Maria Vitória Mancini
Não sei ao certo quando o Guilherme caiu no sono, ele tinha inclinando o seu banco para trás e dormia meio de lado virado de frente pra mim.
Eu estava parada no sinal vermelho e nesse meio tempo acabei observando, meio de canto de olho. A barba por fazer que deixava seu maxilar mais marcado, as sobrancelhas grossas levemente tensionadas e a respiração lenta.
Não era possível uma praga dessa ser tão lindo.
Quando me dei conta do meu pensamento não consegui segurar uma leve careta.
Voltei minha atenção para o trânsito, e dei seta entrando na sua rua, ele não tinha dado sinal nenhum de que acordaria, então para não ficar no meio do caminho, abri a garagem e estacionei lá dentro.
Fui me desfazendo do cinto e susurrei baixinho.
– Ei, acorda.Me julguem, mas não consegui me segurar. Passei a mão pelo seu cabelo o sentindo entre os meus dedos. – Chegamos.
Ele despertou e eu retirei rapidamente, Guilherme encarou ao redor reconhecendo onde estávamos, se levantou arrumando o banco passando a mão pelo rosto, dizendo com a voz rouca. – Eu capotei de verdade. Vi mais nada.
– Cê tem que descansar mesmo, sobe pra tomar um banho. O remédio fez efeito?
– Sim, to um pouco aéreo mas deve ser o efeito dele e sono, a dor passou.
Descemos do carro e peguei a minha mochila no banco de trás, e senti ele me encarar.
– Ta pegando mochila por que?
– Ué, to pedindo por um carro. - apontei o meu celular. – Você já está entregue.
Ele arqueou as sobrancelhas sério. – Não vai pegar carro nenhum, você sobe, depois te levo embora.
Dessa vez foi a minha vez de arquear as sobrancelhas.
– Eu vou subir para tomar um banho Maria Vitória, pede uma pizza, a gente vai comer e depois te levo embora pra casa. - apontou as mãos para o elevador esperando que eu passasse na sua frente.
Caralho. É sério isso?!
– Não adianta ficar bufando não.
– Sabe, quando não tenho a vossa senhoria para ser o meu choffer, o Uber é muito mais que bem vindo - eu disse debochada.
De frente para o outro, já no elevador ele me respondeu baixo.
– Quando não tem. Hoje você tá comigo.
Saímos e fomos em direção ao seu apartamento, tinhamos pedido a pizza pelo Ifood, e demoraria 35 minutos para chegar.
– Você já conhece tudo, fica á vontade.
– Já que eu trouxe a mochila, vou aproveitar e tomar um banho. Tudo bem pra você?
– Claro, quer me fazer companhia?
Revirei os olhos. – Dispenso, prefiro o banheiro do quarto de hóspedes.
