-Entre nostalgia-

143 58 113
                                    


Agora, eu estava no volante, assumindo o comando da nossa jornada. O carro cortava a estrada, e eu sentia uma mistura de excitação e nostalgia enquanto nos aproximávamos do destino. Felizmente, ainda me lembrava do caminho, uma espécie de memória muscular que se acendeu assim que entrei naquela estrada.

Uma placa no caminho nos informava: Serra Azul a 35 km. Olhei para Cris ao meu lado, e ela parecia tão envolvida na paisagem quanto eu. O misto de sentimentos crescia dentro de mim, uma mistura de antecipação e reflexão sobre o que me aguardava na cidade que, por tanto tempo, evitei.

Apesar de não gostar muito da ideia de estar de volta, eu não podia negar que a vista era de tirar o fôlego. Serra Azul estava localizada no coração da Serra, e a beleza natural que cercava a cidade era verdadeiramente impressionante. À medida que nos aproximávamos, as montanhas se elevavam majestosas, criando uma moldura espetacular para o horizonte.

A estrada serpenteava entre as colinas, proporcionando panoramas que, de alguma forma, eu havia esquecido. O verde exuberante da vegetação contrastava com o céu tingido de tons quentes pelo sol. A atmosfera de tranquilidade misturada com uma pitada de melancolia, à medida que as ruas conhecidas se aproximavam.

No som do carro tocava 'Heroes (We could be)' e a nostalgia da música se envolvia com a bela vista que tínhamos de dentro do carro. A melodia parecia se misturar com a paisagem das montanhas, criando um cenário quase cinematográfico enquanto avançávamos pelas estradas que eu costumava percorrer em minha juventude.

"Sabia que eu nem me lembrava mais de como Serra Azul era linda!" disse Cris, olhando para as colinas que se estendiam à nossa frente.

O sol, agora mais próximo do horizonte, lançava uma luz dourada sobre a cidade, ressaltando cada detalhe das construções e das árvores ao redor.

A estrada continuava a se desenrolar, e agora, com a cidade à nossa volta, eu não podia deixar de me maravilhar com a visão que Serra Azul proporcionava.

"Incrível, como as memórias podem se transformar vendo a beleza desse lugar!" comentei, deixando escapar um suspiro de admiração

"Parece que essa viagem já está trazendo alguns insights pra você, não é mesmo, Pedro?" comentou Cris, lançando-me um olhar perspicaz. Eu apenas olhei para ela e sorri.

A cidade não era muito grande, então eu rapidamente deixei Cris em casa. Aproveitei também para cumprimentar seus pais e seu irmão, estabelecendo aquela conexão familiar que já era comum entre nós. Logo depois, dirigi até a casa da minha mãe. Quando cheguei, ela já estava do lado de fora, me esperando ansiosa. Ao estacionar o carro, algo diferente preencheu o ar, e pela primeira vez no dia, senti que de fato essa viagem estava valendo a pena.

Minha mãe logo me abraçou, seus um metro e cinquenta e poucos não alcançavam meu pescoço, mas a intensidade do carinho compensava em altura.

"Ah, meu querido, eu estava com tanta saudades! Já estava pensando que não vinha mais."

"Eu também estava com saudades, mamãe! Pode me soltar agora, Dona Ana" brinquei, sentindo a ternura familiar enquanto desfrutava do abraço acolhedor.

Ela afastou-se, sorrindo, mas ainda segurando minhas mãos como se quisesse ter certeza de que eu estava realmente ali.

Eu olhava para a fachada da casa, e era impressionante como não havia mudado nada. O gramado na frente, com seus arbustos que resistiam ao tempo, permanecia exatamente como sempre foi. A entradinha de pedra lisa no chão parecia preservar as pisadas de uma época que, de certa forma, ainda ecoava naquelas paredes.

"Vamos entrar, querido. Preparei seu prato favorito para o jantar," ela sugeriu, guiando-me para dentro da casa.

Os cheiros familiares da cozinha começaram a envolver o ambiente, criando uma sensação acolhedora. A casa, mesmo depois de tantos anos, ainda irradiava aquele calor familiar que eu sempre associava à presença da minha mãe.

