Maria Vitória Mancini
Tinha acordado com a luminosidade do quarto, me mevantei espreguiçando, fui ao banheiro e depois de fazer xixi, acabei colocando a pasta de dente no dedo mesmo, segui pelo corredor e encontrei o Guilherme na cozinha.
– Bom dia - me sentei na bancada e peguei a garrafa de café. Ele me encarava e aquilo estava me deixando toda sem jeito.
Continuei comendo e ele parou na minha frente colocando a caneca sobre a mesa e pela sua expressão eu sabia que teriamos aquela conversa, então arqueei as sobrancelhas pra ele, como se dissesse - "comece, não vou ser eu a primeira a falar".
– Começamos isso pessoalmente, e não terminamos da melhor forma, mesmo que já tenha um tempo. Você é irmã de um dos meus melhres amigos, e além de tudo Mavi eu gosto da sua companhia, você se tornou importante. Acho que merecemos esclarecer tudo, e merecemos ter isso olhando um pro outro.
Eu escutava tudo com atenção e eu concordava, mas isso não muda o fato de como estou tensa, por um tempo eu fiquei muito magoada com ele, hoje olhando para trás, sei que a situação foi muito boba, quase inacreditável, mas nós dois erramos, não soubemos como lidar.
– Sabe, você não quis me ouvir - franzi as sobrancelhas – Sei que não tinhamos nada sério, mas você simplesmente apareceu e disse que era melhor parar com o que tinhamos, porque não estava legal e futuramente criariamos uma situação desnecessária para ambos. Acredito que eu merecia mais que isso como explicação.
Observei ele engolir em seco – Eu sei que te magoei, e mesmo com aquela chamada que tivemos, pra mim não foi suficiente, e fui babaca o bastante para não te procurar depois, então olhando no teu olho agora, eu te peço perdão. Não devia ter escutado terceiros, sei que não rolou, mas descobrir pelo seu irmão que você realmente iria se mudar, o dia já não estava o melhor e explodi com a pessoa errada.
Eu ri de leve, tinham inventado que eu tinha dormido com o Mateus, um cara chato que não me deixava em paz quando me via, e o Guilherme detestava, essa conversa fiada chegou no ouvido dele, que não assume até hoje o ciúme.
Pelo que eu tinha entendido o Mateus tinha deixado subentendido esse assunto em uma rodinha e o gato aqui caiu na pilha, eles já não se davam muito bem, depois disso que não prestou mesmo.
Mas eu não desmenti, fiquei tão puta e com ódio, que não neguei nada, Guilherme tinha chegado falando bosta e me dado um ultimato, sem me perguntar primeiro nada, então eu pensei, que se foda essa porra!
Depois de eu ter ido embora, uns dois dias depois ele me mandou mensagem e fizemos uma ligação, esclarecemos tudo e conversamos, mas era bom dizer isso assim, cara a cara.
– Sabe que isso passou né, você foi um babaca e eu não queria ver você nem pintado de ouro, mas ta no passado, raiva é um sentimento que requer muita energia, não sou dessas e realmente não quero que fiquemos nos estranhando sempre.
Eu já tinha colocado isso no meu coração, o tempo que convivi com o Guilherme, eu sabia sobre o jeito dele, fechado, desconfiado, na dele, e nunca falei isso com ele, mas sua defesa automática, é afastar as pessoas para não ser o machucado.
Me sentia mais leve até, ficamos em silêncio nos olhando e meu coração deu aquela acelerada, confesso que eu estava confusa, mas me colocar nessa situação novamente não estava nos meus planos, por mais que estivesse tudo bem, só eu sei o quanto tudo mexeu comigo.
– Eu não quero pressionar nada e quero o melhor pra você, então, vamos só deixar rolar. - disse com a voz baixa e rouca, estendendo a mão.
Acho que até nisso ele me conhecia bem, eu não me sentia pronta pra nenhum envolvimento, não queria entrar em algo que me trouxesse dúvidas e acabasse prejudicando não só a mim, meu foco 100% está na transição em estar de volta, minha faculdade, eu não queria estragar tudo.
Aceitei o aperto de mão, que com uma leve puxada me colocou no meio de suas pernas. Passei um braço pelo seu ombro e o outro pela cintura, e senti ele fazendo o mesmo, encaixei minha cabeça no seu pescoço e deixei um cheiro, sentindo seu arrepio.
– Desgraça atentada - eu ri, mas continuei ali – Não to com pressa linda, quando cê quiser dá uns pega cê me fala.
Não consegui me segurar e soltei uma gargalhada, dei um leve empurrão no seu peito – Larga de ser besta.
Como era sábado, acabamos passando o dia na fazenda, depois da conversa relaxamos e não tocamos mais no assunto, matei a saudade de montar e dei umas passadas em alguns animais com o Guilherme assistindo, até bateu uma saudadezinha de quando eu entrava em pista.
Almoçamos com o Edu e Luiza, ela tinha feito uma lasanha e convidou a gente, tava maravilhosa, aproveitei que o clima estava bom, e acabei me retirando para tirar um cochilinho de tarde.
[...]
Sentia alguém me cutucando e me chamando – Bora fia, acorda preguiça.
Abri os olhos devagar e enquadrei o Guilherme de pé, murmurei algo desconexo, e procurei pelo meu celular, vendo que eram 17:30pm.
– Dormiu a tarde inteira, se troca, pra gente vazar.
Concordei com a cabeça me levantando, eu tinha tomado banho de manhã, então só troquei de roupa e coloquei a que eu tinha vindo, fui me despedir do Edu e Luiza, agradeci pela roupa e encontrei o Guilherme já esperando com a caminhonete ligada, o primo dele tinha vindo de madrugada mas foi embora cedo.
Entrei no carro, ajustando o banco e fechei o ar condicionado do meu lado, isso tava igual um iglu. O celular do Gui estava conectado no som e tocava um sertanejo baixinho.
Eu ainda estava meio que dormindo, não tinha acordado totalmente, fomos conversando e eu tinha falado com o Leo por mensagem e ele disse que não estava em casa, só iria chegar mais tarde, e se chegasse. Confesso que estou esperando o momento do pedido oficial do meu casal favorito.
– Obrigada pelo dia - agradeci quando ele parava na porta de casa, já tirando o cinto e pegando a minha bolsa, ele arqueou as sobrancelhas me encarando, segurei o sorriso, puxei a mão de volta da maçaneta e o abracei, deixando um beijo na sua bochecha. – Tchau, toma cuidado.
Ele acenou com a cabeça me respondendo – Sempre tomo - e só arrancou para sair quando eu estava dentro do prédio.
Realmente não sabia se ele fazia idéia do quanto ele chamava atenção só por causa desse jeito dele, calado, cara fechada e mais marrento impossível, próprio combo de problema.
Entrei no apartamento indo direto para o meu quarto, tomei outro banho, e antes de me deitar fui a cozinha preparar um omelete, eram 20:00 e eu já estava indo dormir, tinha mandado uma mensagem para o meu irmão avisando que eu já tinha chegado e depois de comer fui direto para a cama.
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