01 | the deal

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ANY GABRIELLY

MIAMI, FLÓRIDA.

— Você tá ficando maluca.

Olho para Mel. Ela apenas ri da minha feição chateada e volta a pintar as unhas junto com Shivani e Nour. Hina estava deitada do meu chão de carpete nos ouvindo falar.

— Não estou não. — digo, reforçando meu pensamento. — Na minha cabeça isso é uma ideia ótima.

— Isso, na sua cabeça. — Shivani diz. — Você quer o que? Ser assasinada?

— Ele não vai me matar, porra.

Hina sibila algo como "você não sabe" e continua deitada no chão. A verdade é que, por mais que elas não queiram assumir, eu tinha razão. Ele não iria me matar, pelo menos eu acho.

— Como você tem tanta razão disso? — Mel volta a falar, lendo meus pensamentos. — Any, esse garoto te odeia. Ele te mataria se pudesse.

— Eu odeio aquela filha da puta também. — reclamo, me esticando o suficiente para pintar o dedão do pé de vermelho. — Mas como eu disse, ele não vai fazer nada comigo.

Noah Jacob Urrea era o nome do meu inferno diário. Desde agosto, quando ele chegou nos portões do Sandia como se fosse o dono daquele lugar. E ele não era, porque a rainha era eu, e só existe um lugar no trono de Sandia International School: o meu.

Esse garoto me irrita até quando respira. Queria poder cortar a língua dele fora e impedir que ele falasse mais alguma asneira. Sempre que ele pode, me diminui, me humilha e me faz sentir vazia pra caralho.

E ele quer que eu o entenda. O que? Eu sou a porra de uma líder de torcida, cacheada, morena e dos olhos castanhos. Sou baixinha, tenho cintura fina, muita bunda e muito peito. Ele me odeia porque eu sou a porra de um padrão.

E eu odeio ele porque ele é um filha da puta descarado, e nem tem vontade de esconder isso. Noah ganha garotinhas de dezesseis anos por causa daquele sotaque besta dele, o corpo e a áurea de bad boy.

Não me surpreenderia nem um pouco se ele fosse dono de uma gangue.

— E porque ele? — Nour questiona.

— Porque ele precisa de grana. — falo. — Nenhum de vocês precisa de mais de duzentos dólares por semana, temos muito mais do que isso.

— Ninguém nega grana, porra. — Ela diz.

— Não seria convincente pros meus pais se eu aparecesse com Aaron ou o Jacob aqui em casa. — digo, assoprando o esmalte nas unhas dos dedos das mãos. — Namorar Noah Urrea seria muito mais convincente.

Meus pais acham que eu sou uma criancinha mimada. Eles acham que eu não consigo sobreviver um mês sozinha na minha própria casa. Não ficaria surpresa se eles mudassem de ideia depois de descobrir sobre aquela noite.

Já fui uma princesinha as claras, mas esse ano, faltando seis meses para a nossa formatura do ensino médio, eu simplesmente desisti de esconder essa áurea de princesa perdida. E mesmo que eu seja, foda-se, eu desisto.

Vou para Duke em agosto, levando todo o dinheiro possível que eu conseguir. Eles ainda vão me sustentar, claro, mas ficarei o mais longe possível que eu conseguir.

— Estamos aqui para recolher seus ossos caso você morra. — Shiv brinca, se levantando da cama e me abraçando. — Nós vamos indo. Amamos você.

— Eu amo mais. — solto um sorriso largo, e vejo elas sairem pela grande porta grande do meu quarto, já sentindo saudade.

[...]

O clima em Miami nessa época do ano era horrível. E eu odiava mais ainda quando tinha que usar uniforme das líderes de torcida, já que a malha gruda na pele que nem chiclete. Odeio isso.

O estacionamento para quando eu pulo pra fora do meu Range Rover. Escuto assobios, algumas pessoas acenando e eu passo por todas, indo em direção ao meu grupo de amigos.

— Elas me contaram que você pirou da cabeça. — Corbyn diz, passando seu braço por cima do meu ombro.

— Elas estão blefando. — digo, e viro-me para encarar Lamar. — Não corro perigo de vida se esse cara aqui é meu amigo.

Ele me lança um dedo do meio, e eu o respondo na mesma medida. Comprimento todos os meus amigos, e andamos juntos para dentro do Sandia.

Daqui a alguns meses esse colégio terá outra abelha rainha, e outra turma de populares tão famosa quanto a família do presidente dos estados unidos. E sinceramente? Eu não estou nem um pouco preparada para isso.

Meu armário fica bem no corredor principal. Aceno para as pessoas que conheço é caminho até o mesmo, escancarando a porta de metal
vermelha. Todos os meus amigos tinham armários no mesmo corredor.

— É verdade? — Krystian pergunta ao meu lado. — Hina me contou ontem a noite. Ela disse que você estava ficando doida.

— Meus miolos ainda estão no mesmo lugar. — Comento, fechando a porta vermelha na minha frente. — Juro para você, estou bem.

Caminho pelo corredor, olhando para os lados e tentando achar o meu alvo do dia. E quem quando eu já estava desistindo, o acho, escorado em uma mureta de concreto. Ele lia algo, com certeza fingindo que era culto.

— Oi, Pompons. — ele diz. Noah me atormentava com esse apelido desde que me conheceu, em agosto. — Você está sujando o chão de merda, melhor ficar longe.

— O mesmo pra você, Otario. — respondo de cara fechada, e caminho em passos lentos até o lado do garoto. — Eu tenho uma proposta?

— Sério? Você pensa? — ele parece chocado. — Bom saber que aí dentro não é só miolo mole.

— Cala a boca e me deixa falar. — digo ríspida, ainda o olhando. Ele vira os olhos para o livro em mãos e finge que eu não estou ali. — Duzentos dólares por semana. Um mês.

— E eu preciso ser o que? Sua mesinha de cabeceira?

— Meu namorado.

Ele ri. Ri tão alto que me causa desconforto. Me aninho entre os meus braços, esperando a resposta dele.

— O que foi? Seus amigos não deram conta?

— Duzentos dólares, Urrea.

— E você pensa que eu sou quem porra? — ele diz ríspido, fechando o livro com tanta força que as páginas quase rasgam. — A catraca de ônibus aqui é você.

Noah pega a mochila do chão e sai pisando firme. As pessoas ainda nos olhavam, mas eu fingia que não era eu ali. Levantei a cabeça e também me retirei do corredor.

Eighteen ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora