PRÓLOGO

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A sensação mais forte de que me lembro em minha vida humana antes da transformação é a dor.

Eu estava quebrada. Literalmente.

Meu corpo era uma massa disforme de sangue, hematomas e ossos fraturados. Eu fui largada em um beco escuro, como se não passasse de um animal. Isso é o que acontece quando você confia na pessoa errada e a deixa entrar na sua vida.

Ainda consigo me lembrar claramente do rosto do meu ex-namorado traidor, assim como os rostos dos seus amigos. Eles não estavam bêbados ou drogados, não. Simplesmente sentiram um desejo selvagem de cometer um crime naquela noite, e eu fui a vítima conveniente.

Estávamos em uma viagem de classe para conhecer os museus mais famosos da Itália. Tínhamos vindo de Phoenix e aquela era uma excursão do curso de História da Universidade Grand Canyon. Eu tinha o sonho de me tornar especialista em História de Civilizações Antigas, o que incluía Egito, Grécia e Roma, e era por causa dessa última civilização que estávamos em Florença, a terceira cidade do nosso itinerário de visitas.

Adrian me viu de longe enquanto andava com seus amigos a procura de encrenca. Eu havia acabado de sair da cafeteria onde estava com algumas colegas e voltava para o hotel, que ficava a apenas algumas quadras dali.

Ele foi meu primeiro namorado. No colegial, eu não era a mais comunicativa ou popular, pelo contrário. Costumava ser a garota pálida quase albina em uma cidade de pessoas bronzeadas, com dois pés esquerdos e que preferia passar horas na biblioteca do que socializar. A estranha.

Quando fui morar no campus da universidade, passei a ser a esquisita que tirava notas altas por estar sempre estudando em vez de sair para as festas de fraternidade com as colegas. Mesmo assim, Adrian me viu, e pela primeira vez na vida me senti como uma garota que precisava da atenção de um garoto.

Nosso namoro não durou muito. Em retrospecto, foram oito meses de um relacionamento abusivo em que ele me traía e me fazia sentir culpada por isso, porque eu não era sofisticada, ou elegante, ou uma garota de salão de beleza e compras, como suas amantes.

Ele me fazia sentir um lixo como pessoa, e ao mesmo tempo como se tivesse muita sorte por um garoto tão bonito me querer como namorada. Eu era tão ingênua! Não entendia que ele só me mantinha por perto porque precisava de alguém manipulável a quem pudesse controlar para poder aperfeiçoar a sua forma de torturar o psicológico de outras garotas.

Mas eu terminei tudo depois de uma conversa muito séria com uma professora que observou sinais de abuso psicológico em mim. Ela me fez entender que eu não precisava dele. Podia ser linda do meu próprio jeito e encontrar alguém que me amasse por quem eu realmente era.

Acontece que Adrian nunca foi rejeitado e não sabia lidar com isso, então, naquela noite, quando me viu sozinha, viu também a oportunidade perfeita de me ter da única forma que nunca conseguiu quando era meu namorado, mesmo que tivesse que utilizar força bruta para isso.

Se você pensou em sexo, não está totalmente errado, mas não era exatamente isso. Um cara como Adrian não mantém uma namorada durante tantos meses sem transar com ela, então não, eu não era virgem. O que ele nunca conseguiu de mim foram algumas perversões sexuais que sempre me deixaram desconfortável, mesmo que fosse apenas a menção delas.

Acho que no fundo eu entendia que ele não era certo pra mim. Que as coisas que ele desejava fazer com meu corpo necessitavam de uma intimidade que, mesmo estando cega por ele, não existia entre nós. Eu não confiava nele o bastante para me entregar sem reservas, e isso causava nele uma sede obscura por se satisfazer de qualquer forma.

Não me lembro de como começou, mas de repente eu estava encurralada naquele beco, com Adrian tapando minha boca e me empurrando com força contra a parede. Ele riu quando eu gemi de dor.

Depois disso, todos se envolveram na sessão de tortura. Cinco rapazes fortes, musculosos, jogadores de futebol americano e por isso brutos, revezando entre si uma garota magra, de 1,60 m de altura e pesando cinquenta quilos, que sequer teve força para gritar enquanto era usada de todas as formas pervertidas que eles conseguiram imaginar.

