Antes Maegor do que Aenys

Fall

Por mais belicosas que tenham sido as palavras proferidas pela princesa Rhaenyra na direção de Lady Alicent, diante de qualquer observador disposto a ouvir, foi ela quem providenciou assistência à sua jovem madrasta, em preparação para o casamento com Viserys. Ela meticulosamente ajustou as amarras do vestido, reforçando o habitual laço com maior firmeza. Após todo o seu ímpeto e intenção, embora relutasse em reconhecer, temendo parecer infantil em sua revolta, sua maior vontade era que aquele laço se soltasse.

A iminente rainha consorte exibia uma beleza deslumbrante, seus cabelos ruivos cuidadosamente arrumados em um elaborado coque adornado com algumas mechas soltas, como uma moldura para suas luxuosas madeixas de fogo. A tiara de ouro estava incrustada com pedras preciosas, especialmente pequenos diamantes e rubis, com detalhes delicados e filigranas. As pedras preciosas lapidadas eram dispostas ao redor do meio círculo central do adereço, simbolizando seu novo posto como rainha consorte.

Mas, definitivamente, o que mais chamou atenção em seu traje refinado era o vestido. Feito de seda fina e delicada e ajustado ao corpo, com cor branca perolado, quase um branco puro, estampado com padrões disfarçados no branco do vestido da casa Targaryen. Havia um forro vermelho sangue nas mangas, que iam até seus antebraços, mas que caíam até a altura de sua saia, imitando asas de um dragão. Um maravilhoso bordado no meio do vestido, na cor ouro envelhecida, formando dois dragões lado a lado, subindo para os ombros, como seivas, se ligando até asas de dragão na mesma cor, costuradas por cima dos ombros. A saia do vestido era longa e quase esguia, não tão fluída e nem rodada. O bastante para a jovem e bela noiva, com seu rosto de pureza, corado pela atenção e elogios que recebia, ficar tímida, mas harmoniosa no centro do grande salão da Fortaleza Vermelha, descendo as escadarias em frente ao trono, com as mãos sendo seguradas no ar pelo Rei Viserys assim que a união matrimonial fora celada.

Rhaenyra não desejava estar ali, mas o protocolo a obrigava a comparecer, mesmo que sua vestimenta não condissesse com a grandiosidade do evento. Usava o mesmo vestido amarelado de corte simples, com mangas curtas, que havia utilizado para receber Naerys anos atrás, em uma época mais singela, quando sua mãe ainda estava viva e Alicent era apenas Lady Alicent, longe de se tornar Rainha Consorte. A única adição ao seu traje era a coroa de prata, que repousava elegantemente sobre seus cabelos prateados, os quais estavam presos com delicadas presilhas de prata, adornando duas mechas de sua franja, antes de se transformarem em uma trança simples. Cada detalhe do seu traje contrastava com a pompa e esplendor das outras damas presentes no salão, mas Rhaenyra permanecia distinta em sua simplicidade, mantendo a sobriedade que lhe era peculiar, para disfarçar sua carranca de desaprovação que estava teimando em se mostrar.

Naerys não se dignou a comparecer à cerimônia e aconselhara Rhaenyra a seguir seu exemplo. A jovem considerou seriamente o conselho, sentindo uma vontade forte de acompanhar a tia, onde quer que esta fosse em seus momentos de descontração. A simples ideia de Naerys em um bordel, desfrutando da companhia das mulheres de origem humilde, pagas para proporcionar prazer sem laços sentimentais, enquanto ela mesma estava ali, obrigada a testemunhar seu pai se casar com sua melhor amiga, provocou um intenso revirar de olhos por parte de Rhaenyra.

Contudo, mesmo diante das circunstâncias, o banquete que se seguiu à cerimônia revelou-se uma experiência sublime. O cardápio diversificado exibia uma variedade de pratos, desde frutos do mar exóticos até tenros pedaços de carne de porco fritos na manteiga, que derretiam na boca. Os temperos utilizados, por sua vez, propiciavam uma explosão de sabores que inflamava suas papilas gustativas, fazendo com que seus olhos lacrimejassem no momento em que a carne de vaca fazia contato com a língua.