shiver

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CHARLOTTE LENOIR

Eram exatamente seis e meia da tarde quando percebi que o cansaço, tanto físico quanto mental, já estava se manifestando intensamente em meu corpo. Eu estava de plantão há exatas 36 horas, enfrentando madrugadas na ativa e uma sucessão constante de pacientes no consultório.

Enquanto prescrevia alguns medicamentos e carimbava a receita de um paciente, desviei o olhar momentaneamente para minha garrafa térmica, na qual encontrava-se meu café quentinho, clamando para ser saboreado. Eu estava uma bagunça, mas fazia um certo esforço para manter a compostura, considerando que meu turno chegaria ao fim em uma hora.

Só mais uma horinha, pensei.

Um sorriso amigável se formou em meu rosto enquanto explicava os detalhes das medicações para o paciente à minha frente. Esforçava-me ao máximo para disfarçar a exaustão, assegurando-me de que o senhor que eu atendia estivesse com todas as suas dúvidas sanadas.

Pouco tempo depois, me vi sozinha, finalmente desfrutando do meu tão precioso café, relaxando na cadeira enquanto fechava os olhos por alguns segundos. Soltei um leve bufar. Não que eu estivesse reclamando, afinal, foi para isso que me formei, e estou extremamente satisfeita com minha profissão. No entanto, concordemos que a rotina de uma médica recém-formada não é nada fácil, mesmo que eu tenha recebido minha graduação em Harvard. Você meio que precisa dos plantões depois da faculdade para adquirir o máximo de experiência possível. E, claro, juntar o dinheiro para aplicar em algum postdoc de qualidade, para que seu PhD não fique totalmente solitário no bordado do jaleco. Brincadeiras à parte, era uma vida inteira resumida em estudos e esforço constante. Mas eu amava.

Aproveitei quando uma enfermeira me informou, à porta da minha sala, que eu teria cerca de meia hora livre pela ausência de pacientes no hospital naquele momento. Rapidamente, peguei meu Kindle na bolsa e abri um novo livro, aproveitando a oportunidade para me manter acordada e dar adeus à minha ressaca literária.

Segui saboreando meu café enquanto lia algumas páginas de Cosmos do Carl Sagan, quando, após algum tempo, percebi meu celular vibrando, indicando a chegada de novas mensagens no grupo em que eu e meus amigos participamos:

Nanzinho, 19h:
Que horas preciso passar buscar a Laurinha no aeroporto?

Ashton, 19h05:
20h, cabeça de girino.

Laurinha, 19h06:
É notório o quanto sou importante pra vocês...

Um sorriso sincero automaticamente se formou em meus lábios, feliz em saber que, dentro de algumas horas, Laura estaria conosco. Já fazia muito tempo desde que todos nós nos reuníramos assim, pois Renan mantém uma agenda agitada em Los Angeles, enquanto Laura reside no Brasil. Apenas Ashton e eu permanecemos firmes em Londres.

Nossa história é um emaranhado de amizades improváveis que se mostraram verdadeiras e duradouras ao longo dos anos. Conheci Ashton quando era caloura em Harvard. Ele estava concluindo o curso de gastronomia, e eu estava iniciando minha jornada na medicina. Quanto a Renan, nos encontramos na fila de um clube noturno em Barcelona, quando ainda não era famoso e estava no início de sua carreira como ator. Ele, por sua vez, nos apresentou a Laura, que também estava no começo de sua ascensão profissional como escritora.

O mais curioso é que somos completamente diferentes uns dos outros, mas, de alguma forma, nunca mais conseguimos nos separar. Nem mesmo a distância nos impediu.

No cenário atual, Laura está vindo passar alguns meses aqui em Londres, pois está prestes a escrever a biografia de um famoso influente do país. E o escolhido da vez é nada mais, nada menos que Lewis Hamilton. Sete vezes campeão mundial de Fórmula 1, um grande orgulho para a sociedade britânica e provavelmente para o mundo também. Mesmo que eu não seja muito atenta ao automobilismo, ao menos reconheço o potencial talento do cara.

𝐒𝐏𝐀𝐑𝐊𝐒 - 𝐋𝐄𝐖𝐈𝐒 𝐇𝐀𝐌𝐈𝐋𝐓𝐎𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora