"- Daemon, me devolve! - Gritou Nys, de quase nove anos, enquanto corria pelos vastos corredores da Fortaleza Vermelha em perseguição ao seu irmão ladrão. Ele havia roubado a drusa de ametistas que ela recebera como presente no Dia do Nome de sua tia Jocelyn.
- Só se conseguir me alcançar! - A gargalhada do jovem Daemon ecoou pelo ambiente, preenchendo-o por completo.
Os criados evitavam as crianças, que mais pareciam dois selvagens desenfreados. Uns perdiam o equilíbrio, enquanto outros até mesmo eram derrubados quando Daemon trombou com a criada mais jovem da Fortaleza. Ela carregava algumas toalhas empilhadas e perfeitamente dobradas nas mãos, as quais conheceram o chão segundos depois.
Tanto o príncipe como a princesa possuíam pernas curtas e ligeiramente esguias, mas nada que se comparasse às pernas das crianças plebeias de Porto Real. No entanto, Daemon era dotado de uma agilidade impressionante, o que o permitia ultrapassar facilmente a irmãzinha. Isso frequentemente a deixava furiosa, desencadeando uma série de gritos estridentes enquanto ela buscava recuperar o fôlego perdido. O som ecoava pelos corredores do castelo, despertando a atenção de todos ao redor, anunciando mais uma disputa entre os caçulas.
- Ei, ei. - O avô pronunciou o alerta com sua voz cansada e trajes ricamente adornados com ouro e tecidos de um azul claro. Daemon mal evitou esbarrar no Velho Rei Jaehaerys, que agora estava vestido de forma atípica, sem a coroa dourada em sua cabeça e seus cabelos prateados ralos, revelando sinais de calvície no topo da cabeça. - Cuidado, rapazinho!
Em seguida, Nys veio cambaleando, com uma expressão angustiada no rosto e segurando o lado ferido. Seus olhos lacrimejantes e o rubor em suas bochechas denotavam a intensidade da dor e sua luta para recuperar o fôlego.
Quando a princesinha chegou, lá estava Daemon emburrado ao máximo, segurado pelos pés pelo tio Aemon, quem acompanhava Jaehaerys, mas tinha ficado para trás por um momento, pegando o jovem príncipe - antes bem risonho- desprevinido:
-isso é da sua irmã, espertinho.-Foi o que Aemon disse, com um sorrisinho diabólico, tomando as mãos do menino nas suas, mas decidiu fazer melhor.- Acredito que seu gentil irmão queira te devolver algo, Nys.- O príncipe mais velho disse, zombando de Daemon, que mais parecia um cacho de bananas nas mãos grandes do tio, segurado pelos pés calçados em pequenas botas de cano longo de couro, poderiam desprender de seus pés a qualquer momento e o menino cair de cabeça no chão.
Daemon, suspenso no ar, olhou torto, debaixo, para o tio, com um bico que parecia chegar até a outra ponta do corredor.
- Vamos, Daemon. - Aemon o chacoalhou, arrancando um riso disfarçado de Jaehaerys, quem tentara, a todo o custo, se manter sério. Nys cruzou os bracinhos e se aproximou, com um sorriso vitorioso.
Daemon, indignado por ser pendurado como um par de calças em um varal, esticou os braços para frente, segurando a drusa levemente pesada nas mãos, lilás e brilhante, refletindo as luzes que as janelas traziam em suas pontas.
A princesinha se aproximou do irmão pendurado e a pegou nas suas mãozinhas. Entretanto, porém, ao invés de lhe mostrar a língua e sair correndo, Nys deu um beijinho nas bochechas vermelhas do irmão, que ficaram ainda mais vermelhas, juntamente com todo o seu rosto, embora também pudesse ser o sangue em excesso ali.Então Naerys deu as costas, saltitando com sua ametista, mais pesada em suas mãos, voltando para seu aposentos. Daemon sorriu, bobinho o suficiente para Jaehaerys finalmente rir, estreitando os olhos para o neto que fora colocado no chão, tonto, e então caiu de costas."
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Rhaenyra tinha plena consciência de que os únicos olhos verdadeiramente fixados nela naquele cômodo privado onde se realizavam as reuniões do Pequeno Conselho eram os de Naerys, imóvel entre a cadeira de Lord Beesbury e a cadeira vazia do Serpente Marinha, na extremidade da longa mesa, aposta ao rei. A jovem princesa desempenhava, entediada, sua supostamente "totalmente prestativa e importante" função na presença dos grandes lordes de Westeros e do Rei: servir as taças de vinho e ouvir um grupo de anciãos de caras escorridas de rugas discutirem sobre o destino do reino. Para Rhaenyra, tudo aquilo parecia um transe monótono, um jogo venenoso e , em sua opinião, falso, de formalidades e protocolos, enquanto sua mente ansiava por desafios e novidades. Naerys, com seus olhos penetrantes e destoantes, parecia captar a agonia de Rhaenyra, porém permanecia em silêncio, como se já soubesse no que a ânsia por emoção da jovem terminaria.
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Antes Maegor do que Aenys
Fantasy- Se der as costas, tia...- A Rainha Rhaenyra cuspiu as palavras com repreensão na voz, mas, na verdade, não conseguia falar com total firmeza com aquela mulher de armadura negra, de capa vermelha esvoaçante e espada de aço valiriano manchada de san...