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𝐌𝐎𝐍𝐓𝐀𝐍𝐇𝐀𝐒 𝐀𝐙𝐔𝐈𝐒.

A neve caia de forma mais impiedosa do que nas geadas anteriores, formando um imenso tapete branco nas montanhas azuis. Grossos flocos de gelo faziam cócegas em sua pele, porém, temia que aquilo se transformasse em granizo assustando os pôneis.

Apertou seu casaco de pele em seu tronco, buscando se aquecer, enquanto procurava seu progenitor, que parecia ter sumido sem aviso prévio, escondido na grande casa de madeira por longa parte da manhã. Lembrava que era em dias como esse que sua família se reunia, quando a pausa na exploração de minério era necessária graças às avalanches, recordando de trechos da sua infância e de seu irmão, Gimli.

Assim que chegou às montanhas azuis quando menor, recebeu o tratamento adequado para entrar na linhagem remota dos Durin. Apesar de serem rigorosos quanto à pureza de seu sangue, respeitaram a decisão de Glóin em abrigar a menina de bochechas redondas.

Prepararam a criança para o ritual inicial, com a mesma capturando seu primeiro animal com apenas cinco anos de idade e, aos vinte anos humanos já era uma excelente caçadora. Montes de peles eram adquiridos todos os anos para o frio, aquecendo o povo nanico.

Seu olfato era surreal, junto de sua força sobre humana e sua visão, deixava evidentes que era uma Troca-peles. Diferente de Beorn, não tinha herdado as feições animalescas, tirando seus caninos, possuía um rosto delicado, herdado por sua mãe. Havia também sua fome por carne, que era quase tão grande quanto a dos anões, fazendo com que ficassem satisfeitos com sua presença nas ceias. Coisa que divergia de sua espécie, que era vegetariana, contava que poderia ser sua parte humana aflorando-se.

As décadas se passaram e suas diferenças no meio do povo de Durin começaram a aparecer, primeiro sua altura, segundo sua selvageria e mau humor. Anões eram emburrados e não escondiam suas feições desgostosas, porém muitas vezes o lado animal de Rawena se tornava forte provocando brigas em diferentes ocasiões.

A ursa que dividia o corpo com a de cabelos castanhos, era grande, oque contribuiu para que a mulher também herdasse essas características físicas. Seus seios eram fartos, com gordura em alguns lugares que gostava, outros nem tanto, mas se achava atraente o suficiente para os padrões naugrim.

No fundo sabia que não poderia viver entre aquele povo por muito tempo, apesar de seus familiares insistirem o contrário. Quando uma das grandes águias chegou trazendo uma mensagem de Lothlórien, seu sorriso se abriu de imediato. Era o momento perfeito para sair daquele lugar e buscar suas origens escondidas. Tinha que conseguir a permissão para abandonar seu posto na guarda junto de seu irmão. Deveria encontrar outros como ela, e quem sabe, seus parentes de sangue animal.

── Você não pode me impedir de ir com vocês.

Os seus braços permaneceram cruzados, esfregando as palmas quando o vento frio assobiou em seus cabelos, fechando a porta da baía dos cavalos e pôneis. Olhou o homem de idade selar um dos animais em cima do banco de madeira, já que não tinha altura o suficiente para arrumá-lo em pé.

── Apenas os membros do conselho foram chamados, além disso, nossos irmãos da linhagem de Durin estão ocupados demais reerguendo nosso lar, somos a segunda opção ── desceu do banco ── Sem troca peles, apenas anões.

Dáin Pé-de-Ferro era o parente mais próximo após a morte de Thorin Escudo de Carvalho, assim herdou por direito todo o reino sob a montanha. Tentava levar o reino a uma grande potência comercial de pedras preciosas novamente, além de unificar os reinos da Montanha Solitária e as Colinas de Ferro. Novos túneis foram construídos e alianças fortalecidas, oque demandava tempo.

Não tinha motivos para se envolver em um passeio atrás de um pequeno anel, negando o pedido de imediato. O um anel não tinha sido dado a ele, os homens possuíam a maior quantidade de anéis, e era sua culpa o principal estar ativo novamente, eles deveriam resolver aquilo sozinhos.

── Prometeu uma viagem à Cidade do Lago a quase uma década, se não pode me dar isto, que seja a Valfenda ── insistiu, dando ênfase na promessa.

── O que teria para ver em Valfenda? ── retrucou antes de reclamar ── Apenas os malditos elfos ── disse entre dentes.

── Apenas deixe-me ir, Gimli também irá, e a carta diz especificamente que toda a família deve ir, e teoricamente, faço parte da sua linhagem também ── jogou seu argumento final, vendo um sorriso brotar nos lábios de Glóin.

Rawena era tão teimosa quanto ele, e sabia que logo o tempo de a deixar chegaria, ela deveria seguir a sua própria jornada, encontrando seu lugar em meio ao equilíbrio da Terra-Média. Os cabelos antes ruivos do naugrim se tornaram platinados como a neve de seu lar, seus olhos grandes agora eram miúdos e a pele repuxada. O tempo era cruel com todos, oque fazia suspirar, a ampulheta estava se encerrando para ele.

── Tudo bem, você venceu ── um sorriso arrogante brotou em sua face ── Mas isso não garante que fará parte da reunião essa tarde.

── Adad... ── chamou de forma aborrecida.

── Rawena, esse assunto está encerrado. Chame Gimli para arrumar o restante dos suprimentos e vá ajudá-lo.

Troca-peles sempre sabem, eles têm instintos.

As palavras de Beorn ainda ecoavam em sua mente, se sua filha estava buscando o sangue de seu sangue, ele também deveria estar procurando por ela. Não havia notícias do homem urso a séculos, como se realmente fosse um mito, ou como se estivesse se escondendo de algo, mas isso não garantiria que seu filho não iria fazê-lo.

Os pés da mais alta batiam pelo chão de madeira, não pensou que a conversa iria se desenrolar daquela forma, todavia, seu desejo mais profundo seria sanado: Viajar em busca de suas origens, ou ao menos para encontrar novos cenários.

Do lado de fora da baía, o mais novo de cabelos ruivos escorregava nos próprios pés, dando alguns passos em falso para trás, acabando por cair em cima de um monte de feno, tentando ao máximo disfarçar que ouvira a conversa do começo ao fim. Fingia arrumar os fiapos, parecendo um espantalho.

── Brigou com o Adad de novo não é? ── fiapos de feno caíram de sua barba enquanto falava.

── Aquele velho, será teimoso até em sua cova ── a mulher negou com a cabeça antes de dar uma gargalhada sincera ── Como se você não soubesse que brigamos, sempre ouve atrás da porta.

Gimli fez uma cara emburrada, com uma forte carranca, era muitas décadas mais velho e insistia em ser respeitado. Ela era sua irmãzinha, e não deveria o humilhar daquela forma. Se sentou sobre a própria bagunça de grama gelada, batendo os pés enquanto estufava o peito.

── Eu não ouço atrás da porta ── crispou os lábios.

── E o barulho alto de pés e de tropeço pertenciam aos ratos, não é mesmo? ── gargalhou ainda mais alto, vendo o outro se constranger.

── Sim aos ratos, pequenos e barulhentos por natureza ── insistiu na mentira, acabando por rir também.

𝐑𝐀𝐖𝐄𝐍𝐀, 𝐋𝐞́𝐠𝐨𝐥𝐚𝐬 𝐆𝐫𝐞𝐞𝐧𝐥𝐞𝐚𝐟.Onde histórias criam vida. Descubra agora