.

Segundo ela, a breve reunião que teve com o resto do seu plantel levou a algo que ela gostava de chamar de protocolo de "olhos e ouvidos". Os policiais estavam atentos a alguém usando máscaras, o que significava que Jack precisava ser extremamente cuidadoso. Não que ele se importasse - ele era muito mais ilusório do que suspeitava ser a causa de sua doença. Por volta das quatro horas, Jack ouviu o carro dela estacionar na entrada.

Três horas mais cedo? Chance.

O clique familiar da porta da frente o fez esquecer completamente daquele relógio idiota. Anessa entra com uma pasta nas mãos cheia de papéis. Ela puxa a gravata apertada em volta do pescoço, a camisa bronzeada com babados e rugas. Ela ficou de pé o dia todo, a estação em pânico depois do que aconteceu ontem.

"Cheguei", ela disse, como sempre, e era algo que ele estava ansioso para ouvir. Colocando a gravata no cabide, ela se aproxima da cozinha. Jack estava caído sobre o bar, com seu capuz habitual e calças marrons. Folhas e sujeira esfarrapavam o fundo, formando uma espessa camada de lama. Irritada, Anessa deixa cair os arquivos no balcão a poucos centímetros do braço de Jack.

"Eu disse para você ficar em casa hoje", ela tentou deixar seu mau humor claro como o dia para ele. Como se ele precisasse de algum esclarecimento. Ele podia ver as bolsas escuras sob os olhos dela, as rugas estressantes marcando os pés de galinha pelo quanto ela deve ter esfregado para tirar o sono deles. Seu cabelo estava preso em um coque apertado, algo que Jack nunca tinha visto antes, e isso lhe dava uma visão clara de seu pescoço. Já havia desaparecido, mas ele se lembrava vividamente do hematoma que o marcava. De repente, ele ficou com raiva novamente.

Um grunhido foi tudo o que ele deu a ela, não tendo interesse em provocar a mulher enquanto ela enchia um copo com água da pia. Enquanto ela bebia, ele percebeu que seus olhos vagavam dela para a pasta parda. Garras com garras se estenderam, gentilmente o suficiente para não danificar as folhas de papel quando ele o abriu. Papel de impressão normal com algum tipo de caixa pressionada com tinta preta.

"Cuidado com isso", ela enxuga a umidade ao redor dos lábios. Jack rosna enquanto ela desliza a pasta para ficar de frente para ela. Ele teria dito algo abrasivo, mas em vez disso ficou fixado no rosto dela. Anessa estava olhando para as muitas folhas de papel, com o cabelo preso tão apertado que ele podia ver o puxão desconfortável na linha do cabelo. Enquanto ela falava - algo sobre gráficos e perfis -, ele estende a mão para pegar um elástico de cabelo lilás. Ele se quebra entre suas garras afiadas, o cabelo dela se desfaz antes de cair pelos ombros como água. Estava mais fofo que o normal, os cachos volumosos e encharcados com seu perfume. Ela olha para ele.

Carne crua (Eyeless Jack)Onde histórias criam vida. Descubra agora