00:30 AM - 23/06/2023 - quarta-feira.
— Ei... Acorda... - escutei de longe a voz do chris, ela estava calma, fraca, e delicada.
— Christian? - acordei, confuso e sem ao menos saber onde estou -, que horas são?
— Deve ser de madrugada, eu acho (...) você dormiu bastante - deu uma pequena risada enquanto deitava a cabeça na curvatura do meu pescoço, e juntos, estávamos observando as estrelas.
— Eu dormi por tantas horas assim?
— Sim...
— E o que fez durante o tempo?
— Ainda bem que tocou no assunto! - fuçou os bolsos à procura de algo. Tirando deles, uma carta -, fiz-te uma carta! (...)
— Ah, sério?! Obrigado! (...) posso ler?
— Não... Bom, ainda não. Quando é o seu aniversário?
— Dia 26 desse mês...
— Sério?! (...) então vamos fazer o seguinte: no seu aniversário, vamos nos encontrar aqui mesmo, comprar um bolo, e junto iremos ler a carta! Ela será o meu presente para você! (...) meu grande poeta!
— Combinado! (...) Christian, o que acha de irmos para a cidade?
— Agora?
— Sim!
— Com essas roupas...?
— Absolutamente sim!
— Como?
— Bom, antes de vir para esse colégio, como sou extremamente pessimista... E não tenho um grande gosto por socializar, eu estudei sobre os horários de trem! E vi que o mesmo trem que nos trouxe até aqui, também parte de madrugada, para os trabalhadores e funcionários, não somente no colégio, e sim, os trabalhadores que trabalham aqui perto.Pude ver um abissal olhar de aventura e felicidade no garoto, ele estava feliz. Logo nos levantamos, e seguimos até a estação do horário da madrugada.
Enquanto andamos, Christian estava com um olhar extremamente vívido; era como se o garoto estivesse se aventurando pela primeira vez; era lindo! Assim como ele.
Leitor, ultimamente tenho me sentido tão vivo como nunca antes - extremamente óbvio, já que, minha 'vida', antes fora permanecer no quarto e chorar o dia todo; agora, posso fazer o mesmo, no entanto, com quem amo, e sou amado. És assim tão, perfeitamente lindo, sem defeitos, puro.
Logo mais, chegamos a estação da madrugada, era uma estação de trem similar à que fui, para pegar o trem até o colégio. Estava quase completamente consumida pelo vazio, tinha apenas uma pessoa, um homem... De vestes rasgadas, um chapéu preto e rasgado... Parecia-me familiar.— Aí, Pierre, que fome... Vou caçar algo para comer, já volto.
Christian foi ao fundo da estação, à procura de algo para comer, aproveitando a chance, fui até o homem.
— Está bem frio hoje, não? - perguntei, uma tentativa falha de puxar assunto.
— É... Bem frio - respondeu o homem -, Porém, o que há de ser o homem, sem o frio, e sua constante fome?
— Senhor... Posso parecer-me estranho, mas, de alguma forma sinto que já te conheço... E até penso que já pude conversar contigo... Nos conhecemos? Quem és?
— Ah... Miraculoso... Quem sou, não te importa; afinal, tampouco eu, consigo me entender, ou falar, quem eu sou; posso ser tantas coisas, e tantos; posso ser luz, ou posso ser trevas; posso ser o frio que congela a alma, ou o calor do amor. Posso ser qualquer um, e mesmo assim, não saberei nunca, quem eu sou... Porque somos assim. Sempre querendo ser, e nunca sabendo ser. Sempre querendo, nunca sendo.
— Não entendo, senhor, eu - interrompeu-me o homem.
— E esse é o seu erro. Tentar entender. Veja, Pierre, somos tristes porquê sabemos, somos pecaminosos porquê sabemos, somos maléficos porquê sabemos; somos preenchidos com maldade, tristeza, dor, sofrimento e dúvidas: porquê sabemos. Quando mais tentamos entender, mais iremos sofrer. O verdadeiro conhecimento, é não conhecer. Se temos a imaginação, a magia, a fantasia, por quê, então, escolhemos a realidade? (...)
O homem me deixou sem palavras, eu sabia que o conhecia de algum lugar, mas não lembro.— Pierre, tu amas não somente a essência, como amas o receptáculo por inteiro. Meus parabéns.
— Obrigado... Eu... Acho?
— Pierre. Hoje, recitarás um poema lindo para tua estrela, e deste, irá se aprofundar mais ainda, no sonho, que é o amor recíproco. Apenas tenha calma, teu paraíso já está ao teu lado, hoje, o poeta será o verso mais lindo de todos.
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O garoto e a estrela
RomanceAmor, solidão, prefácios; melancolia, intensidades; seria o amor, impossível para dois jovens?