Trigger White

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No meio da tarde, Red e George saíram da floresta e avistaram uma cidade estranha. Havia um enorme rio entre os dois e a cidade, que parecia estar dezenas de metros abaixo deles, como se estivessem em um morro. Eles não tinham percebido ainda, mas a floresta que percorreram durante horas havia crescido em cima de uma grande metrópole. Quando a humanidade acabou, a natureza começou a tomar de volta o território originalmente seu.

O único caminho que podiam tomar era seguir por uma gigantesca ponte de quase um quilômetro que conectava a floresta à cidade. Ela estranhamente estava intacta apesar do tempo, mesmo que houvessem diversos carros abandonados impossibilitando que alguém passasse por lá sem ser à pé.

Os dois desceram o morro de terra até chegarem na ponte. Era um longo caminho, ainda mais demorado por pararem para conferir cada um dos veículos abandonados na esperança de encontrar algum suprimento útil.

— Aí, Red — George puxou assunto, entediado de abrir as portas dos carros e caminhonetes e apenas achar esqueletos e restos de lixo.

— Fala.

— O que você fazia antes do mundo acabar?

— Pra falar a verdade, eu não lembro de muita coisa. A última memória que tenho é das instalações do... esquece.

— Poxa, fala pra mim, Red.

— Quando eu desmaiei depois de enfrentar o Crimson, você retirou minha máscara?

— Ah, não. Eu devia?

— Ótimo. Não queria que você visse meu rosto.

Distraído ao tentar pensar em um motivo para Red ter tanta preocupação em esconder o rosto, George abriu a porta de uma Kombi enferrujada e se assustou quando ratos pularam de dentro dela. Ele sempre teve medo de roedores, mas fazia muito tempo que não via um, apesar de serem comuns por toda a Segunda Pangeia.

— E quanto a você, Black? Você me disse que estudava enfermagem.

— Ah, sim. Eu era só um professor de inglês.

— Um professor?

— É. Eu geralmente dava aula pro ensino fundamental, só que a minha vida pessoal acabou virando fofoca na escola, aí eu acabei desempregado.

— Você fez algo de errado?

— Eles descobriram que eu namorava outro homem. Aí já sabe, os pais das crianças ficaram com medo do que eu podia fazer com elas, avisaram a diretoria. Não demorou muito até me demitirem.

— Te demitiram só por isso? Eu ouvi falar que o mundo no século passado era muito mais cruel, mas não achei que até nos últimos anos da sociedade também houvesse tanto preconceito.

— Sabe, Red. Acho que era normal. As pessoas têm muito medo do que não entendem. Pra elas, eu devia ser um alienígena.

— Um alienígena, é? Engraçado.

— Você nem riu, então não é engraçado.

— Ah, ignora. Pode continuar.

— Eu queria entender você, mas é difícil demais de te ler. Enfim, eu comecei a estudar enfermagem, que sempre foi o meu sonho desde criança. Já que as pessoas não queriam aceitar quem eu era, talvez salvá-las podia fazer mudarem de ideia.

— Esse é um motivo bem egoísta pra se tornar um enfermeiro.

— Eu sei, mas é o que dá pra fazer. Bem, o que dava pra fazer.

— O seu namorado. Ele ainda é vivo?

— Ah, não. Quando as bombas caíram, ele não tinha conseguido chegar num local seguro.

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