— Como você conseguiu esse Artefato, Red? — George puxou assunto, deitado em um dos bancos do vagão.
— Eu roubei da instalação militar. A mesma que me transformou nisso — respondeu Red, deitado no banco ao lado.
— Saquei. Eu achei que você não acreditasse em Artefatos. Você zombou de quando eu falei da espada que previa o futuro.
— É difícil acreditar que uma dessas existe. O único Artefato que eu vi na vida é esse lixo aqui. Sabe quantas vezes eu tive que realizar o ritual pra conseguir curar um mísero ferimento de bala? Dezenove vezes. E ainda assim, a cicatriz ainda tá na sua barriga.
— Eu me sinto relativamente bem. É melhor do que se você me tratasse com um kit de primeiros socorros, por exemplo.
— Duvido muito. Eu ouço essas histórias de Artefatos que preveem o futuro, dos Cristais que trouxeram as Invocações, tudo que eu consigo pensar é em como isso parece fantasioso demais.
— Eu também nunca vi um Artefato. Eu só ouvi falar do líquido esquisito que tem dentro deles.
— Entendi. O que pretende fazer quando chegarmos em Aarkin, George?
— Hmm, não sei. Eu quero um lugar pra ficar, como eu disse.
— Você nunca me falou o que aconteceu com sua antiga casa.
— Ah, é? Bem, não é algo que eu gosto de falar muito. Mas agora somos tipo namorados, então é bom falarmos disso.
— Somos namorados? Entendi. Faz sentido.
— Apesar de velho você não entende muito de relacionamentos né, Red? Eu acho isso fofo.
— Deve ser a parte Lilith falando mais alto.
— Hehe, tudo bem. Bom, antes de eu viajar ao Paraíso, eu morava em uma vila perto da praia ao norte. Era bem perto de uma outra vila que só tinha mulheres que usavam biquíni. Acho que se chamava Praia das Garotas de Biquíni? Ou algum nome ridículo desses.
— Garotas de biquíni? Acho que conheci uma. A Trigger Yellow veio desse lugar.
— Ah, tem uma exibicionista na Corrida das Armas? Que legal, eu acho. Enfim, algumas semanas atrás, a Invocação do Raio invadiu a minha vila. Em duas horas, todas as casas foram destruídas e todos os meus amigos foram devorados ou eletrocutados.
— Entendi. Deve ter sido horrível.
— Depois de um tempo a gente se acostuma com as perdas, eu acho. Você entende, né?
— Antes de me tornar um meio-Lilith, eu matava as pessoas por prazer. É estranho que depois dos experimentos, eu comecei a me importar com vidas. Tanto com a Cyan, quanto com a White, até mesmo com as pessoas que vi pouco, como a Green ou a Yellow. E claro, com você.
— Então quando você virou parte alienígena, você ficou mais humano?
— Acho que dá pra dizer assim. Eu não consigo nem pensar nas minhas vítimas. Eu lembro vividamente de cada uma delas.
— Tenho certeza que elas tão num lugar melhor agora.
— Eu espero que sim. Acho que viver esse inferno é a punição pelos meus pecados.
Red lembrou de suas quinze vítimas. Todas elas nunca deixaram a sua memória. A primeira era sua irmã, que tinha quatorze anos. A segunda, sua mãe. Terceira, seu pai. Depois disso, foram pessoas que o maltrataram alguma vez, desde os vizinhos que colocavam música alta até a professora que não arredondou sua nota na escola. Eram motivos fúteis, mas Red era um psicopata completo. Um caso perdido.

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Unlimited Trigger
RandomNas cidades destruídas da Segunda Pangeia, treze pessoas, apelidadas de Triggers, participam de um Battle Royale em que caçam monstros espalhados pelo continente. Tiros, traições, mortes, "Trigger Change", e apenas um restou.