Batendo na porta

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— Obrigado por me deixar passar a noite aqui, P'Off. - Respondeu sentado na namoradeira da sacada, encarando o céu enquanto Off o encarava sentado ao seu lado.

— Tudo bem. Não é como se fosse a primeira vez que faço isso.

— Parece um ciclo vicioso... - Gun riu, era uma risada triste.

— O quê?

— Passo por um abusador, Champ me salva de um abusador, Champ se torna um abusador, então você me salva do Champ. - Ele encarou de volta o homem ao seu lado: - Espero não me apaixonar por você também.

— Acha que eu me tornaria um abusador?

O menor sorriu, negando com a cabeça:
— Foi essa parte da frase que mais te incomodou?

— Você não vai se apaixonar por mim, a não ser que seja maluco.

— Talvez. - Ele voltou a olhar para a lua, respirando fundo: - Você não respondeu a minha pergunta da primeira vez. Se eu perguntar de novo você responde?

— Qual pergunta?

— Você gosta de homens também?

— Não estou aberto a relacionamentos.

— Não foi isso que eu perguntei.

— A resposta importa se eu não me interesso em me relacionar agora?

— Só quero te conhecer, P'Off. Você sabe muito sobre mim, muito mesmo, mas eu não sei nada sobre você.

— Eu sinto atração por homens e mulheres, cis ou não. Mas faz anos que não me relaciono com ninguém.

— Desde a sua ex-esposa?

— Sim.

— Por que se separaram?

— Porque outra pessoa quis assim.

— Oh... eu sinto muito.

O doutor acenou, olhando para a lua também:

— Gosta disso?

— Do quê?

— Da lua.

— Quem não gosta da lua? - Gun questionou, negando com a cabeça.

— Eu prefiro o sol.

— Oh... por quê?

— Porque ele me lembra verão, e a minha criança interior remete verão a felicidade. Não é solitário como a noite... ou pelo menos não parece.

— Acha a noite solitária?

— Eu acho.

— Bom... mas para vermos a lua precisamos do sol. Então a noite nunca é solitária, porque está sempre acompanhada de vários astros, e dois em específico que complementam um ao outro. A noite é romântica, e o romance não é solitário.

— É muito difícil refutar um filósofo.

Gun riu:
— Foram muitos anos discutindo com Platão. - O menor bocejou.

— Está com sono?

— Não... ei, P'Off. Você tem algum amigo? Nunca vi você conversando com ninguém, você não tem quadros com ninguém... você tem alguém?

Off voltou a observa-lo, pensando na resposta:
— Eu tenho um melhor amigo. Ele se chama Tay, e trabalha no nosso departamento como enfermeiro psiquiátrico. Realiza atividades recreativas com os detentos... ele é bom nisso. Você se surpreenderia se visse o quanto somos diferentes.

Condenados - offgunOnde histórias criam vida. Descubra agora