Capítulo 43

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Lena recostou a cabeça na água com um suspiro de satisfação. Quando Kara sugeriu uma preguiçosa viagem de barco rio abaixo – provavelmente a última do verão – Lena ficou estranhamente desapontada por não ter oferecido o lago. O lago e nadar pelada. Mas depois do encontro de ontem, talvez nadar pelada não fosse a melhor opção. Além disso, flutuando no rio como estavam, seria um momento perfeito para conversar. Nenhuma delas poderia fugir, poderia ir embora. Se isso era uma boa ideia ou não, ela não tinha certeza. Mas ela sentiu que elas precisavam conversar. Ignorar o que estava acontecendo não resolveria nada. O problema era que ela não tinha ideia de como começar. Ela respirou fundo. É melhor pular com os dois pés e ver o que acontece.

Ela olhou para Kara, que estava a poucos metros dela. Os cães estavam na margem, farejando junto a um cipreste. O rio estava ficando mais baixo, o fluxo diminuindo ainda mais. Ela remou até Kara, segurando sua boia, mantendo-as juntas. Kara olhou para ela com expectativa.

"Alguma coisa está acontecendo comigo", disse ela. Provavelmente não foi a melhor das falas, mas foi um começo.

Kara ergueu as sobrancelhas, mas não disse nada.

"Sinto que todas essas mudanças estão acontecendo dentro de mim." Ela encontrou seus olhos. "Não sei o que fazer a respeito."

Kara ergueu a mão. "Lena, não precisamos conversar sobre isso."

"Não?" Ela estendeu a mão e pegou a mão de Kara. "Você está atraída por mim, Kara?"

Kara tinha uma expressão de pânico no rosto. "Não! Claro que não. Quero dizer... você é a mãe de Leo. Ele... eu... quero dizer..."

Lena apertou sua mão, interrompendo sua frase desconexa. "Está tudo bem em me dizer a verdade."

Kara balançou a cabeça. "Olha... sim, nós nos aproximamos. Eu sei que ..., mas eu estou... eu estou... você está..."

"Kara, é uma pergunta simples que exige uma resposta sim ou não. Não preciso de explicação de um jeito ou de outro. Por favor, apenas me diga."

Ela viu Kara engolir em seco, sentiu seu nervosismo. "Sim. Sim eu estou."

Lena assentiu. Sim. Ela ficou surpresa com o quão grata estava porque a resposta era sim e não, não. Ela soltou a mão de Kara, inclinando a cabeça para trás para olhar para o céu azul, um céu que tinha algumas nuvens flutuando.

"Minha colega de quarto na faculdade queria que eu saísse com ela. Tipo... em um encontro", disse ela. "Moramos juntas por dois semestres. Mas eu já tinha conhecido Danny, estávamos namorando." Ela olhou para Kara. "Eu não pensava nela há muito tempo. Mas agora... bem, penso nela e em nós morando juntas e me pergunto - se eu não tivesse conhecido Danny - eu teria saído com ela?" Ela encolheu os ombros. "Não sei. Não sei." Ela limpou a garganta. "Eu também estou atraída por você. Não tenho certeza do que fazer sobre isso. Não sei onde colocá-la. Não sei se é apenas tudo o que aconteceu comigo, com você. Não sei se foi isso que nos uniu."

Ela encolheu os ombros novamente. "Não sei. Chegamos tão perto neste verão, mas é só isso?" Ela sustentou o olhar de Kara. "Eu vejo você assim... de biquíni. Vejo você quando estamos nadando peladas... e..." Ela sorriu. "Bem, eu tenho... pensamentos inapropriados", ela admitiu rindo. "E, por favor, não me peça para lhe dizer o que são."

Kara também deu uma risada tranquila. "Estamos... estamos realmente falando sobre isso?"

"Sim. Eu penso que sim. Acho que precisamos conversar sobre isso. Podemos continuar fingindo que não há nada aqui", disse ela, apontando entre elas. "Mas estaríamos mentindo. Não sou cega, Kara. Eu vi o jeito que você olha para mim." Quando um rubor iluminou o rosto de Kara, Lena agarrou seu braço. "Não, eu não queria envergonhar você. É só que... eu vejo isso. E se você não consegue ver o mesmo quando olho para você..."

"Eu vejo. Eu só não sabia se era real ou não."

"Não sei se é real", ela disse honestamente. "Eu não sei de nada. Eu só sei... estar com você me deixa mais feliz do que não estar com você. Este fim de semana – em Metrópolis – foi interminável." Ela deixou sua mão esfregar no braço de Kara. "E caso você não tenha notado, eu gosto de tocar em você. Isso me assusta."

Kara sorriu. "Eu notei. Isso também me assusta."

Lena retribuiu o sorriso, deixando seus dedos se entrelaçarem. "Estou feliz por termos conversado sobre isso. Não sei se adiantou alguma coisa ou para que propósito serviu, mas pelo menos está tudo explicado". Ela apertou os dedos. "Não quero que as coisas mudem entre nós, Kara. Eu não quero que você fique se protegendo. Não quero que você pense que tudo que você faz, fala, que eu vou tomar o caminho errado. Ou eu... não quero que mudemos. Eu preciso da sua amizade acima de tudo. Preciso do que temos agora. Só não sei se preciso de mais. Se você precisa de mais."

"Lena—"

"Isso me assusta muito. Leo... o que Leo pensaria? O que ele faria?"

"Não vamos fazer isso", disse Kara. "Talvez tenhamos ficado juntas por causa da nossa dor. Nós nos curamos juntas. Talvez estejamos lendo demais sobre isso."

"Você acha?"

"Não sei. Talvez?"

Lena assentiu. "Talvez sim. Talvez seja só isso." Então ela sorriu. "O fato de você ficar fabulosa de biquíni – e melhor sem ele – não tem nada a ver com isso."

Kara riu. "Bem, seios perfeitos e tudo", ela brincou.

Lena apertou os dedos novamente. "Adoro que possamos conversar sobre isso. Poder brincar sobre isso. Mas eu não sei..."

"Nenhuma de nós sabe, Lena. Se acontecer, aconteceu."

"E está tudo bem para você?"

"Honestamente, eu não sei. Preciso de você na minha vida. Mas se eu precisar de mais... e você não puder me dar mais... então não sei. Acho que cruzaremos aquela ponte quando chegarmos lá."

Lena não disse nada, pensando, sim, essa era a coisa lógica a fazer. Se — quando — a situação surgisse, elas lidariam com ela então. Ela tinha medo de que isso acontecesse com elas mais cedo ou mais tarde.

KARLENA - Quem De Nós DuasOnde histórias criam vida. Descubra agora