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Os céus haviam chegado ao seu ápice de escuridão, com o silêncio noturno sendo quebrado por uma bela melodia que a brisa fria fazia sacudindo as copas das árvores. Alguns vaga-lumes iluminam a pequena trilha de pedras para adentrar a floresta élfica, esta que seguiu com cuidado, não querendo chamar atenção de nenhum estranho, ou tirar alguém de seu sono.

Era a primeira vez que se transformava em um ambiente mais quente, apesar de ainda ser inverno. Seus ossos doíam pelas contrações de ficar vários dias em sua forma humana, levando seus dentes a rangerem. A viagem até o reino dos seres imortais era longa e, seu cavalo era mais rápido que sua forma animal, de toda certeza.

Sua transformação parecia se fortalecer durante a noite, ouvindo perfeitamente os sussurros de sua alma, ligada à natureza de forma intensa. Sentia-se mais livre, com suas feições humanas sendo substituídas pelas do grande urso pardo aos poucos.

Os ursos dos Troca-peles eram bem maiores do que o real, encontrado nas redondezas, dando-lhe um ar de poder, com seus dentes enormes e olhos negros como as trevas. Apesar do tamanho, diria que tinha um bom controle sobre sua outra metade, quase entendendo perfeitamente os sentimentos da ursa, sabendo claramente oque acontecia em sua licantropia.

Andou dentre as grandes árvores com cuidado, já que eram sagradas. O solo tinha vida, e a vegetação sentimentos. Dizia-se que a alguns anos, elas dançavam e conversavam com os outros seres vivos, mas com o tempo, acharam melhor calar-se diante da humanidade.

Sentiu um cheiro leve no ar, andando alguns quilômetros tentando identificá-lo, uma curiosa mistura de alecrim e ervas como folhas de hortelã, que enlouqueceram seus sentidos, com sua ursa soltando barulhos semelhantes a um ronronar satisfeito.

A alguns quilômetros viu ao longe o elfo que esbarrara em seu progenitor à beira de um grande rio conhecido como Bruinen, em um trecho mais estreito deste. Suas mãos acariciavam as águas, criando elevações pequenas, como ondas. Legolas parecia distraído e, daquela distância duvidava que seria vista, mesmo pelos sentidos aguçados dos elfos. Passou um tempo observando-o, como seus cabelos brilhavam e seus olhos eram tão cristalinos como a água abaixo deste.

Mesmo que estivesse em uma distância segura, decidiu retornar a forma humana para se aproximar mais, em busca de observá-lo melhor. Suas roupas tornavam-se em trapos no meio de sua transformação, então mesmo que estivesse em sua original, continuava nua, por conta disso, pôs algumas roupas em um canto da estrada.

Se escondendo nos galhos de um pequeno arbusto, não sabia porque seu corpo se forçava a olhá-lo. Parecia que uma energia invisível a olho nu puxava-a para perto do loiro, com seus lábios se abrindo para balbuciar seu nome, estes que fechou de imediato, cerrando ambos os punhos na terra fresca. O elfo não era tão diferente dos demais de sua espécie para chamar-lhe tanto a atenção. Era alto, com o torso magro, seus traços eram delicados, mas evidenciaram sua masculinidade.

Sentiu vergonha por olhar alguém assim, mesmo que sem malícia, ainda achava errado, perturbador. Fitou o príncipe herdeiro de Thranduil mais uma vez sentado à beira do lago, imaginando no que pensava para estar tão concentrado, quando pareceu sair do transe se retirando dentre os galhos logo em seguida.

Enquanto isso, Legolas imaginava o rosto de Rawena, confuso sobre os acontecimentos na floresta, ignorou o fato da mesma estar atrás de si.

Seu cheiro era amadeirado como um dia chuvoso, sendo impossível ignorar seus passos pesados pelo chão, elfos tinham uma audição além dos Troca-peles, podendo sentir a presença de qualquer ser ao longe. Dentro de seu coração, fechou os olhos desejando que a mulher fosse falar consigo, porém ela não o fez.

Tentou de todas as formas ignorar o olhar da de cabelos castanhos sobre suas costas, mas não conseguiu. Não tinha certeza se aquela sensação era real como descreveram a ele a séculos passados, mas se fosse, lutaria até o fim por ter mais disto, desta calmaria, acompanhada de um feroz furacão de possibilidades longínquas.

── Onde estava? ── Gimli questionou assim que viu a mulher passar pela porta  ── O sol irá nascer no horizonte em algumas horas, as raças estão reunindo-se para o desjejum.

Seu rosto sério se tornou constrangido ao perceber que o tempo passou depressa enquanto espiava Legolas, optando por deixar seu irmão sem resposta. Iria olhá-lo mais uma vez na grande mesa do café da manhã, torcendo que apenas os deuses tivessem visto a cena vergonhosa que protagonizou.

── Desculpe, saí apenas para um volta ── coçou um de seus braços, não passando confiança ── Vamos nos abastecer, temos uma longa manhã pela frente e ouvi que, servem um tipo de pão especial por aqui. ── mudou de assunto.

── Pão élfico tem gosto e consistência de minhocas adormecidas ── riu da comparação do irmão ── Prefiro uma bela coxa de um frango gordo.

── Senhor Elrond nos aguarda ── andou ao lado do mais baixo, ouvindo-o ofender a culinária élfica.

Estava feliz por conhecer um lugar admirável como Valfenda, porém quando encarou uma criaturinha de cabelos negros encaracolados menor que Gimli em um dos corredores, uma imensa sombra se formou em seu coração. Deveria se lembrar do motivo de estarem naquelas terras, o pequeno, que carregava o um anel, de Sauron.

𝐑𝐀𝐖𝐄𝐍𝐀, 𝐋𝐞́𝐠𝐨𝐥𝐚𝐬 𝐆𝐫𝐞𝐞𝐧𝐥𝐞𝐚𝐟.Onde histórias criam vida. Descubra agora