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𝐕𝐀𝐋𝐅𝐄𝐍𝐃𝐀.

A floresta de Rivendell era única, a luz e a pureza que emanava dos seres imortais fazia com que o lugar resplandecesse até mesmo durante a noite em alguns aspectos, a deixando mística. Com sua vegetação semelhante a joias anãs recém polidas, A Última Casa Amiga era um lugar de descanso e renovação. Suas flores nunca murcham ou sofriam dano pelo tempo, se tornando um tipo de paraíso eterno.

O caminho à planície élfica havia sido relativamente tranquilo. Não havia sinal de nenhuma leva de orcs e trolls, oque deixava a situação ainda mais enigmática sobre os planos de Sauron. No meio do caminho, se depararam com o filho de Daín que mesmo sendo um pouco mais novo que Gimli, representaria o pai na reunião.

── As árvores estão se mexendo!

Um dos anões exclamou ao ver as plantas tomando vida, com suas raízes fazendo o trabalho de seus pés, abrindo  passagem para os visitantes. A floresta reconhecia seus convidados, dizendo as más línguas que poderia enxergar seus corações. Rawena desceu de seu cavalo, temendo pisar em alguma planta no processo, admirando o lugar de clima reconfortante.

Ouviu ao longe barulhos de ferraduras esmagando a terra com velocidade, olhando para trás e se deparando com alguns cavaleiros que haviam chegado junto de sua comitiva. O primeiro com os cabelos loiros quase castanhos bem cortados e barba bem cuidada, permanecia sério, carregando um escudo circular em suas costas, trajava roupas nobres.

A mulher estreitou os olhos, não reconhecendo o brasão da família nem a quem pertencia, uma árvore branca, com seus galhos sem qualquer tipo de folhagem. Seus pensamentos foram esclarecidos após o encarar por longos segundos. Era árvore do rei, deveria ser um nobre de Gondor.

O portão abriu-se mais uma vez, revelando um segundo componente, que notou de imediato se tratar de um elfo. Suas roupas verdes eram incomuns, além de seus cabelos loiros platinados e as famosas orelhas pontudas. Um elfo de Mirkwood, onde estes eram menos sábios que os de Valfenda, sendo ainda mais perigosos.

A filha de Glóin não tinha nada contra elfos, pelo menos nada rigoroso. Sempre altivos e cheios de moralidade, suas ações a irritaram um pouco, mas nada que não pudesse controlar. Se os seres imortais não invadissem seu caminho, ela faria o mesmo por eles.

As três raças seguiram em direção ao grande palácio com os burburios se tornando mais frequentes a cada momento que se aproximavam.

Glóin ultrapassou a comitiva élfica, era mais justo que os anões prestassem seus préstimos ao senhor de Rivendell primeiro. O homem nanico esbarrou no herdeiro de Thranduil de propósito, com o outro suspirando pela atitude infantil. O anão apenas não contava que uma de suas bolsas de couro se abriria deixando com que um objeto valioso caísse nas pedras bem polidas do jardim.

Legolas abaixou-se em um ato de gentileza tomando o porta retrato prateado em seus dedos, fitando a pintura da silhueta feminina com cuidado. O objeto cairá na terceira pintura. 

── Isso é propriedade particular ── rosnou, não queria que suas coisas fossem maculadas por um elfo.

Uma memória tomou conta do anão, lembrava que teve uma conversa semelhante com o comedor de grama quando estavam na Floresta das Trevas. Legolas havia confiscado suas armas, e junto delas viu um pequeno porta-retrato com a foto de Gimli e sua esposa, onde despejou palavras nada gentis. Malditos elfos, não eram mais interessantes do que as vacas nas planícies verdejantes.

Havia uma foto de Rawena, fazendo uma pose orgulhosa, com seu melhor sorriso de dentição afiada nos lábios. A garota tinha completado sua maioridade, e Glóin pai orgulhoso que era, gostaria de fazer o mesmo que fez com Gimli, dedicando a terceira página do porta retrato para a garota. Seu nome aparecia abaixo com uma caligrafia redonda.

── Quem é Rawena? Sua filha? ──  seus olhos azuis piscaram devagar.

O peito de Legolas se agitou ao tomar a foto em suas mãos. Seus dedos finos tocaram a moldura de ferro de forma suave, parecia que conhecia a jovem da pintura a muitos anos, observando seus olhos castanhos com um estranho carinho.

Não pode evitar segurar a pintura com mais força, querendo tomar o pequeno papel para si mesmo. Estava com o corpo paralisado em frente a pequena comitiva, sem nenhuma reação, com os olhos vidrados na imagem da jovem.

── Eu sou a Rawena, devolva o objeto elfo.

Prendeu a respiração ao ver a dona daquele olhar pessoalmente. Os olhos castanhos o observavam de maneira hostil, seu  nariz fino marcava o rosto redondo com as bochechas avermelhadas pelo calor do meio dia.

Era muito alta para uma anã, poderia dizer que havia quase a sua altura, com seus cabelos negros abaixo dos ombros. Se recusava a admirá-la mais, poderia o achar um desavergonhado, ou coisa pior. Respirou em seco, tentando se conter, com as pontas de suas orelhas se tornando rubras.

── Ao menos está ouvindo? ── perguntou, com sua voz rude ── Devolva ── exigiu estendendo a mão.

── Eu… ── suas palavras morreram no ar.

Entregou o objeto de maneira rápida, percebendo que logo depois não prestavam mais atenção no assunto, decidindo apenas ignorá-lo. Gimli lhe lançou um olhar hostil, andando atrás dos dois para alcançá-los, segurando firme seu machado.

Elfos e anões tinham uma antiga, e duvidava da possibilidade disso se extinguir da noite para o dia, seriam necessários vários séculos de trabalhos árduos de ambas as raças, que no momento ao menos se preocupavam com a questão.

𝐑𝐀𝐖𝐄𝐍𝐀, 𝐋𝐞́𝐠𝐨𝐥𝐚𝐬 𝐆𝐫𝐞𝐞𝐧𝐥𝐞𝐚𝐟.Onde histórias criam vida. Descubra agora