A sombra da partida da rainha persistia, dois longos meses após sua dolorida e sangrenta partida. A ausência dela era como um peso constante sobre os ombros de todos, em especial da família. Os corredores do castelo, outrora preenchidos com risos e música, agora ressoavam com um silêncio pesado, quase palpável. Os salões onde banquetes e festas foram feitas, repletos de alegria e, principalmente, a união Targaryen, agora eram recheados pelo sussurro do vento e dos cochichos. Ninguém parecia mais falar em voz alta na corte.
Há dois meses, a proclamação de Rhaenyra como a futura rainha dos sete reinos ecoava nas paredes da sala do trono, enquanto as chamas dançantes das tochas dispostas às paredes de pedra vermelha iluminavam os olhos expectantes dos nobres presentes. A voz do monarca, repleta de poder -pela primeira vez Nys o sentira na voz do irmão-ecoava pelo salão, anunciando-a como a herdeira legítima do Rei Viserys I Targaryen. Os murmúrios de aprovação dos cortesãos ecoavam pelas paredes, misturando-se ao crepitar do fogo.
No entanto, muitos se perguntavam se seria possível para a jovem princesa cumprir o destino que estava tão recentemente traçado para ela. A incerteza pairava no ar, tão densa quanto as sombras que se formavam nos recantos do castelo, alimentando a dúvida e o medo do que estava por vir. Tudo em segredo, é claro.Há dois meses também, Rhaenyra foi surpreendida pela violenta discussão entre Naerys e Viserys, que ecoou pelos corredores do palácio. O som era como o rosnar furioso de dois lobos, disputando território ou em uma caça canibal. Em seus quatorze anos de vida meticulosamente contados, a princesa nunca presenciou sua tia alçar a voz, a não ser por risadas leves ou por breves estampidos de exaltação. Nys era do tipo passiva agressiva, isso era sabido. Suas ameaças eram baixas, disfarçadas por piadas e o veneno escorria por entre suas 'observações'. Mas agora diferente. Rhaenyra tinha certeza que o pai e tia rugiam. Ela recordou daquele mesmo 'rugido' que Eospheros soltava quando a fera alada estava enfurecida, seja por falta de alimento ou pela ausência de conforto. Tal cena deixou a jovem inquieta, pois a tranquilidade rotineira dos aposentos reais foi rasgada por aquela amarga contenção.
Durante esses longos meses, os gritos estridentes do dragão de escamas escarlates ecoavam pelas muralhas da fortaleza, ecoando a saudade por Caraxes e Naerys. Restava apenas Syrax para ela, mas Eospheros se recusava a ser trancafiada no Fosso, enquanto Nys relutava em aprisionar sua companheira de asas exorbitantes. Como resultado, a presença da imponente criatura alada tornou-se uma raridade em Porto Real.
" Diziam que Eospheros estava se tornando um dragão selvagem com um montador ainda vivo, mas eram apenas rumores e especulações que pairavam sobre a fera inquieta. Na realidade, o que atormentava o dragão não era a selvageria, mas sim a dor compartilhada com a princesa Naerys, sua alma gêmea. Ela estava confinada por vontade própria entre os muros imponentes da Fortaleza Vermelha, e seu sofrimento era como uma prisão sem alívio. Eospheros sentia a angústia de Naerys ecoar em sua própria alma, e era por isso que ele sofria."
- Fogo e Sangue, Rhaenyra e Naerys: os dias de consolação e descobertas.
Os gemidos chorosos da criatura ecoavam pelas ruas da cidade, agitando os habitantes e alimentando seus piores pesadelos. Era como se fosse um aviso sombrio, um presságio sinistro do que estava por vir, uma prenúncio de desgraça iminente. O dragão ganhara o título de "Rasga Mortalha", devido à sua lamentação terrível, que ecoava por todo o sul, mergulhando a cidade em um manto de melancolia e medo.
Nas noites escuras, quando as sombras se alongavam e o vento gelado sussurrava suas maldições, o choro rasgado do dragão ressoava, pairando no ar silenciosamente, como se fosse o sopro fantasmagórico de uma ave noturna, apesar de sua imponente presença capaz de engolir três cavalos empilhados. Livre de limites e restrições, Eospheros voava à vontade, alimentando-se do que bem entendia.
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Antes Maegor do que Aenys
Fantasy- Se der as costas, tia...- A Rainha Rhaenyra cuspiu as palavras com repreensão na voz, mas, na verdade, não conseguia falar com total firmeza com aquela mulher de armadura negra, de capa vermelha esvoaçante e espada de aço valiriano manchada de san...