Capítulo 15

392 65 1
                                    


Kara chegou em casa e foi direto para seu quarto. Ela olhou dentro do guarda-roupa onde havia escondido a grande caixa de lembranças de Sarah. Fotografias, bilhetes, presentes, todo tipo de bugigangas foram jogados dentro da caixa em meio às lágrimas que turvaram seus olhos. As notas estavam quase todas amassadas, as fotografias rasgadas nas bordas.

Kara sentou-se na cama com a caixa no colo e olhou para dentro sem pegar nenhuma delas. Ela se concentrou nas coisas dentro de si tentando lembrar a sensação de desolação que sentiu no ano em que Sarah a deixou, mas seu corpo estava imóvel. Finalmente, pegou numa fotografia de Sarah e olhou-a, virando-a, tentando lembrar-se de quando tinha sido tirada. Outro bilhete de amor estava aparecendo na pilha e Kara o leu. Ela se lembrava de quando Sarah lhe deixara o bilhete, numa manhã chuvosa, antes do trabalho, mas o momento parecia estar a quilômetros de distância. Talvez até de outra vida.

Ela ouviu uma batida na porta e sua mãe entrou. Kara ergueu os olhos, olhou ao redor do quarto, o ambiente ao seu redor a acordou de seus devaneios. As memórias na caixa estavam silenciosas, mas seu elegante quarto parecia vivo.

"Por que eu odeio tanto morar aqui?" ela perguntou à mãe.

Allura abriu a boca para dizer algo antes de Kara falar com ela e a fechou de volta. Ela sorriu ao se aproximar da filha e se sentar na cama.

"Eu tive uma vida muito diferente quando estava fora. Depois de me formar, morei neste pequeno apartamento em Amsterdã. Eu usaria uma bicicleta para ir a faculdade onde lecionava. Às vezes, se chovesse, eu pegava o trem", disse Kara.

"Sim, eu sei disso muito bem. Você não gastou muito com os fundos em seu nome. Acho que você teve vergonha de nascer rica. Seu pai e eu sempre tememos que você pudesse acabar se tornando comunista."

Kara olhou para a mãe e começou a rir.

"Não ria, você era muito jovem, elogiava a igualdade, estava a um passo de chegar a extremos", disse Allura.

"Mas conheço história e também estudei literatura para saber que é apenas um conceito utópico."

"Não quando você tinha 16 anos", ela riu. "Você achou injusto nascer rico."

"E nunca gostei da ideia de um líder nascer nessa posição e não a merecer."

"Mas você esquece que a escolaridade, a educação e as responsabilidades que tal líder assume os formam desde o dia em que começam a caminhar."

"Eu não vi isso em Lex. Ele fugiu de todas essas responsabilidades desde o dia em que pôde andar. Mas...", Kara sorriu. Ela olhou para a caixa, recolocou a tampa e colocou-a no chão.

"Lena não fez isso. Ela era a responsável. E você está finalmente começando a ver isso", disse Allura.

"Ela está sobrecarregada."

"Você não estaria? Talvez ela não esteja reclamando, mas posso ver o quanto ela se sente sozinha. E me assusta que ela esteja tão acostumada com o sentimento, que nem consegue ver. Fiquei tão feliz quando ela disse que me deixaria organizar o Baile de Inverno. De uma forma ou de outra, ela finalmente pediu ajuda. O que é isso?" ela olhou para a caixa.

"Memórias que tenho com Sarah. Quando coloquei na caixa, chorei rios e não toquei mais nela desde então. Agora essa vida parece estar a quilômetros de distância. Acho que voltar para casa foi na verdade um grito de socorro. Eu esperava que isso me salvasse e foi o que aconteceu. Encontrei um propósito aqui, mesmo que esteja começando aos poucos."

"Você gosta dela, não é? Lena."

"Eu gosto", ela sorriu.

"Bem, eu tinha um palpite de que isso poderia acontecer, mas esperava que ela não gostasse de você também. Eu vi como ela olhou para você hoje..."

"Por que você...," Kara franziu a testa.

"Porque você sempre esteve em uma espécie de estado em que era você contra o mundo. Você acha que será fácil ser a primeira consorte lésbica de uma rainha neste país? Vai haver muita dor... as pessoas vão te machucar com suas palavras, seus artigos, tudo. Eu amo Lena, mas você é minha filha e não quero ver você sofrer assim. Isso me despedaça só de pensar nisso."

"Eu vim aqui com esse plano, não foi?"

"E eu ri disso. Eu sabia que você nunca enganaria Lena. E eu tinha certeza que era só mais um capricho seu e que iria passar."

"Sim. Não estou mais tentando me casar à força com ela. Na verdade, nem estou tentando me casar com ela. Eu só quero estar perto dela, trabalhar com ela e conhecê-la."

"Parece-me que você está indo diretamente para o casamento," Allura suspirou.

"Eu ficarei bem. Eu prometo."

"Você sabe que eu te protejo, não importa o que aconteça."

"Eu sei," ela beijou a bochecha da mãe.


KARLENA - Um Milagre De NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora