As paredes daquele local eram sujas e gélidas, havia um certo odor de mofo subindo pelas paredes que davam a sensação de um lugar abandonado. Adulkittiporn não sabia dizer a razão de um ambiente tão insalubre o fazer se sentir tão completo, quando que por sua vez, o sadismo e a densa apatia por seus pacientes, juntamente do salário alto que alimentava seus bens materiais eram um prato cheio, ao qual Off jamais reclamaria por saborear.
— É claro que nada acaba com o seu humor, você não tem humor nenhum. - Aquele que acabava de proferir uma frase inquestionável, enquanto saboreava um champanhe caro, era Tay Tawan, um amigo de longa data do psiquiatra, Off Jumpol.
— Está me caluniando? Eu sou bem humorado quando algo me deixa animado.
— E o que te deixa animado? Me conte, sou seu amigo a oito anos e não faço ideia.
— ... Quando analiso a situação e percebo o quão cômica ela é. Como por exemplo estarmos comemorando o natal com o dono de um presídio psiquiátrico que está com superlotação, e sendo investigado por operações ilegais no orçamento público. Mesmo assim estamos conversando, sorrindo e tomando um belo champanhe depois de comer um Peru recheado e extremamente seco.
— É claro... que cômico. Mas sabe o que não é cômico?
— O quê?
— Você não desvincular do serviço nem na merda do Natal.
— Como eu poderia se estou literalmente em uma confraternização profissional?
— Off, você realmente vive quando atravessa as portas do presídio?
— Não, sou um robô feito só pra ouvir marmanjo fingindo transtorno mental.
— ... Eu acho que você está precisando de um belo chá de camomila.
— Não curto chá, obrigado.
— Por que não pega uma taça de champanhe? Nunca te vi bêbado, talvez seja mais cômico.
— Eu não me dou muito bem com bebida alcoólica.
— Você não bebe, não fuma, não transa, sua vida é só trabalho e cama. Por isso é amargurado.
— Você está mentindo outra vez. Eu sou médico, Tay, acha que tenho tempo para dormir?
— Oh... - Ele riu de forma rápida e quase imperceptível: - Isso foi engraçado, triste, mas engraçado, continue assim. - Respondeu dando dois tapinhas no ombro alheio.
Foi quando ouviram o soar da colher batendo na taça de cristal, o que fez ambos virarem o rosto para o chefe que sorria aos arredores.
— Oh, ele está com cara de quem vai fazer um discurso motivacional. - Tawan sussurrou.
— É hora do nosso coaching favorito brilhar.
— Desculpe interromper a conversa de todos. Mas já que chegando ao fim dessa noite, permitam-me dizer algumas palavras para essa equipe que faz tanto por nosso centro de custódia, Ganesha. Vejo rostos novos e antigos por aqui, todos alegres, com certeza pensando o quão gratificante foi ter concluído mais um ano, exercendo a função nobre de reintegrar cidadãos às normas da sociedade...
Jumpol prendeu o riso, já que ele realmente concluiu ter ouvido uma piada. Quando quê, no que lhe concerne, quase todos os homens e mulheres que cumprem pena em um presídio psiquiátrico só saem daquele lugar quando o cheiro da carne putrefata começa a incomodar os seguranças noturnos.
— Somos todos grandes profissionais, é uma honra tê-los conosco. E como a ótima pessoa que sou, amanhã de manhã, vocês receberão um presente de Natal.
— Amanhã? Mas amanhã já não é mais Natal. - Um dos funcionários comentou em tom de piada, e o chefe sorriu, piscando para ele.
Jumpol sequer levou em conta a fala do homem engravatado. E continuaria não levando a sério caso o "presente", não fosse de fato, impactante.
— Vou treinar um estagiário?
— Surpresa! - Jane, uma das supervisores que estava encarregada de guiar os novos contratados, observava o rosto já claro de Jumpol empalidecer ainda mais.
— Eu prefiro consumir oito potes de oxicodona.
— Ah, vamos. Não é tão ruim, poderia ser pior, tipo um jovem aprendiz.
— Um jovem aprendiz? - Jumpol abaixou levemente seus óculos, e encarou Jane de cima: - Em um presídio psiquiátrico?
— É modo de dizer, senhor.
Off negou com a cabeça, ele estava consumido em impaciência:
— E quem vai ser a minha sombra?— Eu vou chamá-lo. Ele é gentil, tenho certeza que se darão bem.
— Talvez o fato dele ser gentil seja exatamente o motivo pelo qual não nos daremos bem.
— Você implica por muito pouco, senhor. Dê uma chance, pelo menos você tem um novo assistente. - Finalizou a discussão com uma reverência, saindo da sala que pertencia à Jumpol.
Passou-se poucos segundos até que uma nova presença se porta-se em frente ao psiquiatra, ele deu duas batidas na porta antes de se aproximar, e se curvou pouco antes de sorrir.Era um homem com aparência jovial, cabelo extremamente liso e escuro, covinhas marcadas em suas bochechas, olhos grandes, porém afiados, e lábios que sequer pareciam naturais de tão lindos e cheios. Definitivamente um estagiário que, diferente do habitual, dificilmente passaria despercebido pelos corredores.
— Prazer em conhecê-lo, eu sou Gun Atthaphan Phunsawat.
Jumpol levantou-se para cumprimenta-lo. A ideia repulsória de ter companhia poderia até tirar seu bom humor, mas jamais a sua educação.
— Sou Khun Adulkittiporn.
— Eu sei, é uma honra trabalhar com você.
— Vai estagiar aqui por quanto tempo?
— Seis meses.
Jumpol quis desaparecer, podia jurar sentir uma dor aguda na cabeça dê repente.
— Eu espero que aproveite o aprendizado durante os próximos seus meses, Khun Phunsawat.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Condenados - offgun
FanficOff Jumpol é um psiquiatra mal humorado e materialista, desencantado com a própria profissão. Sua vida pessoal é tão fechada quanto as celas de uma prisão, no entanto, parece que seu estagiário Gun Atthaphan sabe onde está a chave.