A casa era uma herança deixada que passou por gerações, um testemunho vivo do tempo que transcendeu as décadas. Foi construída quando Serra Azul ainda era um vilarejo nos tempos coloniais, uma época em que a cidade mal era delineada no mapa e as ruas eram apenas trilhas de terra batida.

Cada tijolo, cada viga de madeira contava a história de ancestrais que moldaram não apenas a estrutura física da casa, mas também os alicerces de uma linhagem que enfrentou desafios, celebrou conquistas e, de alguma forma, deixou uma marca indelével nas paredes que agora abrigavam novas histórias.

Os móveis antigos, ainda em uso, carregavam consigo a pátina do tempo, um testemunho da durabilidade e do cuidado com que cada geração tratou dessa herança.

"A comida está boa, Pedrinho?" perguntou minha mãe com a voz carregada de afeto.

"Mãe! Ninguém me chama de Pedrinho a pelo menos uns 7 anos!" respondi, soltando uma risada contida com a boca ainda ocupada pela última garfada.

"Mas respondendo sua pergunta, a sua comida está ótima, como sempre."

Ela sorriu, os olhos brilhando com uma ternura que só uma mãe poderia transmitir.

"Sempre serei sua mãe, e para mim, você sempre será o meu Pedrinho."

"Você deve estar cansado da viagem não é, eu preparei seu antigo quarto pra você!" Acrescentou ela, enquanto passava a mão em meu cabelo.

"Um pouco..."

Pela janela do que costumava ser meu antigo quarto, eu podia ver a pracinha e também tinha vista para as montanhas. Estar ali me trazia um misto de sentimentos, bons e ruins ao mesmo tempo. As lembranças de brincadeiras na pracinha e a imponência das montanhas como testemunhas silenciosas de momentos passados se entrelaçavam diante dos meus olhos.

Eu estava tão cansado da viagem, exausto para falar a verdade. Tomei um banho com os produtos mais nostálgicos possíveis, cada aroma evocando memórias de dias que pareciam ter sido congelados no tempo. A água quente e reconfortante deslizava sobre mim, levando embora não apenas a poeira da estrada, mas também o peso acumulado da jornada.

Depois, deitei em minha antiga cama. Ela continuava confortável, bem macia e aconchegante. Sentir os lençóis familiares sob meu corpo era como um abraço do passado. Fechei os olhos e me entreguei à sensação de voltar no tempo, como se cada fibra daquele quarto me transportasse para os dias mais simples e despreocupados da minha juventude.

Enquanto me afundava na maciez do colchão, deixei que a familiaridade do ambiente dissipasse as tensões do presente. A casa, as montanhas, a pracinha, tudo parecia conspirar para criar uma cápsula do tempo onde eu podia me perder por um momento e, quem sabe, encontrar respostas para as incertezas que a vida adulta me trouxera.

Meu celular vibrou suavemente, interrompendo a quietude do meu antigo quarto. Era a Cris, sempre com seu jeito descontraído de me provocar:

_____________________________________
SEG,20:37

CRIS♡
Online

>"Boa noite, princesa! hahah"

"Princesa? 🤔"<

>"Como você está? Cansado da viagem? Como foi com a sua mãe?"

"Calma! Uma pergunta de cada vez! Bom, tô bem cansado, e em relação à minha mãe, não foi ruim, ela é minha mãe né, não tem como ser ruim hahaha"<

>"bacana!Então, amanhã, vamos sair pra turistar?"

"Turistar? 😆 Meu anjo, você já se esqueceu que é daqui? Hahaha"<

>"Hahaha"

"Mas vamos, acho que não tem nada melhor pra fazer aqui, agora vai dormir! Bjs<

>😘😴________________________________________

Aquelas mensagens trouxeram um sorriso ao meu rosto. A Cris, com sua energia contagiante, já estava planejando nossas aventuras turísticas. Mesmo estando cansado, a perspectiva de explorar a cidade com ela me animava. Com um último suspiro de diversão, coloquei o celular de lado e me permiti ceder ao cansaço.

Sweet LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora