Madrugadas

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17:00 PM - 21/06/2023 - segunda-feira.

     Quando terminei de declamar o poema mais aleatório de minha vida, pude perceber o espanto presente no rosto de todas as crianças, jovens; professores e padres presentes no salão principal. No entanto, o único sorriso; o único aplauso, e a única reciprocidade que eu precisava, estava lá: Christian me aplaudiu e sorriu exacerbadamente eufórica e poética; foi ,senão, o único que entendeu-me; o único que compartilhou das minhas eloquentes lágrimas de loucura e amor. Ele me deixa louco, e fico feliz por isso.

— Okay! Okay! - gritou um dos padres nos assentos do salão -, Já basta! Já basta! Jovenzinho rebelde! Venha comigo! - disse isso enquanto foi ao palco, e apertando meu braço, tentou tirar-me do salão.

     Um grito desesperado de amor; uma solene alma em calor; um fervoroso louvor; chamou por mim, salvando-me das mágoas do amargor.

— Espera, padre! - gritou Christian, desesperado -, por que?! Por que?! Não pode silenciar ou calar o poeta! É pura barbárie! Pierre fez uma Linda declamação de um lindo poema!

— Por Deus, Christian! Não... Se intrometa ! - disse isso dando um tapa no rosto do garoto -, tu és uma intensidade pecaminosa! Tua punição lhe aguarda!

     Acho que nunca senti tanta vontade de agredir um padre assim. Por Deus, como esse bárbaro consegue se denominar "cidadão do bem" ou até mesmo se auto denominar humano, batendo em um adolescente de quatorze anos, que homem patético. Esdrúxulo e louco - e não de uma forma boa. Que homem ignóbil!

— Não! ! ! - Christian gritou, desesperadamente -, Não vai me tirar de perto dele, ou tampouco nos silenciar! Pierre é um poeta incrível, e o senhor tem um gosto péssimo! (...) e cheiro também!

— Seus pirralhos imbecis! - gritou o homem, largando do meu braço -, Se é assim que querem, tudo bem! (...) detenção para os dois! Sem jantar, sem missa (...) sem nada! Vão limpar o salão agora mesmo! E quando eu voltar aqui quero ver o salão brilhando!

     O padre foi embora, levando sua corcunda, sua estatura média e hálito horroroso junto com ele.
     Alguns minutos se passaram, todos que ali estavam no salão, agora foram embora, provavelmente rezando e comendo uma deliciosa macarronada.

— Cara (...) foi mal... Você perdeu a janta por minha culpa — disse ao garoto.
— Ah, e você acha que eu ligo de (...) comer aquela macarronada extremamente deliciosa? - deu um sorriso irônico -, ficar aqui contigo é bem melhor.

     O salão está mais sujo que o meu quarto - e olha que eu ainda tento limpar aquele quarto -, tem papel de doce, sujeira de comida, e muitas manchas espalhadas por todo este lugar, por Deus, minha jornada pelo amor está realmente sendo difícil - mas não vou reclamar, tenho alguém para compartilhar as desgraças.

— Nossa, que preguiça - bocejei -, sabes onde podemos encontrar as vassouras? e terminar isso de uma vez por todas.

— Sei, deixa eu ir lá pegar no depósito rapidinho.

     E enquanto ele se esvaiu da minha frente até o depósito do salão, infelizmente acho que irei cair em reflexão; ele é uma madrugada interminável de sonhos; ele é como sonhos da nossa infância; como o colo de uma mãe. Ainda lembro os doces momentos que tivemos naquele lago, e como nossas almas não somente se entrelaçaram, mas se entregaram, se abraçaram; se amaram. E para mim, acho que ele é a primeira pessoa que de fato me fez sentir "amor", porque até então, eu não sabia o que era essa palavra; além de dor e sofrimento. E agora, tenho o orgulho de dizer: o amor é fantasia, um sonho!

O amor é um sonho
De palavras Misturadas
E quando as almas são entrelaçadas
O amor se torna uma frase maravilhada

— Ei! Toma aqui - disse o garoto, dando uma vassoura para mim.

O garoto e a estrelaOnde histórias criam vida. Descubra agora