Quando cada um se satisfez com meu corpo machucado, Adrian achou que ainda não era suficiente. Eu os conhecia. Contaria a todos o que eles fizeram. Contaria ao meu pai, que era o chefe de polícia de uma cidadezinha do estado de Washington.

Então, para me calar, ele começou a me chutar e me espancar, e os outros o imitaram, até que eu fui deixada quase morta no chão. Irreconhecível. Impossível de ser curada.

Ou isso era o que eles pensavam.

Seguindo o cheiro do meu sangue, dois vampiros me encontraram. Jane e Alec são gêmeos e têm uma péssima reputação no mundo sobrenatural. Muitos os chamam de gêmeos bruxos e eles são os mais temidos da guarda Volturi.

Esses dois vampiros sádicos e odiosos se mostraram mais humanos comigo do que aqueles que me deixaram ali para morrer. Alec decidiu usar sua névoa que tira os sentidos em mim, para que Jane pudesse acabar com o meu sofrimento de uma vez, porém seu dom falhou, e eles perceberam que eu tinha potencial para ser uma imortal habilidosa, por isso me levaram até Aro, e eu fui mordida.

Apesar da dor da transformação, a lembrança do que passei naquela noite foi a que mais me atormentou. Cada palavra de escárnio e depreciação, cada golpe, cada ferimento, o sofrimento de ter meu corpo invadido e minha alma mutilada daquela forma tão hedionda... Foi isso que me fez aguentar a dor da transformação calada, esperando, planejando a vingança na minha cabeça todo o tempo.

Quando tudo passou, eu me levantei para a minha nova vida.

Estava mais forte do que jamais imaginei que pudesse e com uma sede de vingança tão grande quanto minha sede de sangue, além de um dom defensivo que me protegia de quaisquer habilidades mentais, incluindo as dos gêmeos que me salvaram.

Naquele dia, entre as paredes antigas do castelo em Volterra, eu deixei de ser uma garota humana fraca que foi torturada, para me tornar membro da guarda que protegia os governantes do mundo vampiro: Aro, Caius e Marcus.

Ali eu encontrei uma família.

Com a ajuda de Demetri, Jane, Alec e Félix, eu cacei cada um dos meus algozes. Deixei-os presos na masmorra durante semanas, sendo torturados de todas as formas possíveis. O mais fraco deles foi entregue a Alec para ser drenado, depois deixei seu corpo na cela e obriguei os sobreviventes a cometerem canibalismo e beberem urina e sangue uns dos outros para não morrerem de sede e fome.

Quando já estava entediada, deixei que Jane, Demetri e Félix se alimentassem dos outros, mas Adrian ficou por último para que visse seus amigos estupradores sendo mortos.

Eu não bebi seu sangue. Não quis contaminar meu corpo com a essência daquele monstro que me feriu de tantas formas diferentes. Ele estava me encarando nos olhos, apavorado, quando atravessei seu peito com a mão e segurei seu coração, apertando-o lentamente até que ficasse tão esmagado quanto um objeto passado em rolo compressor.

Adrian ficou no chão da cela, mergulhado em uma poça de seu próprio sangue, com os olhos vidrados, servindo de alimento aos ratos enquanto eu virei as costas e voltei para junto dos outros.

Nas próximas décadas, aprendi com os Volturi todas as técnicas de combate e aperfeiçoei minhas habilidades defensoras para me tornar parte da guarda de elite que Aro enviava para colocar ordem onde vampiros suicidas causavam caos.

Mas eu não era só uma vampira letal que aplicava punições a quem quebrasse a lei. Não era só uma das mais frias já vistas pelo mundo sobrenatural.

A história que vou contar mostra que mesmo alguém como eu, que só via o lado feio dos humanos, também podia ter sentimentos avassaladores, principalmente quando meus olhos cruzaram com os olhos dourados de um certo vampiro loiro, conhecido por alguns como "Major".

Meu nome é Bella Volturi. Antigamente conhecida como Isabella Swan.

E esta é a história de como minha vida mudou quando conheci o amor de minha existência.

Mais Quente Que o Sol (Jasper + Bella)Onde histórias criam vida. Descubra agora