the day we met

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CHARLOTTE LENOIR

Confesso que estar em um ambiente recheado de pessoas não era exatamente uma das minhas atividades preferidas para um domingo. No entanto, contava com a presença dos meus amigos para amenizar minha estranheza em relação ao local.

Caminhava ao lado de Sauron, que estava entusiasmado por sair um pouco de casa, farejando e observando tudo com cuidado. Certifiquei-me de que sua coleira estivesse bem firme em minhas mãos, pois, apesar de ser um cão dócil, era um ambiente totalmente desconhecido para nós. Por precaução, íamos com cautela pelo paddock.

Eu usava um crachá especial que me concedia todos os privilégios da equipe Mercedes AMG, cortesia de Laura.

No momento, estava momentaneamente afastada do meu grupo de amigos para que pudesse caminhar livremente com meu cão até a hora da corrida.

A ideia de explorar o local não parecia mais tão má, já que a cada momento me deparava com garagens de equipes variadas que competiriam naquele dia. Sentia-me deslumbrada e, ao mesmo tempo, uma completa ignorante por não entender nada sobre automobilismo, estando tão próxima dos pilotos e suas equipes. As pessoas fotografavam tudo e todos ao mesmo tempo, o que era divertido de se observar.

Quando percebi o cansaço de meu cão, não hesitei em voltar para o box da Mercedes, cruzando a catraca principal com meu crachá. Era impressionante o quanto precisava estar atenta para não me perder no local; tanto é que carregava um pequeno mapa do paddock em minha mão livre. Na garagem, dirigi-me a uma barraca onde funcionários distribuíam garrafinhas d'água para quem tinha acesso àquela área. Ofereci-me para pegar duas: uma para mim e outra para hidratar Sauron.

Foi exatamente nesse momento que, vacilando por apenas um milésimo de segundo, assustei-me quando Sauron emitiu um latido alto, fazendo-me derrubar sua coleira enquanto estendia as mãos para pegar as garrafinhas. Franzi o cenho ao desviar o olhar para ele, que encarava atentamente um cachorro de pequeno porte não muito distante de nós. O cão encarava Sauron igualmente curioso, e quando me dei conta, meu companheiro saiu em disparada atrás do outro cachorro. Meu coração gelou, pois não fazia ideia do que estaria prestes a acontecer, e a última coisa que precisava nesse momento era um incidente envolvendo um bulldog inocente.

Meu cérebro mal processou a informação e, quando percebi, corria em direção a Sauron, que perseguia o cãozinho que fugia desesperadamente do meu.

Quais as chances, meu Deus?

— Sauron! — Berrei, tentando ao máximo não esbarrar nas pessoas enquanto corria o mais rápido que podia. Acabei chamando a atenção pelo grito, atraindo olhares da equipe e dos visitantes. Eu literalmente poderia morrer de vergonha agora.

Houve um momento em que meu sedentarismo falou mais alto, e precisei recuperar o fôlego, apoiando minhas mãos nos joelhos enquanto observava os cães cada vez mais distantes. Arfei, tomando forças novamente para voltar a correr atrás de ambos; que haviam decidido parar de correr loucamente para se cheirar com entusiasmo. Uma onda de alívio percorreu meu corpo quando percebi que Sauron não tinha más intenções consigo. Parei de correr aos poucos, percebendo que havíamos parado em um local praticamente vazio depois de tanta correria.

Respirei fundo, expressamente aliviada quando os dois começaram a brincar juntos. Ainda ofegante pela corrida repentina, sorri.

— Que porra é essa? — Uma voz desconhecida esbravejou logo atrás de mim. — Você acha mesmo que pode andar com um cachorro desse tamanho sem coleira, sua maluca?

Olhei para trás, notando que o dono da voz era nada menos que Lewis Hamilton. Seu tom de voz não me agradou, especialmente enquanto ele se aproximava cada vez mais.

— Eles estão brincando... — Me defendi, apontando para os animais que mais pareciam filhotes abobados naquele momento.

— Ah, sim. Seu cachorro saiu correndo como se estivesse prestes a assassinar o meu por pura brincadeira, então? — Ele manteve o tom elevado e o cenho franzido, claramente enfurecido com o ocorrido.

