𝐑𝐀𝐖𝐄𝐍𝐀, 𝐋𝐞́𝐠𝐨𝐥𝐚𝐬 𝐆𝐫𝐞𝐞𝐧𝐥𝐞𝐚𝐟.

𝟢𝟢𝟧.

── Porque eu não sabia da existência dela? ── franziu os lábios finos ── Eu deveria saber ── sussurrou, olhando a paisagem à sua frente.

O elfo tinha conhecimento sobre o amor único de sua espécie, que era um laço especial, ao encontrar a metade de sua alma, alguém que o faria ser completo para a eternidade. Porém, nunca tinha lido nos manuscritos algo sobre sua alma gêmea ser de outra espécie se não a élfica. 

Claro que havia sim elfos que se relacionam com outras raças, entretanto, não era algo comum, um exemplo disso era Aragorn e sua relação com a filha de Elrond, Arwen. Era um relacionamento complicado, ainda mais pela morte iminente de passo largo, que não era dada a imortalidade élfica, sendo um meio sangue.

O sentimento de encontrar a sua metade era único, como se várias águas atormentassem o seu ser, junto de um sopro de calmaria incomum. Seu corpo estava quente e seus lábios aflitos por mais contato, o deixando confuso com tantos sentimentos mistos.

Elfos apenas se apaixonaram uma vez, então teria cuidado com o solo desconhecido à sua frente. Não tinha noção de qual raça a mulher pertencia, seus parentes e princípios, apesar de ter certeza de que não era humana, ainda seria cauteloso.

── O que tanto lamenta em sussurros Legolas? ── Aragorn se aproximou ── Que tal compartilhar seus pensamentos para nos lamuriarmos juntos? ── sorriu pequeno, pondo uma mão em seu ombro.

O de cabelos loiros estava com uma feição desgostosa, olhando o amigo com receio. Desde que tinha sentido interesse pela chefe da guarda, Tauriel, nunca mais teve admiração por nenhuma outra mulher.

A paixão que pensava ter pela ruiva, não evoluiu para um amor complexo, porém, não evitou que sentisse dor pela rejeição ao ser trocado pelo herdeiro Durin. Cresceu com a outra desde criança, evoluindo juntos para se tornarem os grandes guerreiros que eram hoje, mas agora seus sentimentos eram fraternais, de amizade.

── Eu a encontrei, encontrei a outra metade de minha alma ── sorriu, botando uma mecha atrás da orelha ── Mesmo que não fosse exatamente como imaginei, ela é perfeita.

── A jovem que é seguida pela caravana anã? Tem certeza disso? ── o moreno perguntou curioso.

Ela não parecia o tipo de mulher que Legolas se interessaria, com passos rudes e semblante fechado, parecia ser do povo anão, tirando sua altura e tamanho, eram muito semelhantes.  

Mas também observou a coragem da jovem ao ser a única mulher a se oferecer para participar daquela tão difícil jornada na sociedade do anel. Sabia que mulheres anãs eram raras, e pelas guerras seu número tinha diminuído consideravelmente, então, se oferecer era um ato impensado de coragem. 

Não era do feitio das mulheres lutarem, um pensamento que era compartilhado pelos homens da época. Porém sabia que aquilo era um pensar antigo, apesar de algumas raças ainda compartilharem dele.

── Nunca tive tanta certeza, mas sempre supus que fosse uma elfa, ou outra criatura dada a imortalidade, mas não tenho certeza de sua espécie.   

── Pergunte a ela ── o de cabelos castanhos disse ── Ou o jovem príncipe de Mirkwood teme ser apanhado por sua timidez? ── deu um sorriso divertido.

── Temo assustá-la, se está junto do povo anão, pode compartilhar de seus pensamentos controversos contra os elfos ── suspirou cansado ── Mas deixe meus problemas de lado, há uma elfa que requer sua atenção ── implicou, dando um sorriso travesso de volta.

── Legolas quando se tornou assim tão direto? ── gargalhou baixo, constrangido.

── Temo ser graças a sua presença por todos esses anos ──  negou com a cabeça ainda com um sorriso nos lábios ── Agora vá e se prepare, devo ir também. 

[....]

Rawena arrumava o restante das provisões, pensativa sobre os perigos que enfretariam em sua jornada, refletindo se deveria levar o seu machado consigo ou não. Resolveu afiá-lo com sua lima, se sentando em uma das pedras do jardim, quando ouviu uma respiração próxima a sua. 

Seus olhos arregalaram-se, os elfos eram extremamente silenciosos, se culpando por não sentir o cheiro característico daquele povo. Legolas tinha um cheiro diferente, inebriante, que deixava seus sentidos em alerta de uma forma estranha. 

── Devo me desculpar por minhas ações mais cedo. Não era minha intenção deixar Glóin com raiva por minha curiosidade. ── o elfo lhe lançou um sorriso gentil.

── Acho que deve pedir desculpas pessoalmente a ele, não? ── continuou afiando o machado, sem olhá-lo.

── Temo que Glóin ao menos me deixe falar senhorita. ── suspirou ── Devo me apresentar corretamente, sou Legolas folhas verdes, filho de Thranduil, herdeiro de Mirkwood. 

── Rawena, filha de Glóin do povo da herança de Durin das montanhas azuis. 

Ainda era penoso responder esse título, ainda mais quando não pertencia a ele. Glóin era um anão honrado, a criou entre os seus com todas as dificuldades que aquilo poderia acarretar, tratando seus filhos igualmente, porém no fundo algo gritava que aquilo era errado, que não era merecedora desse amor.

As diferenças entre suas raças se manifestaram na pré-adolescência, quando a troca peles ultrapassou a altura dos anões, não muito tempo depois se transformando em um grande urso marrom que amedrontou a todos.

O anão tentou tirar todas as suas dúvidas quanto a sua espécie, mas nunca revelou quem eram realmente seus progenitores. Sempre que a pergunta vinha à tona, ele se tornava rude e mal humorado, sabia que ela deveria saber, mas se calava quanto a isso.

A única coisa que revelou, foi que a conheceu no reino anão da montanha solitária, perto de Dale, e o resto, dizia que cabia a ela descobrir. A Terra Média era enorme, com vários reinos desconhecidos, era quase impossível saber sobre.

── Filha de Glóin? ── deixou a surpresa transparecer em sua voz.

── Não deveria estar se preparando para a jornada? ── mudou de assunto de forma repentina ── Devo me retirar folhas verdes.

── Espere ── segurou seu braço no ímpeto, o largando assim que se deu conta do acontecido ── Perdão, mas realmente deseja partir conosco? Porque? ──

── Sim, há algo que desejo encontrar nessa jornada alteza, que desejo muito. 

── Também há algo que desejo muito nesta jornada, senhorita ── seu olhar se tornou intenso, parecendo olhar sua alma  ── Boa sorte.