6. SUNGHOON

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O que eu menos queria era passar o domingo trancado dentro do meu quarto. É o único dia que eu e os meninos temos livres, e é quando realmente podemos fazer algo juntos. Mas a minha cabeça se recusava a me tirar dali. Ver como a Yuki age fora do centro de treinamento é algo que ainda não sei descrever. Eu só queria não deixar ela ir embora, deve ser por isso que fiquei parado feito um idiota na frente do dormitório feminino, eu não estava pronto para deixar ela ir.

Queria saber o que aconteceu para ela começar a ter uma crise de pânico assim que chegamos ao boliche e isso me deixou tão assustado que não sabia se deveria voltar a tocar nela, porque me sinto um total culpado por isso. Mas cada parte de mim só queria proteger ela. Ela consegue ser frágil e forte ao mesmo tempo. Ela leva a patinação tão a sério e leva a vida de um jeito que eu só queria compreender mais, porque quanto mais eu a vejo fora dos treinos, eu não sei se ela quer aproveitar ao máximo ou evitar tudo, na mesma intensidade.

Niki disse que ela ainda estava com medo, e o que passa na minha cabeça é uma simples pergunta: 'medo de que?'. Sei que ela esteve em coma, mas... do que ela realmente tem medo? Ela estava toda alegre me explicando sobre os pratos que tinha pedido para comermos e eu só conseguia me concentrar no sorriso que ela estava me mostrando enquanto falava sobre comida, ela se empolga quando explica alguma coisa que gosta, não era a primeira vez que a via fazendo isso.

Me sentei na cama quando senti meu celular tocar. Vi o nome do Sunoo na tela.

     - Onde você tá? - Ele disse assim que atendi.

     - No meu quarto. - Eu disse sem ânimo.

     - Abre a porta pra mim, eu já bati na porta umas 70 vezes. - Ele disse.

     - Que?

Eu levantei, fui até a porta, abrindo a mesa. Ele estava sentado no chão do corredor.

     - Entra. - Falei e entrei de volta no quarto.

     - O que aconteceu com você? Está com uma cara péssima. - Me joguei na cama de volta.

     - Nada. - Escutei ele fechando a porta e andar dentro do quarto.

     - Eu acho que isso se chama Yuki. - Ele disse e eu levantei a cabeça para olhar ele, que estava se sentando no meu puf.

     - Por que?

     - Você saiu com ela ontem e depois sumiu. - Ele disse como se fosse óbvio. - É quase uma da tarde, sabia? - Olhei o relógio pela primeira vez desde que acordei. - Já comeu? Vamos até a conveniência, aí você me explica o por quê de você está com essa cara.

Às vezes eu odeio o fato de que o Sunoo parece que consegue ler a mente das pessoas, ou eu que sempre fui muito transparente? Ele esperou minha boa vontade de levantar e me arrumar. Fiz o possível para não demorar muito.

     - Pode falar agora. - Sunoo disse colocando uma latinha de refrigerante na minha frente, enquanto se sentava.

     - Eu acho que a Yuki tem medo de mim. - Sunoo me olhou sério. - Não medo de mim, mas de estar comigo, sozinha. Ela quase teve uma crise de pânico ontem e eu fiquei tão assustado.

     - Isso não é culpa sua.

     - O que?

     - Sunghoon, a gente não sabe o que ela passou. - Ele começou a explicar. - Tenta se colocar no lugar dela, vida nova, gente nova, país novo, tudo novo. Ela chamou o passado dela de inferno. Por aí você já tira.

O que ele falou tinha razão, não tinha pensado por esse lado, o lado dela, mas me coloquei na primeira pessoa sempre. EU queria saber os medos dela, EU achava que EU era a causa da crise dela. EU. E na verdade, foi antes de mim.

BURNING ICE | SUNGHOON (EN-)Onde histórias criam vida. Descubra agora