Porra. Era o cachorro dele.

Suspirei fundo, levando uma mão à testa para disfarçar o suor da corrida repentina. Não tinha muitos argumentos naquela situação. Pior, poderia até mesmo ser processada e fazer Laura perder a chance de trabalhar com Hamilton em sua biografia. Respirei fundo mais uma vez.

— Peço mil perdões, senhor. — Respondi, reunindo forças para manter a calma. Gostaria de defender meu cão e explicar que a situação não era nada do que parecia, mas estava de frente com uma pessoa com uma quantidade significativa de poder, e eu reconhecia minha posição ali. — Foi um descuido da minha parte. Vacilei por um momento, e a coleira dele escapou das minhas mãos.

Ele pareceu ainda mais incomodado após escutar a palavra "senhor" sair da minha boca, provavelmente interpretando aquilo como uma provocação. Não era exatamente a reação que eu buscava causar no indivíduo, e eu já não sabia mais onde enfiar a cara.

— Seria aconselhável aprender a cuidar melhor de um animal que é praticamente do seu tamanho antes de decidir trazê-lo para um evento desse porte — Hamilton não cedia, e sua sentença não contribuiu para melhorar meu temperamento.

— Está sugerindo que eu não sei cuidar do meu próprio cão? — Quase rosnei em resposta, prestes a perder a paciência com o piloto. — Foi você quem deixou o seu cachorro andando por aí sem supervisão!

— Agora a palavra "senhor" sumiu do seu vocabulário, não é? — Provocou de volta, aumentando minha vontade de esganá-lo.

— Você fez com que eu perdesse a paciência! Caramba, eu estava tentando ao máximo ser educada, mesmo você me respondendo com ignorância de sobra. — Revirei os olhos, cruzando os braços. — Vê algum ferimento grave no seu cachorro ali? Tem manchas de sangue no chão, por acaso? — Apontei para os dois cães, que agora estavam sentados um ao lado do outro, observando atentos nossa discussão.

O piloto pareceu ceder minimamente, voltando a olhar os cães. Não havia absolutamente nada com o que se preocupar ali.

Ele suspirou, voltando seu olhar para mim, como se estivesse querendo capturar cada pequeno detalhe. Tentei ao máximo não me intimidar com o modo como ele me observava.

Seus olhos pararam no meu crachá e depois encontraram-se com os meus. Não desviei o olhar, ainda com os braços cruzados e o semblante nada contente.

— Focinheira. — Ele respondeu, por fim. Ri, incrédula, negando com a cabeça. — Focinheira, ou peço para barrarem sua presença nos paddocks por tempo indeterminado.

— Você está brincando, não está?

— Bom, você quem sabe. — Ele deu de ombros, chamando pelo nome de seu cão para que pudessem voltar à garagem. O pequenino foi até ele. — Ou talvez eu tenha que informar Laura Lima que não poderei trabalhar com ela em minha biografia por imprudência de Charlotte Lenoir, sua convidada. — Finalizou, indiferente.

Filho da mãe. Meu crachá foi seu álibi ali. Senti meu sangue ferver, podendo, a qualquer momento, agarrá-lo pelo pescoço e chacoalhá-lo como um boneco de pano.

Por fim, apenas assenti, mantendo meus desejos comigo. Jamais me perdoaria se algo acontecesse com o trabalho de Laura.

— Focinheira. Tudo bem. — Concordei, não me demorando a caminhar até Sauron e agarrar sua coleira novamente. Hamilton observou a cena, enquanto eu evitava ao máximo olhar para ele enquanto me afastava, tomando meu caminho de volta à garagem.

— Boa garota. — Recebi sua última provocação, mas preferi não dar palco. Apenas o observei de canto enquanto me afastava, temendo causar mais problemas com o mesmo.

Inacreditável, pensei.

𝐒𝐏𝐀𝐑𝐊𝐒 - 𝐋𝐄𝐖𝐈𝐒 𝐇𝐀𝐌𝐈𝐋𝐓𝐎𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora